Script = https://s1.trrsf.com/update-1731945833/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Coronavírus

Prevent Senior faturou R$ 4,3 bilhões no 1º ano de pandemia

Alvo de denúncias na CPI da Covid, operadora de planos de saúde é uma das maiores do Brasil e especializada no atendimento a idosos

23 set 2021 - 01h50
(atualizado às 07h20)
Compartilhar
Exibir comentários

Alvo de denúncias por supostas condutas anticientíficas e antiéticas no tratamento de pacientes com covid-19, a Prevent Senior é uma das maiores operadoras de planos de saúde do Brasil, com mais de meio milhão de clientes, principalmente idosos.

Prevent Senior
Prevent Senior
Foto: Divulgação

A operadora cresceu significativamente na pandemia. Em 2020, o faturamento líquido alcançou R$ 4,3 bilhões, contra R$ 3,6 bilhões em 2019. No fim do ano passado, eram 505.192 clientes. Hoje, são 540.623, conforme os dados mais atualizados, de junho, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

A empresa, que inaugurou o primeiro hospital de sua rede em 1997, enfrenta uma crise por causa da suposta oferta de tratamento precoce e do chamado "kit covid" a pacientes com suspeita ou diagnosticados com o novo coronavírus. Além disso, a empresa teria ocultado mortes em estudo de baixa qualidade usado para disseminar a narrativa de que a hidroxicloroquina e o próprio tratamento precoce seriam eficazes contra a doença. O presidente Jair Bolsonaro chegou a citar tal estudo para defender o uso do medicamento.

Os primeiros pacientes com a covid-19 no Brasil foram atendidos no Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo. Trata-se da principal rede hospitalar da Prevent. A primeira morte reportada no País também ocorreu na unidade.

De acordo com dossiê elaborado por médicos da Prevent e encaminhado à CPI, com o avanço da pandemia, a operadora disseminou tratamentos com remédios ineficazes em uma estratégia para conter custos e que acabou usada para reforçar o discurso "pró-cloroquina" de Bolsonaro. A empresa, hoje, alega que se apegava ao que poderia trazer esperança de salvar vidas. Segundo o dossiê, os médicos receitaram o "kit covid" mesmo para pacientes não testados e sem sintomas graves.

A cúpula da companhia atribuía abertamente a recuperação de seus pacientes a medicamentos que não funcionam contra a covid, como a hidroxicloroquina. Em uma entrevista, Pedro Benedito Batista Jr, diretor-executivo da empresa, afirmou que "entre os dias zero e três da contaminação, a cloroquina evita a internação em 95% dos casos". Atualmente, há diversos estudos assegurando que a droga não funciona para nenhum tipo de paciente com a covid. A Organização Mundial de Saúde, inclusive, atestou que a hidroxicloroquina é contra-indicada para combater a doença.

Batista Jr presta depoimento à CPI da Covid desde a manhã desta quarta-feira, 22. Ele negou que a operadora tenha cometido qualquer irregularidade e não se pronunciou sobre dados relativos a qualquer paciente específico. Na tentativa de desmontar os argumentos que embasam sua convocação, ele declarou ainda que dois médicos que faziam parte dos quadros da Prevent Senior, mas que foram desligados em julho de 2020, "manipularam dados de uma planilha interna" para "tentar comprometer a operadora". Segundo Batista, depois da demissão, os profissionais passaram a "acessar e editar" o arquivo com informações de pacientes. Ele classificou o dossiê entregue por médicos à CPI como uma "peça de horror produzida a partir de dados furtados de pacientes, sem nenhum autorização".

Roqueiros

O fundador e CEO da Prevent é o médico Fernando Parrillo, de 52 anos. Além da principal cadeira no comando da companhia, ele tem uma atividade paralela que não é somente um hobby. Parrillo é guitarrista da banda de rock Doctor Pheabes, que já se apresentou no Lollapalooza, em 2015. O vocalista do grupo é Eduardo Parrillo, irmão de Fernando e responsável técnico da Prevent Senior.

"A Prevent Senior segue trabalhando com honestidade e ética para atender seus beneficiários. Estamos sofrendo acusações injustas por meio de denúncias infundadas, mas estamos confiantes na verdade. Enquanto isso, peço a paciência e a compreensão de todos. Manteremos o carinho, a qualidade e a rotina no atendimento aos nossos pais, mães e avós", disse, em vídeo divulgado no último sábado, 18.

