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Coronavírus

Uma vacina experimental contra o HIV fracassa na África

Pesquisadores encerraram um grande estudo clínico na África do Sul após descobrirem que imunizante oferecia pouca proteção

2 set 2021 - 15h10
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Pesquisadores anunciaram na terça-feira que um estudo avançado para uma vacina contra o HIV na África foi encerrado após os dados mostrarem que as doses ofereciam uma proteção limitada contra o vírus. A vacina, produzida pela Johnson & Johnson, é uma entre as muitas que oferecem pouca defesa contra o HIV, um dos adversários mais espinhosos da medicina. Uma das candidatas à vacina até mesmo aumentou o risco de infecção.

Outro estudo foi interrompido no ano passado na África do Sul após uma vacina experimental diferente ter fracassado em oferecer proteção suficiente. Cerca de 1,5 milhão de pessoas foram infectadas pelo HIV ao redor do mundo em 2020, e 38 milhões estão vivendo com a infecção.

Os cientistas ficaram consternados com este fracasso mais recente. "Eu já deveria estar acostumada, mas você nunca está - você ainda põe seu coração e alma nisso", disse a Dra. Glenda Gray, a principal pesquisadora do estudo e chefe do South African Medical Research Council.

Gray está trabalhando há mais de 15 anos no desenvolvimento de uma vacina contra o HIV. Abordagens totalmente novas podem ser necessárias. A Moderna anunciou mais cedo, em agosto, que testaria uma vacina baseada na plataforma mRNA utilizada para criar sua vacina contra o coronavírus.

O estudo, chamado Imbokodo, testou uma vacina experimental em 2.600 mulheres jovens consideradas de alto risco para a infecção do HIV em cinco países da África Subsaariana. Mulheres e meninas foram responsáveis por quase dois terços das novas infecções da região no último ano.

O estudo foi financiado pela Johnson & Johnson, Bill and Melinda Gates Foundation e National Institutes of Health. A vacina utilizou um adenovírus chamado Ad26, modificado para transportar fragmentos de quatro subtipos de HIV para dentro do corpo na esperança de provocar uma resposta imunológica que pudesse proteger contra a infecção.

Mitchel Warren, diretor-executivo da AVAC, um grupo que advoga e faz lobby para prevenção e tratamento da AIDS, disse que o cancelamento do estudo foi "um banho de realidade" em meio ao entusiasmo com as novas tecnologias vacinais.

"É um grande lembrete de que o HIV é um patógeno diferente de qualquer outro em sua complexidade", ele disse. "Sabemos que a plataforma funcionou, mas o que colocamos nela?" Porque esse vírus está infectando exatamente o mesmo sistema imunológico que estamos tentando reforçar com uma vacina"

Participantes do estudo Imbokodo, que começou em 2017, receberam duas doses iniciais e dois reforços ao longo de um ano. Os pesquisadores rastrearam os números de novas infecções nos grupos que receberam placebo e no grupo de vacinados do sétimo mês (um mês após a terceira dose) até o vigésimo quarto mês.

Ao longo de dois anos, 63 dos 1109 participantes que receberam o placebo foram infectados com o HIV, comparados a 51 dos 1079 participantes que receberam a vacina - dando à vacina uma taxa de eficácia de 25%. Estudos anteriores, incluindo um realizado na Tailândia, indicaram que os tipos de anticorpos que essa vacina produziu podem ser suficientes para oferecer uma boa proteção ao HIV pelo menos em um momento inicial.

"Mas na África do Sul, as altas taxas de incidência de HIV significam que você precisa de algo muito mais potente", Gray disse. "Os tipos de respostas imunológicas induzidas simplesmente não foram suficientes para interromper as altas taxas de infecção que vemos na África"

Quando os dados decepcionantes mostraram uma taxa de baixa eficácia, as diretrizes estabelecidas antes do estudo determinavam que ele deveria ser encerrado. Uma vacina que oferecia apenas 25% de proteção corria o risco de dar às mulheres uma "falsa sensação de segurança", Gray disse.

Mas um estudo paralelo que usa uma interação diferente dessa vacina vai continuar, disse a Johnson & Johnson. Está sendo testado em homens que fazem sexo com homens e em pessoas trans, em oito países incluindo a Polônia, o Brasil e os Estados Unidos. Esse estudo, chamado Mosaico, está testando a vacina contra diferentes subtipos de HIV em populações diversas, e poderia produzir resultados diferentes de eficácia.

Gray disse que a lição do fracassado estudo está em descobrir por que funcionou para 25% das pessoas que ficaram protegidas e não para as outras, e então tentar traduzir essas pistas em uma receita para uma futura vacina. / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Estadão
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