Vacinação em crianças tem livros, balões e show de palhaço
Pelo menos nove capitais já abriram os postos de saúde para aplicar doses na faixa entre 5 e 11 anos; alívio e emoção marcam o dia dos pais
RECIFE E FORTALEZA - Chegou a vez de as máscaras coloridas e de super-herói tomarem conta dos postos de saúde para a vacinação contra a covid-19. A aplicação de doses em crianças de cinco a onze anos começou em pelo menos nove capitais pelo Brasil, com direito a distribuição de livros infantis, doces, certificado e shows de palhaços. Entre os pais que levaram os pequenos para tomar a esperada injeção, o sentimento foi de alívio.
"Minha mãe disse que não é para ter medo da injeção porque lá dentro tem um remédio muito importante para poder continuar indo na minha escola e brincar com meus amigos", diz Isadora, de sete anos, que recebeu neste sábado, 15, as gotinhas da Pfizer no braço. A criança tem síndrome de Down e problemas cardíacos.
A mãe - a dentista Helena Gouveia, de 42 anos - não segurou as lágrimas. "É muito mais que um sonho. Espero que em breve todas as crianças tenham a mesma bênção", afirma ela, de Recife.
A capital pernambucana iniciou a vacinação de forma simbólica na sexta-feira, 14, e abriu para os postos de saúde neste sábado para o público prioritário (com doenças neurológicas, Down, autismo, entre outros). No Recife, em troca da agulhada, as crianças ganham livro infantil e um certificado de "supervacinado". Cidades da região metropolitana também distribuíram doce e pipoca.
Para João Lucas, de Fortaleza, a vacina foi o presente de aniversário: ele completa 12 anos neste sábado. "Com tantas notícias ruins e doenças surgindo, a única esperança é a vacina", afirma o tio, José Augusto Silva. Segundo ele, o imunizante é um divisor de águas, que dá tranquilidade para que o garoto leve uma vida normal e frequente a escola. E João Lucas garante que a injeção não é nenhum sacrifício. "Não doeu. Foi rápido."
O Centro de Eventos de Fortaleza, local escolhido para iniciar esta etapa da vacinação, ficou até mais colorido. Um grupo de palhaços arrancou sorrisos da criançada na hora da vacinação. De brinde, os pequenos também levaram para casa balões artísticos. A previsão é de aplicar doses em 400 crianças. Na capital cearense, a imunização segue o critério da idade.
Pai que perdeu mulher para o vírus leva filho para vacinar
Em outros casos, a emoção também trazia a saudade de quem não pôde testemunhar este momento. "Perdi minha esposa para a covid em julho de 2021. Meu filho é autista e tem problemas renais e sei como essa vacina é importante para sua proteção", conta o professor Paulo Duarte, de 34 anos, que já tomou as duas doses e o reforço.
Ele e Eduardo, de nove anos, foram os primeiros a chegar ao postos de vacinação na Grande Recife. "Só vendo ele receber esse início de imunização é que meu coração ficou mais tranquilo", desabafa. Em outras capitais, como São Paulo e Rio, a vacinação começa somente na segunda-feira, 17.
O segundo lote de imunizantes pediátricos ao Brasil, segundo o Ministério da Saúde, chega neste domingo, 16. As vacinas para crianças usam dosagem menor e o intervalo de aplicação é de oito semanas.
Imunizante é seguro e usado em mais de 40 países
A vacinação contra a covid-19 começou no País nesta sexta-feira, 14, quase um mês após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) dar aval ao imunizante. Contrário à vacinação, o governo Jair Bolsonaro colocou em xeque a segurança e a eficácia da vacina e convocou uma consulta pública sobre o assunto, embora o produto seja recomendado por médicos, cientistas e usado em mais de 40 países.
A aplicação da vacina em crianças é fundamental para ajudar no controle da transmissão do vírus e proteger os mais novos que, embora não sejam o grupo mais vulnerável à doença, também têm riscos de complicações.
Segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, 1.148 crianças de 0 a 9 anos morreram de covid no País desde o início da pandemia. Supera o total de mortes infantis por doenças preveníveis com vacinação ocorridas entre 2006 e 2020 no Brasil (955). / COLABOROU JOÃO KER