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Coronavírus

Teste indica vírus no ar e reforça risco de má ventilação

Pesquisa feita no HC da USP reforça ameaça de transmissão aérea e ajuda a planejar reabertura de escritórios

15 ago 2020 - 10h10
(atualizado às 10h28)
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O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP constatou a presença do novo coronavírus em micropartículas expelidas quando as pessoas falam e mostrou que elas ficam suspensas no ar - reforçando a tese de que a doença pode ser transmitida pelo ar. Essa possibilidade já foi levada em conta por mais de 200 cientistas ao redor do mundo e passou a ser reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no mês passado.

Modelo em 3D do novo coronavírus em imagem de ilustração
25/03/2020
REUTERS/Dado Ruvic
Modelo em 3D do novo coronavírus em imagem de ilustração 25/03/2020 REUTERS/Dado Ruvic
Foto: Reuters

Segundo os pesquisadores, o monitoramento da qualidade do ar dentro dos ambientes e a ventilação, aliados às medidas de higiene e distanciamento, devem ser seriamente considerados na reabertura de espaços fechados, como escritórios.

"A gente já tinha uma boa percepção e conhecimento, em décadas de ciência, de que a falta de ventilação facilita a transmissão de diferentes vírus, como o da gripe, afirma Arthur Aikawa, CEO da startup Omni-electronica e pesquisador responsável pelo estudo.

Estudos com o Sars-coV-1 têm mais evidências, porque houve mais tempo para pesquisar o assunto. Em ambientes mal ventilados, o ar não é trocado e os bioaerossóis ficam suspensos no ar. Isso vai aumentando o risco de contaminação. As pessoas ficam horas em um ambiente fechado, sem máscara e a contaminação acaba se disseminando".

A startup está incubada no Centro de Inovação, Ciência e Tecnologia (Cietec), ligado à Universidade de São Paulo e ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). O projeto recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do VedacitLabs.

Para fazer a pesquisa, um dispositivo de monitoramento da Qualidade do Ar Interior (QAI) desenvolvido pela startup, chamado SPIRI, coletou mais de 20 amostras em ambientes fechados do hospital e foram feitas análises durante dois meses. Mesmo sendo um ambiente hospitalar, o grupo de pesquisadores notou que a ventilação contribuía para a dispersão das micropartículas.

Renovação

Aikawa destaca que, em ambientes de escritório e de lazer, o que se vai ver nos próximos meses "é um receio muito grande para voltar, porque não significa que vai ter 100% de segurança". Já se sabe, pondera, "que é importante aumentar a taxa de renovação do ar, mas não precisa desligar o sistema de ar condicionado, porque a movimentação do ar é importante para que as partículas decantem e se dispersem". Também é importante manter temperatura e umidade adequadas, "evitando que as pessoas fiquem doentes e com a imunidade reduzida".

O dispositivo desenvolvido pela empresa consegue verificar, em tempo real, temperatura, umidade do ar, presença de material particulado, compostos orgânicos voláteis e concentração de dióxido de carbono (CO2), considerado um indicador de eficácia da ventilação em ambientes internos, seguindo padrões da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Um dispositivo é suficiente para uma área de 200 m² e tem o custo mensal de R$ 400.

Ar limpo

O que se recomenda, adverte o CEO da startup, é, se a pessoa não tiver como conseguir construir o sistema de monitoramento, que mantenha o sistema de ar condicionado higienizado, não o desligue e tenha ventilação cruzada". Manter a qualidade do ar e a ventilação não ajuda a reduzir o risco de infecção se as medidas de distanciamento e de higiene não forem cumpridas.

"A gente tem de começar pelo básico. Distanciamento, higienização, usar máscara", aconselha Aikawa.

Tendo investimento, a startup pensa em, no futuro, realizar o mesmo tipo de estudo em transportes coletivos, onde as pessoas ficam fechadas em um ambiente propício a ser mal ventilado. "Daria para fazer um monitoramento e ter amostras em linhas de ônibus para mapear em que linhas e dias estão sendo detectadas micropartículas. Isso poderia ajudar na retomada de forma mais ampla."

Estadão
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