Polícia investiga casos de aplicação de "vacina de vento"
Profissionais de saúde são suspeitos de desvios de dose do imunizante contra o novo coronavírus no Rio de Janeiro
A Polícia do Rio de Janeiro e o Conselho Regional de Enfermagem do Estado (Coren-RJ) abriram investigações sobre profissionais de saúde suspeitos de desvios de doses de vacina contra o coronavírus que aplicaram a chamada "vacina de vento" em idosos que foram a locais de vacinação para serem imunizados contra a covid-19.
Ao menos três casos de doses da vacina de vento, em que as seringas estavam sem imunizante, foram registrados na capital fluminense e nas cidades de Niterói e Petrópolis, de acordo com vídeos das aplicações.
"Recentemente, nos chegam denúncias, algumas delas, inclusive, exibidas pelas mídias, de que profissionais estariam atuando em desconformidade técnica e ética, seja inobservando as normas técnicas de vacinação, ou, supostamente, envolvidos em desvios de doses com aplicação falsa do imunobiológico", afirmou o Coren-RJ em nota, acrescentando que mantém contato com a polícia e prefeituras para avançar nas apurações.
Os técnicos de enfermagem envolvidos nos casos foram afastados das funções, e os idosos que tomaram a vacina de vento foram devidamente vacinados contra a Covid-19 posteriormente, segundo autoridades locais de saúde.
Os técnicos de enfermagem alegaram que não houve dolo e apenas erros não intencionais, de acordo com o Coren.
A polícia fluminense também abriu inquérito para apurar as denúncias de vacinas de vento.
"Os policiais requisitaram às prefeituras informações sobre as doses aplicadas nesses locais e sobre os profissionais de saúde envolvidos nas falsas aplicações de doses da vacina. Nesta semana, eles devem prestar depoimento. Se as investigações confirmarem que houve desvio de dose ou qualquer outra irregularidade, o profissional de saúde poderá ser autuado pelo crime de peculato, que tem penas que podem chegar a até 12 anos de reclusão", disse a Polícia Civil.
O secretário de Saúde do Estado, Carlos Alberto Chaves, condenou as vacinas de vento e disse que o órgão e a vigilância sanitária estão atentos às possíveis irregularidades.
"Foi algo horrível", disse Chaves à Reuters. "Além da vacina sem conteúdo, em um dos casos o técnico mostra total imperícia e nem sabia segurar no braço do idoso. Isso precisa ser investigado e as pessoas devem registrar e filmar o ato".
O calendário de vacinação de idosos na cidade do Rio foi interrompido nesta quarta-feira por falta de vacina. O Instituto Butantan, responsável pelo envase da CoronaVac, deve entregar novas doses ao Ministério da Saúde no início da próxima semana.
No começo da vacinação contra Covid no Estado, pessoas de grupos não prioritários no calendário de vacinação estavam se aglomerando na porta de postos de saúde à espera de sobras de vacinas, em um caso que ficou conhecido como "xepa das vacinas".