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Coronavírus

SP: Retomada de restaurantes até as 22h é vista com cautela

Proprietários celebram possibilidade, mas avaliam que protocolos precisam ser seguidos e clima pode não ser dos melhores

6 ago 2020 - 05h10
(atualizado às 07h25)
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A permissão para bares e restaurantes funcionem na capital paulista até as 22 horas a partir desta quinta-feira, 6, foi recebida com entusiasmo por grande parte dos proprietários desses estabelecimentos. Anunciada pelo governador João Doria (PSDB), ela atende uma demanda latente e aumenta o limite que vigorava desde 4 de julho, o qual proibia que os locais estivessem abertos após as 17 horas, o que causava um empecilho para uma grande parcela do setor.

Consumidores em um restaurante na cidade de São Paulo. 06/07/2020. REUTERS/Amanda Perobelli.
Consumidores em um restaurante na cidade de São Paulo. 06/07/2020. REUTERS/Amanda Perobelli.
Foto: Reuters

Com duas unidades, uma nos Jardins e outra em Tatuapé, a pizzaria Villa Roma, aberta em 2016, estava dependendo apenas das vendas feitas por entrega em domicílio, mesmo que há quase um mês já houvesse a possibilidade de abrir suas filiais em horários reduzidos. "Preferimos não reabrir nessa primeira fase, porque estamos em uma região muito comercial e todo mundo está trabalhando de home office", explica Gabriel Pinheiros, dono do estabelecimento.

De acordo com ele, os restaurantes vizinhos daquela área estavam vendendo apenas 5% do rendimento habitual no período pré-pandemia do coronavírus. Isso somado ao hábito dos clientes, que raramente frequentam uma pizzaria durante o dia, foram motivos suficientes para que ele aguardasse a possibilidade de reabertura em um horário noturno. "Não dá nem para agradecer o governador, porque bom senso é o mínimo que a gente espera, né?"

Agora, ele pretende reerguer as portas na próxima sexta-feira, 7, funcionando das 18 às 22 horas e respeitando o limite de 40% da sua capacidade de ocupação. Para complementar as vendas, o delivery criado especialmente para a pandemia será mantido. "Isso não representava nem 20% do que a gente faturava e, no último mês, chegou a pelo menos 15%. As contas já estavam todas atrasadas", conta.

Gabriel agora espera alcançar pelo menos 45% do faturamento "em tempos normais" e a expectativa é que esse número possa chegar aos 70% até o final do ano. "Tenho certeza que não será uma retomada rápida."

Apesar de ter se adaptado para o almoço, funcionando no último mês entre meio-dia e as 17 horas, o Regô, que abriu as portas na República em agosto do ano passado, dá as boas-vindas à possibilidade de retomar suas atividades no horário noturno. Já na sexta, ele volta a funcionar a partir das 16 horas até o horário limite, e o plano é que na semana seguinte já opere das quarta-feiras aos sábados.

"Se valer a pena, vamos abrir às terças também, no nosso horário antigo. Somos um bar montado para funcionar à noite e estávamos com muita dificuldade de vender. Nesse período aberto, o público tem chegado mais tarde e pedido para ficar até mais tarde", explica Luiz Felippe Mascella, proprietário.

Ele conta também que pretende se adequar para o novo plano municipal que permite mesas e cadeiras nas calçadas, assim que ele estiver disponível para a sua região. Anunciada na quarta pelo prefeito Bruno Covas, a medida só foi autorizada em fase de testes na região central e pelas próximas quatro semanas, para trechos das ruas João Paulo Mantovan Freire, Bento Freitas, Major Sertório e General Jardim. Caso não funcione, a autorização será revogada; se for bem sucedida, a ideia é ampliá-la para outras áreas da capital.

"Todo avanço sempre é interessante e a gente continua marchando para a normalidade", comemora Percival Maricato, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em São Paulo. Ele explica que a Abrasel-SP foi uma das entidades que reivindicavam esse retorno ao governo e afirma que "precisamos melhorar com o aumento gradual da lotação e as mesas na calçada".

Ele aponta que, mesmo entre os estabelecimento que servem almoço, cerca de 59% preferiu permanecer fechado para poupar os custos de retomar operações atendendo aos protocolos de higiene e distanciamento. Pelas leis do governo, mesmo nessa reabertura o uso da máscara será obrigatório e as vendas para clientes em pé continuam proibidas.

"Já estamos em um clima melhor para voltar à normalidade. As pessoas não vão ao bar só para comer e beber, elas vão para conversar, se divertir e descontrair", afirma Maricato.

Esse "clima", entretanto, é exatamente o motivo pelo qual Facundo Guerra decidiu não reabrir as portas do Bar dos Arcos na próxima semana e nem tem intenção de fazê-lo tão cedo. "Tenho muito medo de uma retomada com só 40% do salão e esse clima de luto. Bares e restaurantes são locais especiais de celebração, de comemorar o afeto. Não acho que tenha um clima para isso, há não ser que a pessoa seja muito alienada."

Por um quarto dos 20 meses de vida que o Bar dos Arcos tem, desde que foi inaugurado em janeiro do ano passado, ele esteve fechado por causa da pandemia. Por isso, Facundo diz entender a pressão econômica, mas não pretende arcar com o "grande investimento" para uma retomada que pode não ser definitiva. "Só volto a operar quando puder colocar a minha mãe de 75 anos nos balcões e ela tenha o mesmo tipo de tranquilidade que meus clientes", assegura.

Estadão
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