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Coronavírus

Saúde mental liga sinal de alerta após 6 meses de quarentena

Quadros de ansiedade e depressão crescem durante a pandemia do novo coronavírus

14 set 2020 - 09h00
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O Rio de Janeiro foi o primeiro estado brasileiro a decretar quarentena. A medida de isolamento social começou no dia 17 de março. São Paulo fechou as atividades a partir do dia 23 do mesmo mês. Na sequência, todo o país adotou o mesmo caminho mesmo com o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro. Com isso, já são seis meses de quarentena.

Ansiedade e depressão aumentam com a pandemia do novo coronavírus
Ansiedade e depressão aumentam com a pandemia do novo coronavírus
Foto: Pixabay

Apesar da grande maioria do país viver uma reabertura, o medo e as limitações ainda preocupam a população.  O resultado é uma crescente preocupação de especialistas com a saúde mental.

“Temos o quadro mais arrastado do cenário mundial. Já chegamos adoecidos mentalmente para esse cenário. Entramos muito diferente do que aconteceu em países de primeiro mundo. Vivemos uma crise financeira desde 2014, que resultou em sobrecarga de trabalho, desemprego , acúmulo de funções, um quadro de explosividade, intolerância, além de todo o desgaste político”, analisa a psiquiatra Anny De Mattos Barroso Maciel em entrevista ao Terra.

A médica ainda relembra as limitações impostas pela pandemia até na hora da morte. “Estamos vivendo um estresse pós-traumático e muito luto patológico. Quando falamos de 129 mil mortos, cada um carrega pelo menos mais alguém que está inlutável, ninguém é sozinho no mundo. Não somos preparados para elaborar um luto dessa forma, precisamos de velório, visitar o doente”, explica a profissional.

Segundo Anny, a cultura oriental é “preparada emocionalmente para a morte”. “A nossa visão é mais próxima do materialismo”, argumenta.

Ansiedade, pânico e depressão aparecem como grandes sintomas deste período de quarentena. “Os pacientes que nunca tiveram crises de ansiedade, que são preservados, que não tem histórico familiar, estão apresentando sintomas de ansiedades. Pacientes estáveis há muito tempo estão precisando aumentar a dose, ajustar a medicação para sono”, diz a psiquiatra.

“Inicialmente as pessoas tinham maior engajamento para a atividade física, estão se entregando, estão com hábitos menos saudáveis. E muitas crianças estão com sintomas de pânico, principalmente com aulas online, sintomas ansioso e obsessivos”, completa.

A psicóloga Maria Luisa Costa Góes compartilha do mesmo pensamento. “Estamos vendo sintomas mais depressivos, pessoas engordando porque compensam na comida, alguns bebendo mais, usando mais drogas”, enumera.

Está mudando até o nosso DNA, não sei o que vai acontecer, é uma situação muito profunda, não temos noção de tudo o que está acontecendo. Como as crianças não tem muita censura, elas vão mais para o que estão sentindo, estão sentindo saudade. Eu estou pedindo para os pais levarem as crianças para passear. Tenho falado muito sobre meditação, ensinando técnicas de respiração, entender o momento, voltar para dentro de você, ver as suas necessidades, nada é proibido, precisa ver o que te alivia”, analisa.

Na opinião de Maria Luisa, a faixa etária de 20 a 40 anos está tendo mais dificuldade em lidar com o isolamento “pelo fato de não poder sair, apesar de que uns estão quebrando as regras”. A psicóloga também lembra as dificuldades enfrentadas pela 3ª idade. “Os mais idosos também estão sofrendo porque tem essa limitação que existe uma super proteção, estão se sentindo sufocados,  sentem um vazio, é como se tivesse perdido espaço. E a questão da saudade, o significado de saudade,  é como se a vida tivesse perdido o contato”.

A Dra. Anny diz que é preciso entender aqueles que não estão conseguindo mais seguir as normas de isolamento recomendadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde): “As pessoas já ultrapassaram o que consideravam o limite delas. É muito fácil questionar o não cumprimento do isolamento, mas têm muitas pessoas sozinhas, viúvas... Elas começaram a se expor porque ultrapassaram o limite. Não é uma atitude responsável, mas vamos ter que viver com a incerteza, se adequando, criando estratégias. Estamos vivendo um desgoverno muito grande, uma contradição grande, desamparo, estamos sem ministro da saúde até hoje, dois ministros saíram, a OMS um pouco perdida, as crianças sendo colocadas com grande vilãs. Abre-se bares, shoppings e não se abre escola, temos também aumento de violência social e doméstica contra crianças”.

A médica mostra preocupação especialmente com a condição das crianças durante a pandemia. “A gente não consegue mensurar o que vai representar no emocional de uma criança. Em relação ao neuro desenvolvimento é muito prejudicial, criança se desenvolve muito em seis meses. Não se tem ideia, mas acredita-se que vai ser prejuízo grande na formação da pré-escola. Já temos muitas crianças que não querem sair de casa, fóbicas, ansiosas, isentas de interação interpessoal e cultural”, argumenta.

A profissional diz que é importante incentivar uma transição transitória e “ressaltar que a interação é importante, trabalhar emocionalmente a reinserção na escola. Diálogo, acolhimento, empatia de pais e filhos e, sobretudo, investir em uma terapia online é muito importante”.

Homens x mulheres

Os 180 dias dentro de casa também fizeram aumentar os conflitos.  “As pessoas estão brigando mais. Está muito difícil a convivência, as pessoas estão mais irritadiças, não estão se suportando. Os homens não conseguem ficar dentro de casa, eles precisam sair. Eu recomendo para os pacientes irem caminhar, andar de bicicleta”, conta Maria Luisa.

E qual a dificuldade dos homens em ficar casa? “Tem a questão do social, necessidade do sair, encontrar os amigos, a mulher está mais acostumada. Eles acabam não tendo atividade em casa. Se a mulher pede alguma coisa, ele não quer fazer. As brigas estão mais nesse sentido. Não tem hábito de lavar louça, roupa e vai acumulando para a mulher. Se você pensar nas aldeias indígenas, o homem é do externo, mulher é da maternagem. E o nosso homem contemporâneo, ainda tem a questão do provedor, a mulher é a mais introspectiva, o homem é mais rua. É a própria natureza humana, é convenção social”, diz a psicóloga.

Conselhos

Ficar atenta ao próprio corpo é um conselho dado pelas duas profissionais.  "Ficar muito atento ao que o corpo fala, exigir menos do corpo, fazer mais atividades físicas, consumir alimentos mais saudáveis, menos gordura, tomar sol, poder respirar, fazer bastante exercício respiratório, oxigenar o cérebro”, recomenda Maria Luisa.

“É viver um dia de cada vez, é o aqui e agora, que é o modelo da terapia interpessoal que utilizamos para tratar depressão. Consideramos ansiedade excesso de futuro no momento presente e a depressão excesso de passado no presente, temos que trazer essa pessoa para o aqui e agora, para a minha meta de hoje, o que é possível fazer. Como vai ser, a gente não controla”, resume Anny.

Fonte: Redação Terra
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