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Coronavírus

Tecnologia de bombas de insulina avança e mira chegar a pâncreas artificial

Mais autônomo, dispositivo pode evitar hipoglicemia e hiperglicemia; é preciso ter indicação médica para uso

31 out 2021 - 16h59
(atualizado em 1/11/2021 às 15h17)
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Com algoritmos e mais precisão, bombas de insulina usam tecnologias cada vez mais sofisticadas para melhorar o controle de glicose e a qualidade de vida de quem tem diabete. Em 2022, chega ao País um novo tipo de bomba, que combinada a um sensor para medir a glicose pode evitar hipoglicemia e hiperglicema de modo automatizado.

A ciência corre para chegar mais perto de um pâncreas totalmente artificial, que dependa menos de ações humanas. Acoplados na cintura ou até introjetados no corpo, os dispositivos miram uma injeção autônoma de insulina e controle mais preciso do açúcar no sangue. O custo elevado, porém, é um dos principais entraves.

Desenvolvida pela multinacional Medtronic, a bomba de insulina do Sistema Minimed 780G foi aprovada em março pela Anvisa e deve chegar aqui em 2022. O preço ainda não foi divulgado, mas deve ser maior que outros no mercado, como o Minimed 640G. Também da Medtronic, ele custa cerca de R$ 30 mil e tem manutenção de R$ 3 mil e R$ 4 mil por mês, diz o médico Marcio Krakauer, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Segundo ele, um dos diferenciais do 780G é que, além de corrigir a hipoglicemia, o algoritmo conectado ao dispositivo recebe uma meta de glicose para controlar a hiperglicemia, quando há nível alto de glicose no sangue. O dispositivo fica acoplado na cintura e conectado à região abdominal por uma cânula, que entrega insulina ao longo do dia. De acordo com a Medtronic, o novo sensor e o transmissor enviam os dados via Bluetooth para a bomba e para o celular, permitindo acompanhar a glicemia e liberar a insulina. O modelo já é vendido na Europa.

O sistema ainda requer ao menos duas medições manuais diárias para calibragem de glicose, praticamente o mesmo tanto do 640G - um híbrido automático. Krakauer prevê mais avanços nos próximos anos. "É tudo uma questão de acertar o algoritmo", diz ele, que reforça a necessidade de orientação médica.

Além da Medtronic, a suíça Roche vende bombas no Brasil. O Accu-Chek Combo - que depende de mais ações manuais - custa cerca de R$ 4,5 mil e requer manutenção de cerca de R$ 1,8 mil por mês.

Em 2019, a FDA (agência reguladora americana), aprovou, segundo o órgão, a "primeira bomba de insulina interoperável". Da empresa Tandem Diabetes Care, a Slim X2 é acoplada a um sensor de monitoramento de glicose, que permite personalizar o tratamento, sem calibragem diária. Ainda não há previsão de venda no Brasil.

Segundo a edição de 2019 do Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), o Brasil é o 5º país com o maior número de adultos entre 20 e 79 anos diagnosticados com o diabete mellitus: 16,8 milhões de pessoas. A IDF estima ainda que metade dos adultos não recebe diagnóstico, o que dificulta entender a real dimensão da doença.

Dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) apontam que, do total de pacientes, aproximadamente 90% têm diabete tipo 2, quando normalmente o corpo não absorve insulina de forma adequada. Ao mesmo tempo, menos de 10% possuem diabete tipo 1, em que a doença tem caráter autoimune. Não há uma estimativa precisa de quantas pessoas usam bomba de insulina no País.

Mesmo sem comercializar bombas de insulina, a farmacêutica americana Abbott tem autorização para vender no Brasil o sensor FreeStyle Libre, produto que pode ser útil para a medição de glicose mesmo que usado de modo isolado. Aplicado na parte superior do braço, o produto armazena automaticamente as medições de glicose a cada 15 minutos, mantendo até 8 horas de dados salvos.

