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Coronavírus

MPF pede multa a Bolsonaro por descumprir quarentena

Presidente caminhou por ruas do Distrito Federal e arredores e estimulou pessoas a retornarem ao trabalho no último domingo.

30 mar 2020 - 12h46
(atualizado às 13h06)
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Bolsonaro em saída no domingo por Ceilândia e Taguatinga; MPF quer que ele seja multado
Bolsonaro em saída no domingo por Ceilândia e Taguatinga; MPF quer que ele seja multado
Foto: Reprodução/Twitter / BBC News Brasil

O Ministério Público Federal (MPF) pediu à Justiça que aplique uma multa de R$ 100 mil ao governo federal após o presidente Jair Bolsonaro caminhar por ruas do Distrito Federal no domingo (29/03) e estimular pessoas a retornarem ao trabalho.

Em pedido à 1ª Vara Federal de Duque de Caxias (RJ), o MPF (em solicitação assinada pelo procurador Julio José Araújo Junior) diz que Bolsonaro descumpriu uma decisão judicial da mesma vara - tomada na sexta-feira (27/03) - que havia determinado que a União se abstivesse "de adotar qualquer estímulo à não observância do isolamento social recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde)".

No domingo, Bolsonaro visitou ao menos três pontos do Distrito Federal, onde conversou com comerciantes e consumidores.

"Esse isolamento horizontal, se continuar assim, com a brutal quantidade de desemprego que vem pela frente, teremos um problema seríssimo, que vai levar anos para resolver", afirmou Bolsonaro ao público que o assistia.

Ele divulgou no Twitter vídeos gravados durante o giro. A plataforma apagou uma das gravações, argumentando que o conteúdo violava suas regras.

O Twitter anunciou recentemente que passou a deletar posts que possam ampliar os riscos de transmissão da covid-19 e que destoem das orientações de profissionais de saúde.

Suspensão de decreto

Na sexta-feira, o juiz Márcio Santoro Rocha, da Justiça Federal em Duque de Caxias (RJ), suspendeu um decreto de Bolsonaro que definia como serviços essenciais casas lotéricas e templos religiosos.

Com o decreto, Bolsonaro buscava permitir que lotéricas e igrejas continuassem em funcionamento mesmo durante a vigência de quarentenas determinadas por autoridades estaduais e municipais.

Na decisão de sexta, que atendeu um pedido do MPF, Rocha argumentou que templos e lotéricas estimulavam a aglomeração e a circulação de pessoas, ampliando os riscos de propagação da covid-19.

O juiz ordenou então que a União se abstivesse de editar novos decretos que tratem de atividades e serviços essenciais sob pena de multa de R$ 100 mil.

A decisão também se aplicava ao município de Duque de Caxias (RJ).

Para o MPF, no entanto, a União descumpriu a sentença.

'Promovendo aglomerações'

No pedido enviado à Justiça nesta segunda, o MPF diz que, apesar da determinação para não estimular o descumprimento do isolamento, "o Presidente da República realizou caminhadas em cidades-satélite do Distrito Federal, promovendo aglomerações e estimulando a volta ao trabalho".

O MPF também citou reportagens segundo as quais Bolsonaro cogita tomar decisões para permitir que todos os profissionais voltem ao trabalho.

Segundo o órgão, o presidente sinaliza a intenção de descumprir o trecho da decisão judicial que o proibia de editar novos decretos sobre serviços essenciais.

O MPF pede que a União seja imediatamente multada em R$ 100 mil e que a Justiça amplie para R$ 500 mil o valor de eventuais multas futuras caso o governo volte a violar a decisão judicial.

O Palácio do Planalto ainda não se pronunciou sobre o pedido do MPF.

Em outra decisão judicial recente, Bolsonaro também foi proibido de veicular uma campanha publicitária estimulando pessoas a retornar ao trabalho.

Um vídeo da campanha, intitulada "O Brasil não pode parar", chegou a ser divulgado pelo Twitter na conta do senador Flavio Bolsonaro (Republicanos-RJ), mas foi retirado do ar.

Na decisão, a juíza Laura Bastos Carvalho afirmou que "o incentivo para que a população saia às ruas e retome sua rotina, sem que haja um plano de combate à pandemia definido e amplamente divulgado, pode violar os princípios da precaução e da prevenção, podendo, ainda, resultar em proteção deficiente do direito constitucional à saúde, tanto em seu viés individual, como coletivo".

A Secretaria de Comunicação da Presidência da República afirmou que o vídeo foi feito "em caráter experimental" e que não há qualquer "campanha do Governo Federal com a mensagem do vídeo sendo veiculada por enquanto".

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