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Coronavírus

O que explica a queda do desemprego

Especialistas apontam que retomada econômica pós-pandemia impulsionou emprego, mas ressaltam que salários estão baixos

31 ago 2022 - 15h32
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A taxa de desemprego vem registrando sucessivas quedas no Brasil. Dados da Pnad Contínua divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira, 31, mostram que, no trimestre encerrado em julho, a taxa de desemprego teve nova redução, ficando em 9,1%. É o menor patamar desde dezembro de 2015. Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, um dos principais fatores que estão contribuindo para a absorção da mão de obra pelo mercado de trabalho é a retomada econômica pós-pandemia.

Segundo especialistas, sazonalidade desfavorável foi um dos fatores a impulsionar a desocupação.
Segundo especialistas, sazonalidade desfavorável foi um dos fatores a impulsionar a desocupação.
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil / Estadão

"Ainda que as variáveis macroeconômicas não estejam no melhor patamar, o sucesso do programa de vacinação e a volta da mobilidade, com as pessoas voltando a circular, impulsionaram uma recuperação no mercado de trabalho", afirma Rodolpho Tobler, economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). "E essa recuperação se dá principalmente no setor de serviços e no comércio, que ficaram muito impactados pelas restrições em meio à pandemia", diz.

Outros fatores contribuíram para um aquecimento da economia na primeira metade de 2022, segundo Tobler, como a liberação de recursos com a antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS e a liberação do FGTS. Injetando recursos na economia, o consumo aumenta e o mercado de trabalho reage favoravelmente, com mais contratações.

Mão de obra mais barata

Mesmo com um aumento das contratações, porém, Tobler aponta que o mercado de trabalho ainda tem inúmeros desafios. "Encaramos a queda no desemprego com cautela. Porque temos a informalidade, que ainda é alta. Também temos uma recuperação do emprego formal, mas o rendimento médio dos trabalhadores ainda é muito baixo. São pontos importantes", explica.

A renda média real do trabalhador foi de R$ 2.693 no trimestre encerrado em julho, segundo a Pnad, aumento de 2,9% na comparação com junho - ainda assim 2,9% abaixo do nível registrado no mesmo período do ano passado. "Foi uma pequena recuperação, mas ainda está muito baixo. As pessoas estão voltando ao mercado de trabalho, mas aceitando trabalhar por um salário menor. A inflação ainda está elevada e acaba pegando boa parte desse rendimento, então as pessoas ainda estão com o seu orçamento muito apertado", diz Tobler.

Juliana Inhasz, professora e coordenadora do curso de Economia no Insper, aponta que os salários mais baixos desempenham papel essencial na queda do desemprego. "O desemprego cede em cima de uma mão de obra que hoje está mais barata, com uma renda menor. Os elementos de recuperação econômica, aliados à alta dos preços e aos salários congelados ou menores, geram espaço para mais contratações", afirma.

A professora também destaca a questão da informalidade e chama a atenção para a "queda de qualidade" dos empregos. "O que aumenta majoritariamente é o emprego informal, a informalidade está bem forte no País. Muitas vezes as pessoas trabalham períodos mais curtos do que gostariam de trabalhar ou então trabalham de forma temporária, além, é claro, dos salários reduzidos. Então a qualidade desse emprego acaba sendo um pouco mais baixa", declara.

Taxa de desemprego vem registrando sucessivas quedas no Brasil; especialistas apontam retomada econômica pós-pandemia como um dos principais fatores. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Para Juliana, a taxa de desemprego deve continuar em queda, mas deve haver uma desaceleração, porque o mercado tem absorvido bastante gente, o que faz com que os estoques de postos de trabalho diminuam. "Não temos hoje um crescimento econômico elevado que justifique uma maior absorção de mão de obra daqui para a frente. A taxa deve continuar caindo, mas em ritmo bem menor. A queda do desemprego é ótima e temos que entender esse número como um sinal de que a economia está andando para frente, mas sem esquecer que essa economia ainda está bem distante de ser a economia que a gente gostaria, com a recuperação do emprego que a gente gostaria de ver", afirma.

Rodrigo Tobler, da FGV, concorda que a recuperação observada no mercado de trabalho não deve se manter por muito tempo. "Com um maior controle da pandemia, o que vai ditar o ritmo do mercado de trabalho daqui pra frente é a economia. E o aquecimento da economia que vimos, principalmente do final do primeiro para o segundo trimestre, não deve durar o ano todo, com inflação e juros altos também contribuindo para segurar esse crescimento e desacelerar. No final do ano, temos as festas, com contratações temporárias, mas a tendência é que já na virada para 2023 possa ter uma piora, com a taxa de desemprego voltando a subir. Não deve ser algo muito alto, como observamos no auge da pandemia, mas agora deve estabilizar e passar a ter alguma alta na virada para o ano que vem", conclui.

Estadão
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