O que é investigado na Saúde do Rio de Janeiro?
Indícios de irregularidades em contratações emergenciais já motivaram operações da Polícia Civil, PF, MP e da Força Tarefa da Lava Jato
Desencadeada para apurar indícios de desvios de recursos públicos que seriam aplicados no combate ao novo coronavírus, a Operação Placebo, da Polícia Federal, cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e à administração pública estadual. No entanto, a ação desta terça-feira, 26, não foi a primeira a investigar desvios de recursos que deveriam ser aplicados na saúde.
No dia 7 de maio, o ex-subsecretário de Saúde do Estado, Gabriell Neves, foi preso em uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público estadual. A operação Mercadores do Caos prendeu também outras três pessoas, suspeitas de integrarem um esquema para superfaturamento em compras emergenciais de respiradores. O ex-número 2 da Saúde do Rio, que centralizava as compras de equipamentos no Estado, fechou contrato de R$ 9,9 milhões por 50 aparelhos.
O escândalo levou o governador a exonerar o ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, que, porém, foi nomeado logo depois para comandar outra pasta, voltada para o acompanhamento de ações de combate à covid-19.
Já no dia 14 de maio, a Polícia Federal desencadeou uma nova etapa da Lava Jato, batizada como "Favorito". Nela, foram presos o ex-deputado estadual Paulo Melo, que já presidiu a Assembleia Legislativa do Rio, e o empresário Mário Peixoto, apontado como figura 'do capo' de organização criminosa investigada por supostos desvios na saúde do Rio.
Na representação apresentada à Justiça para abertura da ofensiva, o Ministério Público Federal apontou indícios de participação ou influência do empresário sobre a Organização Social IABAS, contratada pelo Estado do Rio de Janeiro implantação de hospitais de campanha para tratamento de pacientes contaminados pelo novo coronavírus.
Os investigadores da Favorito interceptaram mensagens do empresário Alessandro Duarte, apontado como principal operador de Peixoto, e de Juan Neves, apontado como contador do grupo criminoso, referentes ao dia seguinte à contratação do hospital. Os emails contém planilhas com números detalhados dos custos dos hospitais de campanha implantados pelo IABAS, arquivos detalhando o cronograma físico de implantação dos hospitais de campanha e documentos com custos detalhados de aquisição de equipamentos médicos e de serviços de infraestrutura.
Simultaneamente à operação, o MP também realizou no dia 14 operação para investigar contratos na área de Saúde. As ofensivas tiveram um alvo em comum: o empresário Luiz Roberto Martins, preso na ocasião. Controlador de Organizações Sociais (OSs) que atuam em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) no Rio por meio de contratos com o governo, Martins é acusado de comandar uma organização criminosa que produzia contratos superfaturados para o fornecimento de refeições às unidades. Segundo a Promotoria, o grupo acusado de peculato e organização criminosa teria desviado R$ 3,9 milhões dos cofres públicos.