A endocrinologista Priscilla Cukier, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), aponta que, antes mesmo das bombas de insulina, que têm custo alto e são destinadas por prescrição médica a uma parcela limitada de pacientes, deveria haver acesso aos sensores de medição de glicemia. "É uma tecnologia mais impactante para o controle do diabetes do que bombas", defende Cukier. "As bombas são ótimas, para alguns pacientes são fundamentais. Mas o uso de sensores muda muito mais a realidade de uma população."

Falta de cobertura pelo SUS leva diabéticos a pedirem aparelhos na Justiça

Na falta de cobertura pelo SUS, muitos recorrem à Justiça para ter os aparelhos. "O SUS não cobre tratamento de bomba de insulina", diz a influenciadora digital e aluna de Biomedicina Beatriz Scher, de 28 anos, diagnosticada com diabete tipo 1 em 2000. "A gente consegue entrar com ação judicial contra o Estado ou município em que vive e solicitar terapia de alto custo, se tiver indicação médica para isso."

No caso do especialista em experiência do cliente Breno Magalhães, de 29 anos, o diagnóstico do diabete mellitus tipo 1 veio aos 6 anos. "Já usei tudo o que puder imaginar para o controle do diabetes", conta Magalhães.

Para custear um tratamento com bomba de infusão, ele entrou com uma ação na Justiça solicitando ao Estado de Minas, onde mora, a disponibilização de um dispositivo e dos insumos necessários. "Foi entendido pelo meu médico que o tratamento com a bomba seria o mais eficaz para eu conseguir controlar minha glicose", explica Magalhães, relatando vir de um "histórico de glicemias muito descontroladas".

Com o deferimento do pedido, há cerca de dois anos ele usa o sistema de bomba de insulina 640G. Segundo ele, a parte mais complexa da utilização da bomba é se adaptar à forma de funcionamento do dispositivo. "Ela (a bomba) tem mecanismos que aplicam insulina ao longo do tempo e você precisa se adequar a isso", relata.

Uma vez que o paciente aprende como ajustar o bolus, por exemplo, que é a correção da dosagem de insulina em relação à quantidade de carboidratos e proteínas ingeridos, a rotina fica mais natural. "Acostumar com isso demanda certo tempo. Você tem de se planejar, no caso de viajar ou algo do tipo, para ter todo o equipamento e até um equipamento reserva. Mas, de modo geral, é um facilitador de vidas", conta Magalhães.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que a oferta do tratamento da diabetes mellitus tipo 1 no SUS contempla os seguintes medicamentos: a insulina humana NPH, a insulina humana regular e as insulinas análogas de ação prolongada 100 UI/ml e de ação rápida 100 UI/ml.

Na lista de insumos, acrescentou a pasta, estão as canetas para aplicar insulina, agulhas para caneta aplicadora de insulina e seringas com agulha acoplada para aplicação de insulina. Além de lancetas para punção digital e tiras reagentes utilizadas no monitoramento dos níveis glicêmicos.

"A utilização do sistema de infusão contínua não está incorporada na oferta do tratamento da doença pelo SUS, visto que não há evidências científicas suficientes de que o uso do material seja superior quando comparado à terapia de múltiplas doses, já incorporada no sistema público de saúde", defendeu o Ministério da Saúde.

A endocrinologista Priscilla Cukier, pesquisadora na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que há, sim, evidências de melhor eficácia. "Desde que para pacientes selecionados. Não de modo geral", explicou. Para isso, ela reforça que a Sociedade Brasileira de Diabetes compartilha diretrizes para auxiliar na indicação dos sistemas de infusão de insulina.

Já a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou que o rol de procedimentos,a lista de coberturas obrigatórias para os planos de saúde regulamentados, "não prevê cobertura obrigatória para quaisquer procedimentos executados em domicílio". Desse modo, conclui a agência, "o fornecimento de equipamentos, insumos e medicamentos relacionados à bomba de insulina para tratamento de diabetes mellitus tipo 1, em domicílio, não constam" na lista nem têm cobertura obrigatória pelos convênios particulares.

Estadão
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