Os irmãos Parrillo saíram de uma pequena empresa de remoção de pacientes, em meados dos anos 1990, para um império da saúde suplementar no Brasil. A relação de Fernando e Eduardo com negócios de saúde começou em 1996, com a compra de uma ambulância. Fernando, administrador, dirigia o automóvel e o irmão, Eduardo, médico, fazia o atendimento.

Pouco tempo depois, surgiu a oportunidade de comprar uma pequena clínica. Com o negócio prosperando, eles passaram a montar uma estrutura para a clínica deixar de depender das empresas de remoção.

Foi aí que começou o planejamento, com o restante da família, de um sistema preventivo que se tornaria um plano de saúde. Com um modelo de negócios voltado a prevenir e a tratar doenças de pessoas na terceira idade, a companhia é considerada pioneira na implantação dessa estratégia no País.

Em plena crise da covid, o plano de saúde cresceu sua carteira de clientes e inaugurou novos hospitais. Dedicada a atender a classe A, a empresa tem hospitais temáticos que lembram Dubai, Rússia, Alemanha e Londres.

Apesar do destaque no setor, o crescimento também é acompanhado por queixas de pacientes. O chamado índice médio de reclamações contra a Prevent Senior, publicado pela ANS, está maior que a média geral do mercado entre agosto de 2020 e julho de 2021, com destaque para o fim do ano passado.

Levando em conta apenas o índice de abertura de processo administrativo, que mede o total de reclamações com indícios de infrações que foram encaminhadas para abertura de processo administrativo na ANS, a Prevent é a 7ª na lista de reclamações, conforme os dados de julho. No mês anterior, aparecia na posição 47.

Polêmicas

As primeiras polêmicas relacionadas à Prevent Senior no contexto do combate à pandemia de covid surgiram pouco depois da chegada do vírus ao Brasil. Uma inspeção epidemiológica no Hospital Sancta Maggiore, em março de 2020, encontrou indícios de que cinco mortes provocadas pela doença não foram relatadas às autoridades públicas de São Paulo.

No mês seguinte, em abril, houve um embate com o então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Àquela altura, metade das cerca de 130 mortes por covid ocorreram em hospitais da Prevent. Mandetta criticou a estratégia da empresa de promover um "ambiente de transmissão" com "aglomeração de idosos" e foi criticado por Parrillo.

A partir de denúncias reveladas pela Globonews, o Ministério Público de São Paulo e a Polícia Civil abriram inquérito sobre a operadora. Entre as suspeitas, destaca-se a de que houve pressão para que médicos receitassem o "kit covid" a qualquer custo e o suposto interesse em "cortar gastos" com o tratamento, temas tratados também no dossiê enviado à CPI.

Ainda no início da pandemia, em março, a Prevent lançou um estudo sobre a eficiência da cloroquina em casos de covid. O levantamento foi suspenso por ordem da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), que verificou que os testes com pacientes começaram antes de a pesquisa ser autorizada.

Além do problema com a data, o estudo foi totalmente enviesado, segundo especialistas. Da amostra de 636 pacientes incluídos no estudo, apenas 93 fizeram testes para saber se estavam infectados. Os casos positivos foram 62.

Ex-funcionários apontam que foram nove mortes e não duas no estudo. Os relatos também sustentam que pacientes tratados nos hospitais da rede receberam remédios como a cloroquina e azitromicina sem terem ciência sobre o que estavam tomando. Essas drogas, além de não surtirem efeito, podem representar riscos para determinados tipos de pacientes.

Diretores da empresa mantiveram contato com expoentes do chamado "gabinete paralelo" do Ministério Saúde de Bolsonaro, como Nise Yamaguchi e Paolo Zanotto. Ambos abasteciam o presidente da República com informações a favor da cloroquina e contra medidas de distanciamento social.

O pediatra Anthony Wong, também integrante do "gabinete paralelo", morreu em janeiro num dos hospitais da rede Prevent e, segundo a revista Piauí, a operadora teria omitido do atestado de óbito o fato de que ele foi vítima da covid. À CPI, Pedro Batista Jr. se recusou a comentar o caso, citando o sigilo médico do paciente.

A Prevent Senior afirma que tem sido alvo de uma campanha de difamação e que vai provar à CPI que os denunciantes estão mentindo. A empresa apresentou uma denúncia à Procuradoria-Geral da República contra o grupo de ex-funcionários.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade