Pobreza aumenta na Argentina com recessão agravada por Covid-19
Gustavo Delgado caminha todos os dias de sua casa em La Boca, um bairro de operários em Buenos Aires, até um armazém comunitário próximo para encontrar a única comida que ele e sua família com certeza conseguirão comer naquele dia.
Delgado, um faxineiro de 52 anos, perdeu o emprego depois que a empresa para a qual trabalhava faliu devido à Covid-19. Sem conseguir encontrar um novo trabalho até o momento, ele mora em uma pequena casa com sua esposa e neta. O aluguel está há três meses atrasado.
"A empresa nos forçou a pedir demissão e aceitar a indenização miseravelmente pequena que estavam oferecendo. Isso apenas nos sustentou por alguns dias", disse ele.
O desemprego subiu para 11,7% no terceiro trimestre, ante 9,7% no mesmo período de 2019, mostraram dados do governo nesta quinta-feira.
A recessão argentina, iniciada em 2018 por desconfiança dos investidores na política econômica do ex-presidente Mauricio Macri, se agravou em 2020 com a Covid-19.
O presidente Alberto Fernández, que assumiu o cargo há cerca de um ano, colocou o país em lockdown em março. Muitas dessas restrições foram suspensas, mas o vírus continua a se propagar, com mais de 41.365 mortes até o momento.
A pobreza, segundo a Universidade Católica Argentina (UCA), aumentou no terceiro trimestre e atinge 44,2% dos argentinos, ante 40,8% um ano antes.
"Muito do aumento da pobreza é explicado como consequência da pandemia e das medidas que o governo usou para contê-la", disse Juan Ignacio Bonfiglio, pesquisador do Observatório Social da UCA, que conduziu a pesquisa.
A situação também "teve impacto no mercado de trabalho, em particular nas ocupações menos estruturadas e no setor informal da economia", disse.
De acordo com a última pesquisa com analistas do banco central, a economia vai encolher 10,9% neste ano, antes de uma recuperação de 4,8% em 2021.