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Coronavírus

Revacinação em SP: todos terão de receber uma nova dose?

Governo paulista prevê iniciar novo ciclo vacinal em janeiro; Ministério da Saúde diz não ter evidências científicas sobre estratégia

21 jul 2021 - 06h13
(atualizado às 07h08)
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O governo paulista anunciou nesta semana que pretende, em janeiro, iniciar a revacinação dos paulistas contra a covid-19. Esse novo ciclo poderá ser feito com apenas uma dose, contemplará toda a população adulta (independentemente da vacina originalmente administrada), deverá seguir a mesma ordem de prioridade do primeiro ciclo de imunização (mas com cronograma muito mais rápido) e apostará na Butanvac, ainda em testes, como imunizante principal. As informações foram dadas ao Estadão pelo secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn.

Vacinação contra covid-19 na UBS Jardim Guanabara, zona oeste de São Paulo
Vacinação contra covid-19 na UBS Jardim Guanabara, zona oeste de São Paulo
Foto: Rogério Galasse / Futura Press

Entenda abaixo como deve funcionar o plano e quais são as posições dos cientistas sobre a proposta:

Qual é o plano de revacinação do governo de São Paulo?

A gestão João Doria planeja iniciar a revacinação contra a covid-19 no dia 17 de janeiro de 2022, quando completa um ano da imunização da enfermeira Monica Calazans, primeira brasileira vacinada contra a doença no País.

Quais grupos serão revacinados? Entra neste plano quem tomou qualquer vacina?

Os detalhes do plano ainda estão sendo definidos, mas, segundo informou o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, ao Estadão, a previsão é que todos os adultos sejam revacinados, independentemente de idade e do imunizante administrado no ciclo vacinal de 2021.

Quais vacinas serão usadas na revacinação?

A principal aposta do governo paulista é utilizar a Butanvac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan que está em fase de testes clínicos. Outra possibilidade é usar a Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Butantan. A escolha pelos dois imunizantes deve-se principalmente ao fato de que eles poderão ser produzidos integralmente em território nacional, sem necessidade de importação do ingrediente farmacêutico ativo (IFA).

A Butanvac já tem aprovação da Anvisa?

Não, a Butanvac ainda está na fase 1 dos testes clínicos e precisará ter sua segurança e eficácia confirmadas nessa e nas demais etapas do estudo (fases 2 e 3). Somente depois de concluídos os testes, o Butantan poderá dar entrada no processo de registro ou uso emergencial do produto. A expectativa do instituto é que a pesquisa seja finalizada em outubro.

A revacinação em São Paulo será feita com uma ou duas doses?

Isso ainda não está definido, mas há possibilidade de ser usada apenas uma dose, segundo o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn.

Haverá uma ordem de prioridades também na campanha de revacinação?

A ideia inicial é que o cronograma de prioridades da revacinação seja o mesmo da primeira rodada de imunização, começando com idosos mais velhos e profissionais de saúde. No entanto, como deverá haver maior disponibilidade de diferentes vacinas no ano que vem, a expectativa é que esse cronograma ande muito mais rápido.

Já há evidências científicas sobre a necessidade da revacinação?

Segundo especialistas, não há dados robustos sobre o tema. Ainda estão sendo feitos estudos para avaliar questões como o tempo que dura a imunidade conferida pelos imunizantes existentes, se eles são eficazes contra as novas variantes e se a proteção dada por essas vacinas são menores em alguns grupos populacionais. Resultados preliminares já mostram que as vacinas de RNA (como Pfizer e Moderna) podem conferir proteção superior a um ano, mas faltam estudos sobre imunizantes de vírus inativado, como a Coronavac. Quanto às novas variantes, há pesquisas que sugerem que as vacinas têm seu desempenho reduzido contra algumas cepas, mas que seguem protegendo após a administração das duas doses.

Qual é a posição do Ministério da Saúde?

O Ministério da Saúde ainda não considera revacinar a população. Segundo a pasta, "até o momento, não há evidência científica que confirme a necessidade de doses adicionais das vacinas covid-19". A recomendação, segundo o órgão, "é que Estados e municípios sigam o que é definido pela Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis, que é pactuada entre União e gestores estaduais e municipais, e pelo Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO)". A expectativa no ministério é de que em setembro ou outubro as pesquisas encomendadas sobre o tema já estejam finalizadas. A pasta deve anunciar em breve um estudo, de cerca de 60 dias de duração, sobre a intercambialidade (uso de duas vacinas diferentes no mesmo indivíduo).

Outros países já estão marcando a revacinação?

Os países mais avançados na vacinação contra a covid-19 ainda não anunciaram uma revacinação massiva contra a covid. Alguns deles estão estudando a possibilidade de uma dose de reforço para alguns públicos mais vulneráveis. Os Estados Unidos avaliam dar uma terceira dose aos imunossuprimidos. Israel já começou a oferecer uma dose de reforço da vacina da Pfizer a esse mesmo grupo, mas não bateu o martelo sobre a estratégia para a população em geral. O Reino Unido deverá oferecer um reforço para adultos maiores de 50 anos antes do início do inverno do hemisfério norte.

Especialistas em imunização apoiam o anúncio da revacinação?

Não. Médicos ouvidos pelo Estadão defendem que ainda não há evidências de que essa terceira dose seja necessária nem qual o melhor momento para fazer uma revacinação. Eles afirmam que estudos sobre a duração da proteção em diferentes grupos populacionais precisam ser feitos ao lado de pesquisas sobre a intercambialidade de vacinas. Para eles, somente depois desses estudos será possível qualquer estratégia de revacinação. Na visão dos especialistas, a prioridade agora deveria ser vacinar toda a população global com as duas doses.

Estadão
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