Novo coronavírus chega a 90 pequenas cidades paulistas
Nenhum desses municípios tem leitos de UTI e avanço da doença pelo interior preocupa autoridades e especialistas
De acordo com o pesquisador Raul Borges Guimarães, especialista em geografia da saúde da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a covid-19 pode intensificar o fluxo de pacientes das pequenas cidades para os centros maiores do interior, gerando excesso de demanda.
São Paulo tinha até este sábado 44.411 casos positivos e 3.608 mortes por coronavírus. Segundo dados da secretaria, a cada dez vítimas fatais, quatro residiam no interior. A doença já atingiu 409 dos 645 municípios paulistas e houve óbitos em 176.
Mas os números reais podem ser ainda maiores. Pesquisa do Ministério Público de São Paulo (MPSP) indicou que os dados da Secretaria Estadual da Saude são divulgados até seis dias depois do registro dos casos pelas prefeituras. Conforme a pasta, o atraso se deve à necessidade de checar e processar os dados.
No sábado, a pequena Jaci, de 7.067 habitantes, entrou na lista de cidades com óbitos. A vítima, um sacerdote franciscano de 36 anos, morreu após ser internado no Hospital de Base de São José do Rio Preto. A Diocese de Rio Preto confirmou a morte de frei Paulo Fernando Meneses, após ser diagnosticado com o coronavírus. O frei foi enterrado neste domingo (10), em cerimônia restrita a dez frades no cemitério municipal de Jaci. A morte ainda não entrou na lista oficial do Estado.
O número de cidadezinhas com óbito pela covid-19 dobrou em dez dias. Até o dia 1º, estavam na lista Arandu (2 mortes), Iepê, Caiabu, Santo Antônio da Alegria e Lavrinhas. Agora, além de Jaci, já têm óbitos Santo Antônio do Pinhal, Uchoa, Pedrinhas Paulista e Rincão. Entre as pequenas cidades que já tiveram o vírus está a segunda menor do Estado - Uru tem 1.177 habitantes e só é maior que Borá, com 837 habitantes, que ainda não teve registro da doença. União Paulista, com 1.844 moradores, registrou o primeiro caso esta semana. Em Paulistânia (1.833), já são duas pessoas doentes.
Conforme o pesquisador da Unesp, como a disseminação da doença se dá de uma forma hierárquica - dos grandes centros para as cidades menores -, quando uma pequena cidade registra casos, significa que a circulação do vírus está alta no seu entorno. "As capitais regionais exerceram o papel de disseminar a doença para os municípios menores sob sua influência direta. Como nessas pequenas cidades falta capacidade de atendimento hospitalar, elas vão gerar um fluxo maior de pacientes para os polos regionais, que já têm alta demanda própria para atender", justificou.