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Coronavírus

Tela em excesso prejudica o crescimento e a visão de crianças e adolescentes

O brilho das telas confunde o cérebro e bloqueia a melatonina, que inibe a produção do hormônio do crescimento; estudo aponta que a miopia é o efeito mais expressivo para a saúde dos olhos durante a pandemia

31 jan 2021 - 05h10
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O brilho das telas, devido à faixa de onda de luz azul presente na maioria delas, confunde o cérebro e bloqueia a produção da melatonina (hormônio do sono). "Transtorno de sono é o primeiro sintoma do excesso de uso das telas", explica Evelyn Eisenstein, especialista do Grupo de Trabalho sobre Saúde na Era Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

"As crianças estão em desenvolvimento e a melatonina está bloqueando a produção do hormônio de crescimento, que é liberado após o período de 1 a 2 horas de sono profundo. Se elas não dormem, ou vão dormir tarde, estão exaustas e, portanto, produzem menos hormônio de crescimento", observa.

Além disso, ao acordar, os sintomas vão se somando à noite mal dormida: aumento da sonolência diurna, problemas de memória e concentração durante o aprendizado, além de associação com sintomas dos transtornos do déficit de atenção e hiperatividade.

A empresária Fabiana Moura viu o tempo de tela da filha Beatriz, de 13 anos, aumentar em ao menos 80% durante a pandemia. A consequência, relata a mãe, foi que adolescente ficou mais irritada, mais ansiosa e passou a ter problemas de insônia. "Sem falar no sedentarismo, no prejuízo para a postura e para a visão."

De fato, a visão das crianças pode ser muito prejudicada pela rotina online. E, importante destacar, o dano é maior quanto mais novas elas são. Como mostra um estudo publicado na revista médica JAMA Ophthalmology, da Associação Médica Americana (AMA), que aponta que a miopia - dificuldade de enxergar a distância - é o efeito mais expressivo para a saúde dos olhos durante a pandemia do novo coronavírus.

O levantamento, realizado na China com mais de 123 mil crianças entre 6 e 13 anos, constatou que o isolamento aumentou 400% a prevalência de miopia em crianças com 6 anos de idade. Nos participantes com 7 anos, o aumento foi de 200% e, aos 8 anos, de 40%. "O estado refrativo de crianças mais jovens (6-8 anos) pode ser mais sensível às mudanças ambientais do que as crianças mais velhas, visto que se encontram em um período importante para o desenvolvimento da miopia", conclui o estudo.

Beatriz já passou dessa faixa maior de risco, mas teve de ir ao oftalmologista durante a quarentena. "Ele indicou à jovem usar os dispositivos eletrônicos por um período de 40 minutos seguidos e depois dar um descanso", explica a mãe. "Durante o período de aulas, não existe a possibilidade de fazer esses intervalos", reclama.

O oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier e membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), esclarece que, no caso da pesquisa, trata de uma alteração transitória, a miopia acomodativa, decorrente do excesso de esforço visual para enxergar próximo, que provoca o espasmo dos músculos do olho responsáveis pela alternância do foco para perto, meia distância e longe.

O profissional ressalta que a primeira medida para controlar a miopia causada pelo estilo de vida é intercalar as atividades ao ar livre com o uso dos eletrônicos no dia a dia, inclusive durante a pandemia.

O médico destaca que a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é evitar mais de duas horas ininterruptas diante de uma tela durante a infância. Para atender à demanda da criança por tecnologia, ele orienta intercalar o uso respeitando o tempo preconizado pela OMS com atividades ao ar livre e exposição ao sol.

É importante também ficar atento ao uso indiscriminado de fones de ouvido em volumes altos, que podem causar trauma acústico e perda auditiva induzida pelo ruído.

Estadão
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