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Coronavírus

Uip reconhece receita de cloroquina, mas não confirma uso

Infectologista afirmou que não tem 'nada contra' cloroquina e que substância está disponível na rede de hospitais paulistas

8 abr 2020 - 14h49
(atualizado às 15h22)
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David Uip, que chefia o Centro de Contingência contra a Covid-19 criado pelo Estado, volta ao trabalho após contrair a covid-19
David Uip, que chefia o Centro de Contingência contra a Covid-19 criado pelo Estado, volta ao trabalho após contrair a covid-19
Foto: Fracisco Cepeda / Estadão Conteúdo

O coordenador do Centro de Contigência para o novo coronavírus no Estado de São Paulo, David Uip, confirmou, na manhã desta quarta-feira, 8, que a receita de cloroquina atribuída a ele é verdadeira. O infectologista vinha sendo questionado nas redes sociais se teria usado o medicamento em seu tratamento contra o coronavírus. Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu que Uip escondia o uso da cloroquina por "questões políticas", já que "pertence à equipe do governador de São Paulo".

"A receita é da minha clínica. Ela é real. Alguém, em algum lugar, vazou essa receita de forma incorreta. Em que nada me preocupa", declarou Uip em entrevista à rádio Gaúcha. O infectologista afirmou que, como homem público, tem a obrigação de ser transparente sobre sua saúde, mas não confirmou se a cloroquina foi usada em seu tratamento contra a covid-19.

"Essa receita é do dia 13 de março. Meu diagnóstico foi em 23 de março. Minha clínica tem hoje 12 médicos, nove infectologistas. Todos muito envolvidos na linha de frente no tratamento de coronavírus. Na clínica tomamos a decisão de comprar diversos medicamentos, entre eles a cloroquina. Ela não foi comprada em farmácia. Foi manipulada. Está à disposição de funcionários de uma clínica que está na linha de frente do enfrentamento do coronavírus. Caso um de nós precisasse, o médico poderia prescrever ou não", disse Uip.

Horas antes, no Twitter, Bolsonaro voltou a defender o uso da cloroquina em pacientes diagnosticados com a covid-19. Em uma das postagens, sem mencionar Uip, o presidente citou um "renomado médico" da equipe do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que estaria se negando, por "questões políticas", a divulgar o tratamento utilizado para se curar do coronavírus. Doria e Bolsonaro têm travado um cabo de guerra nas medidas de combate à pandemia.

Na coletiva diária do governo do Estado de São Paulo nesta quarta-feira, Uip criticou Bolsonaro. "Gostaria de iniciar lamentando que, enquanto a maioria dos brasileiros é e foi solidária, alguns poucos estão preocupados com meu tratamento pessoal, que não tem nenhum valor". O infectologista ainda afirmou que defende a amplicação do uso da cloroquina em pacientes internados, desde que haja prescrição médica e anuência do paciente.

"A cloroquina tem efeitos adversos, cardíacos, hepáticos e visuais. Tem que ser usada com critério, com observação do médico que prescreveu. Presidente, eu respeitei o seu direito de não revelar seu diagnóstico, respeite o meu de não revelar meu tratamento. Presidente, me respeite e respeite o meu direito de privacidade. Minha privacidade foi invadida, minha clínica foi invadida. Tomarei as providências legais", disse.

Doria

O governador João Doria saiu em defesa de Uip e mandou mensagens diretas a Bolsonaro. "Presidente, quando o senhor precisou salvar sua vida, o senhor veio ao hospital Albert Einstein e foi atendido pelos mesmos médicos da equipe que o doutor David Uip participa. O senhor agradeceu naquele momento a esses médicos? E são esses médicos que estão ajudando a salvar a vida de milhões de brasileiros. Respeite os médicos. O senhor pode precisar deles outra vez", afirmou.

O governo de São Paulo foi questionado sobre o uso da cloroquina na rede estadual para o tratamento dos pacientes. De acordo com Uip, o Ministério da Saúde enviou doses suficientes ao Estado do remédio.

O secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann, afirmou que o uso vem sendo feito, mas ressaltou que a cloroquina só é usada quando prescrita pelo médico e quando o paciente aceita o tratamento, de maneira formal, frente aos risco que a substância pode apresentar.

Kalil Filho

Diretor-geral do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, Roberto Kalil Filho afirmou em entrevista à rádio Jovem Pan, na manhã desta quarta-feira, que usou a hidroxicloriquina para tratar a covid-19, junto a outros remédios. Segundo ele, porém, não dá para dizer que o medicamento foi determinante para sua melhora.

"Meu estado geral era péssimo, foi discutido com a equipe vários tipos de tratamentos, dentre eles a hidroxicloroquina, e aceitei", afirmou o médico. "Fiz o uso (da hidroxicloroquina), sim. Melhorei só por causa dela? Provavelmente não. Ajudou? Espero que sim. Tomei corticoide, anticoagulante, antibiótico", disse Kalil Filho.

O médico disse que não quer "influenciar outros tratamentos". "Minha opinião é que independentemente das ideologias, devemos procurar minimizar o dano à população e evitar mortes. Se existe medicação com evidências que pode haver benefícios, aliada a outras medicações, numa situação desta, tem que ser utilizada e ponto".

Estadão
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