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Coronavírus

"Planos estaduais de vacinação vão contra a base do SUS"

Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, disse que o Ministério da Saúde cometeu 'falha básica de organização' no plano nacional.

15 dez 2020 - 00h32
(atualizado às 07h31)
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O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse na noite desta segunda-feira, 14, que planos de vacinação elaborados separadamente por Estados vão contra a base do Sistema Único de Saúde (SUS), que é uma "construção federada". Esse modelo, disse ele no programa Roda Viva, pode levar até a questionamentos jurídicos constitucionais. Mas, na sua visão, isso tem acontecido diante de uma "falha básica de organização" por parte do Ministério da Saúde.

Covas foi questionado no programa sobre o prejuízo que os planos estaduais de vacinação podem representar ao princípio da igualdade previsto pelo SUS. "Isso vai contra as bases em que o SUS foi construído. À União cabe financiar as ações, aos Estados organizar as ações e ao município executar. Essa é a organização tem funcionado até então. Qualquer coisa fora dessa organização vai criar problemas inclusive para a ordem constitucional", declarou.

Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes
Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes
Foto: Divulgação/Governo do Estado de SP / Estadão Conteúdo

O Butantan desenvolve junto com o laboratório chinês Sinovac a Coronavac, que se encontra na fase 3 de estudos no Brasil. Com base nesse imunizante, o governador João Doria (PSDB) anunciou a previsão para início da vacinação no Estado para 25 de janeiro. Covas disse nesta segunda-feira que se um brasileiro se sentir prejudicado diante da estratégia dos planos estaduais, com um Estado iniciando a vacinação antes do outro, "ele pode requerer e seguramente vai encontrar abrigo na Justiça".

O diretor afirmou que o anúncio do planejamento por parte do governo de São Paulo foi importante por trazer atenção para o assunto. "Como um país que está muito próximo de ter uma vacina não leva isso em consideração?", questionou o diretor.

Ele disse que vem sendo procurado por políticos, a quem tem dito que o planejamento se mantém para uma incorporação da Coronavac ao Plano Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde. "A suplementação da vacina para os Estados e municípios deve ocorrer se não acontecer essa incorporação. O organismo central, que é o Ministério da Saúde, ele falhou na sua função básica de organizar essa vacinação", reforçou.

"A discussão que foi provocada pelo lançamento do plano estadual foi muito oportuna e movimentou os agentes políticos e agora estão procurando uma solução. Acredito que essa solução deva vir com a incorporação de todas as vacinas disponíveis ao programa nacional, esse é o caminho", explicou o diretor do Butantan.

Covas lembrou que há um memorando de intenção assinado com o Ministério desde setembro, e que não houve uma decisão formal por parte da pasta de desfazer esse entendimento. "Não houve contramedida", disse. O comentário ocorre no contexto da reação do presidente Jair Bolsonaro ao imunizante, que publicamente desautorizou o ministro Eduardo Pazuello a adquirir as doses.

No plano entregue ao Supremo Tribunal Federal, o ministério não esclarece efetivamente a questão. No trecho do plano em que lista as vacinas "já garantidas", o governo federal não cita a Coronavac. Em outra parte do documento, porém, o ministério afirma que "disponibilizará crédito extraordinário para aquisição de toda e qualquer vacina que adquira registro de forma emergencial ou regular que apresente eficácia e segurança para a população brasileira", o que abre brecha para que a Coronavac seja comprada caso se mostre eficaz e obtenha aprovação da Anvisa.

O Ministério da Saúde tem falado que cabe ao governo federal organizar a vacinação e a gestão Jair Bolsonaro prepara Medida Provisória para liberar R$ 20 bilhões para comprar imunizantes contra o Coronavírus.

Estadão
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