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Coronavírus

Reunião entre Bolsonaro e Mandetta é descrita como tranquila

Cerca de 40 minutos após a saída do ministro, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) chegou ao Planalto para falar com o presidente

8 abr 2020 - 15h49
(atualizado às 15h54)
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BRASÍLIA - A reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na manhã desta quarta-feira, 8, foi descrita como "tranquila" por integrantes do governo. De acordo com um auxiliar do presidente, Bolsonaro e Mandetta estão "acertando os pontos para seguir em frente".

A expectativa do Palácio do Planalto é que o ministro da Saúde se alinhe ao discurso defendido pelo presidente sobre o novo coronavírus e mantenha perfil mais discreto. A visibilidade de Mandetta durante a crise tem incomodado Bolsonaro, que chegou a ameaçar tomar providências em relação a integrantes do governo que "viraram estrelas".

Após encerrar, por ora, os rumores de que deixaria o governo, Mandetta esteve por pouco mais de uma hora com o presidente pela manhã. O ministro entrou e saiu sem falar com a imprensa.

Além disso, Mandetta não deve participar do balanço feito diariamente no Planalto para tratar da situação da covid-19 no País. De acordo com o governo, apenas técnicos do Ministério da Saúde estarão presentes e, diferentemente do que ocorreu nos outros dias, não serão permitidas perguntas dos jornalistas.

Cerca de 40 minutos após a saída do ministro, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), chegou ao Planalto. O nome de Terra não constava da agenda pública de Bolsonaro desta quarta-feira. O parlamentar, que é ex-ministro da Cidadania, é um dos cotados para substituir Mandetta caso o presidente decida trocar seu ministro da Saúde.

Pouco antes de se reunir com Mandetta, Bolsonaro voltou a defender, nas redes sociais, o uso da cloroquina no tratamento de pacientes com covid-19. O presidente é um entusiasta do medicamento indicado para malária e doenças autoimunes, mas que tem apresentado resultados promissores contra o coronavírus. O ministro, por sua vez, tem pedido cautela na prescrição do remédio, uma vez que ainda não há pesquisas conclusivas que comprovem sua eficácia contra o vírus.

"Há 40 dias venho falando do uso da hidroxicloroquina no tratamento do COVID-19. Sempre busquei tratar da vida das pessoas em 1° lugar, mas também se preocupando em preservar empregos", postou o presidente na manhã de hoje.

Bolsonaro disse ter feito contato com "dezenas de médicos" e alguns chefes de estados de outros países para falar sobre os medicamentos. "Cada vez mais o uso da cloroquina se apresenta como algo eficaz", argumentou.

Na publicação, o presidente também citou que dois médicos brasileiros se negam a divulgar se utilizaram os dois remédios em seus tratamentos contra o novo coronavírus. Bolsonaro faz referência ao coordenador do Centro de Contenção para o novo coronavírus no Estado de São Paulo, David Uip. O médico precisou ser internado após ser diagnosticado com a covid-19. Uip tem sido pressionado para revelar se utilizou ou não cloroquina e da hidroxicloroquina durante seu tratamento.

"Dois renomados médicos no Brasil se recusaram a divulgar o que os curou da COVID-19. Seriam questões políticas, já que um pertence a equipe do Governador de SP?", questionou. "Acredito que eles falem brevemente, pois esse segredo não combina com o Juramento de Hipócrates que fizeram. Que Deus ilumine esses dois profissionais, de modo que revelem para o mundo que existe um promissor remédio no Brasil", disse Bolsonaro.

Ontem, em entrevista, o ministro da Saúde afirmou que o órgão acompanha estudos clínicos sobre a eficácia de medicamentos contra o novo coronavírus, entre eles, a cloroquina e a hidroxicloroquina. Os primeiros resultados devem ser conhecidos a partir do próximo dia 20. No brasil, a droga já está disponível nos hospitais para pacientes com quadros moderados e graves. Fora desse grupo, o ministério não recomenda a utilização.

"Já liberamos cloroquina e hidroxicloroquina tanto para os pacientes críticos, aqueles que ficam em CTIs, quanto para qualquer paciente em hospital, o moderado. O medicamento já é entregue, já tem protocolo", disse o ministro.

Na segunda-feira, Mandetta afirmou ter sido pressionado por dois médicos a editar um protocolo para administração dos medicamentos, após reunião com o presidente Bolsonaro. Ele se recusou alegando ausência de embasamento científico.

Ministro sob risco de demissão

A recusa do ministro de contrariar recomendações de organizações de saúde para atender o que prega o presidente levou a um estremecimento na relação e a rumores de que ele seria demitido. Em entrevista na segunda-feira, Mandetta admitiu que seus auxiliares na pasta chegaram a limpar suas gavetas. Na ocasião, em um pronunciamento à imprensa, ele pediu "paz" para trabalhar e reclamou de críticas que, em sua visão, criam dificuldades para o seu trabalho.

Na semana passada, Bolsonaro chegou a dizer que Mandetta "extrapolou" e faltava "humildade" ao chefe da pasta da Saúde. E destacou que não o demitiria no "meio da guerra", apesar de ninguém em seu governo ser "indemissível".

A avaliação do presidente, porém, é de que seu ministro adotou uma postura arrogante diante da crise e deveria ouvi-lo mais. "Algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas", afirmou o presidente no domingo, ao receber apoiadores no Palácio da Alvorada. Era uma indireta por Mandetta ter participado de uma "live" da dupla sertaneja Jorge e Mateus, quando voltou a defender o isolamento social, um dos pontos de divergência com o chefe do Executivo.

Durante entrevista na segunda-feira, Mandetta afirmou que não deixaria o cargo por vontade própria, destacando que um "médico não abandona o seu paciente". Disse ainda que, caso seja demitido, toda a sua equipe, que está na linha de frente do combate ao coronavírus no País, deve sair junto.

Militares do governo ajudaram a serenar os ânimos e intercederam junto a Bolsonaro para que ele não demitisse o ministro neste momento. O grupo de generais que trabalha no Palácio do Planalto insiste que essa é uma guerra que não é boa para ninguém. E alertam para falta de opção. O ex-ministro Osmar Terra, um dos aliados que mais tiveram acesso a Bolsonaro nos últimos dias e passou a ser cotado para a vaga na Saúde, foi demitido do Ministério da Cidadania porque não dava resultado.

Desde a situação envolvendo a saída de Mandetta, Bolsonaro tem mantido o silêncio e evitado a imprensa. Ontem chegou a faltar dois compromissos previstos em sua agenda.

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