Premier italiano: Imprudência causará danos irreversíveis
Giuseppe Conte defendeu ciência e medidas impopulares para proteger saúde
O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, discursou no Parlamento nesta quinta-feira, 30, e defendeu as medidas que seu governo vem tomando para definir como será a reabertura gradual da economia e para implementar a chamada fase dois do combate ao novo coronavírus (Sars-CoV-2).
"Não podemos permitir que os esforços feitos até agora se tornem vãos por imprudências feitas nessa fase tão delicada. Qualquer comportamento vacilante, como passar da política 'fechamos tudo' para 'reabrimos tudo', arriscaria comprometer de maneira irreversível esses esforços. Eu digo isso de maneira clara, com o custo de parecer impopular: o governo não pode garantir de maneira imediata o retorno da normalidade", disse aos parlamentares.
Segundo o premier, "desde o primeiro dia", o seu governo vem buscando como prioridade proteger a saúde da população italiana porque o plano para combater a pandemia "não é um programa eleitoral destinado a buscar consenso".
Por conta disso, a reabertura gradual da economia, que começará efetivamente no dia 4 de maio, com a autorização de funcionamento de muitos setores que estavam fechados desde o dia 10 de março é "um primeiro passo fundamental e necessário para que todo o país possa encaminhar-se na estrada de uma vida serena". "Essa será uma fase de convivência com o vírus, não de liberação do vírus. Ainda estamos dentro da pandemia e não saímos dela", pontuou.
A chamada fase dois do combate à Covid-19 vem recebendo críticas de setores que não foram beneficiados, como o de bares e restaurantes, das igrejas e de serviços de beleza e estética.
No entanto, o premier defendeu as escolhas e disse que o Comitê Técnico-Científico (CTS) instaurado para gerenciar a crise sanitária e econômica está tomando todas as atitudes com base científica.
"O governo adotou rapidamente uma maneira de mérito e de método que prevê um constante contato com o CTS, de maneira que siga um princípio de conhecimento científica nas suas decisões. É imperativo e categórico para um governo que deve proteger a vida dos cidadãos colocar um fundamento das próprias decisões não em opiniões que são apresentadas, mas em recomendações de qualificados expoentes do mundo científico", destacou ainda.
Por este motivo, Conte afirmou que seu governo sempre "entendeu a gravidade do momento" e nunca tomou "decisões improvisadas", como alguns membros dos partidos de oposição o acusam. Para o premier, a Constituição do país serviu como base para a maior parte das medidas e decretos.
Se a situação, baseada em dados científicos, estiver dentro das previsões do CTS e do governo, ao fim das duas semanas iniciadas em 4 de maio, serão tomadas decisões que abrem ainda mais a economia italiana, atendendo aos setores que não foram beneficiados na segunda fase.
Neste momento, o chefe de Governo falou da confiança que sente na população italiana e ressaltou que confia que os cidadãos terão "um senso de responsabilidade" para manter os níveis de contágio abaixo do chamado "R1" - quando uma pessoa contamina apenas uma outra pessoa.
E ressaltou que, caso os números da Covid-19 voltem a subir - com dados obtidos a partir de 150 mil testes sorológicos - a Itália estará pronta "para medidas rápidas e também restritivas".
Ao falar sobre os impactos econômicos, o primeiro-ministro manteve as informações repassadas no dia 24 de abril no Documento de Economia e Finanças (DEF), que prevê uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 8% para 2020.
No entanto, ele ressaltou que caso os casos do vírus persistam em altos níveis na sociedade italiana há cenários ainda piores "com uma contração do PIB de até 10,4%". Conte defendeu que seu governo ouviu todos os atores da sociedade, como os ministros de todas as pastas, as forças da maioria e da minoria do Parlamento e entidades sociais e territoriais.
Próximos decretos - O premier italiano falou aos parlamentares sobre os próximos decretos que devem ser publicados por seu governo sobre o combate ao coronavírus. Segundo Conte, o primeiro deles retomará todos os provimentos do Cura Itália e disponibilizará 25 bilhões de euros para medidas de apoio ao trabalho e à renda das empresas e dos trabalhadores.
Além disso, haverá um "reconhecimento" para as províncias mais atingidas pela pandemia da Covid-19 e a definição do uso de 15 bilhões de euros para apoio as empresas.
O setor do turismo, um dos mais afetados pela crise sanitária e econômica, também será especialmente beneficiado nesse novo decreto, com o apoio às "empresas turísticas e às famílias sob alguns critérios de renda, que receberão um bônus para gastar em estruturas do tipo no país".
"O governo pretende dedicar às famílias o espaço que elas merecem nos próximos provimentos. Será crucial preparar e apoiar projetos territoriais, protegendo também o direito aos jogos, às atividades motoras, sem comprometer as normas de distanciamento social. Compartilho a urgência de repensar os espaço educativos de maneira ampla", disse aos presentes.
Nesse sentido, Conte confirmou que está estudando a reabertura também das escolas maternais e infantis de maneira experimental, algo que os partidos de oposição mais cobram do primeiro-ministro.
"Para oferecer ao país uma perspectiva mais ampla, estrutural e ambiciosa, o governo pretende apresentar nos próximos dias um segundo decreto-lei para o renascimento econômico e produtivo da Itália. Há urgência de reativar investimentos públicos e privados com uma agenda pública que deve garantir um ambiente com as normas mais favoráveis possíveis", falou.
O premier se comprometeu a "não deixar ninguém para trás" nesse momento, criando mecanismos de auxílio "rápidos e eficazes para não ter grandes problemas sociais".
Até esta quarta-feira, 29, a Itália contabiliza 203.591 contaminados pelo novo coronavírus e 27.682 mortes.
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