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Coronavírus

Secretários de Saúde: governo quer "invisibilidade a mortos"

Gestão Bolsonaro quer recontar mortos pela doença no País sob o argumento de que haveria óbitos a mais, ocorridos por outras doenças. Conass diz que medida é 'autoritária, insensível, desumana e anti-ética'

6 jun 2020 - 12h50
(atualizado às 14h05)
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Foto: André Pera/Agência F8 / Estadão Conteúdo

O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Alberto Beltrame, repudiou com "veemência e indignação" o que chamou de "levianas afirmações" do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Wizard. Beltrame afirma que há uma tentativa "autoritária, insensível, desumana e anti-ética" de dar invisibilidade aos mortos pelo coronavírus. "Não prosperará. Nós e a sociedade brasileira não os esqueceremos e tampouco a tragédia que se abate sobre a nação", completou.

Em entrevista ao jornal O Globo, Wizard disse que o Ministério da Saúde vai recontar o número de mortos no Brasil vítimas do coronavírus porque os dados atuais seriam "fantasiosos ou manipulados" e que os gestores públicos de Estados e municípios estão "inflando os números" para conseguir mais recursos públicos.

Ao Estadão, Wizard disse que o governo Bolsonaro não pretende "desenterrar mortos", como forma de averiguar se os mais de 35 mil óbitos registrados oficialmente pelo próprio governo, em relação à covid-19, foram de fato resultado de mortes pela doença. "Não pretendemos desenterrar mortos, não tratamos disso. O que pretendemos é rever os critérios dessas mortes", disse Wizard, que espera que sua nomeação como secretário no Ministério da Saúde seja publicada na próxima segunda-feira, 8.

Beltrame rebateu as acusações de Wizard e disse que os secretários não são "mercadores da morte". "Ao afirmar que secretários de Saúde falseiam dados sobre óbitos decorrentes da Covid-19 em busca de mais 'orçamento', o secretário além de revelar sua profunda ignorância sobre o tema, insulta a memória de todas aquelas vítimas indefesas desta terrível pandemia e suas famílias", afirmou.

"Wizard menospreza a inteligência de todos os brasileiros, que num momento de tanto sofrimento e dor, veem seus entes queridos mortos tratados como "mercadoria". Sua declaração grosseira, falaciosa, desprovida de qualquer senso ético, de humanidade e de respeito, merece nosso profundo desprezo, repúdio e asco", afirmou Beltrame, em nota.

A possibilidade de recontagem dos números pelo governo Bolsonaro também provocou reações de outras entidades de fora da área da Saúde. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, disse em sua conta no Twitter que "Ministério da Saúde não adverte mais. Acéfalo e militarizado, presta-se ao papel de empoeirar e retardar informações sérias sobre a pandemia, apenas para satisfazer o apetite conspiratório do presidente e sua batalha pessoal contra a imprensa livre. Um perigoso e letal vexame".

Posicionamento das secretarias estaduais de Saúde

Estado com o maior número de casos confirmados e óbitos do País, São Paulo diz que "irá manter os critérios para contabilização de casos e óbitos, bem como sua divulgação no período da tarde, com absoluta transparência, como vem ocorrendo durante toda a pandemia."

Em nota, a gestão Dória diz que "o Governo do Estado de São Paulo tem como premissa fundamental, em todas as suas ações, a transparência. As estatísticas são cadastradas nos sistemas de informação do próprio Ministério da Saúde, seguindo diretrizes do órgão. As divulgações de São Paulo levam em conta o número de casos e óbitos confirmados laboratorialmente por serviços devidamente aptos a fazer diagnósticos."

Balanço divulgado pela Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo nesta sexta-feira, 5, mostrava que o Estado tinha 134.565 casos confirmados da doença e 8.842 óbitos.

Estadão
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