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Coronavírus

Vacinas devem gerar maior desafio logístico desde 2ª Guerra

Diante da mobilização mundial é desolador assistir ao isolamento do governo brasileiro

23 dez 2020 - 05h10
(atualizado às 08h48)
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Em breve, várias vacinas contra o coronavírus estarão disponíveis para distribuição e aplicação em massa, após certificadas pelas agências reguladoras. A corrida para desenvolver e colocar no mercado uma vacina requer sequência de procedimentos em várias etapas, até chegar aos testes clínicos em humanos. A partir da certificação, porém, o desafio maior será o de vencer os obstáculos logísticos para a sua produção, estocagem, transporte, distribuição e aplicação. Por isso, enquanto várias empresas farmacêuticas em todo o mundo se apressam para colocar sua vacina no mercado, empresas de logística e governos estão se preparando para vencer o maior desafio logístico em escala planetária desde o fim da 2.ª Guerra Mundial.

Frascos rotulados como de vacina contra Covid-19 em foto de ilustração
04/12/2020 REUTERS/Dado Ruvic
Frascos rotulados como de vacina contra Covid-19 em foto de ilustração 04/12/2020 REUTERS/Dado Ruvic
Foto: Reuters

Nos Estados Unidos e na União Europeia, empresas de logística têm buscado superar os obstáculos que possam retardar o desenvolvimento e a distribuição da vacina. A corrida para a fabricação resultou, obviamente, numa corrida para garantir tanto o abastecimento de insumos diversos como as formas de acondicionamento e preservação. Para ficar apenas em um exemplo banal: os frascos de vidro. A cadeia de suprimentos do vidro envolve um mercado de crescimento lento. Neste caso, especialistas temem que o aumento exponencial da demanda possa eventualmente dificultar a produção de frascos para os bilhões de doses de vacinas necessárias.

Por outro lado, a escala e a complexidade da logística exigida para acondicionar, transportar, estocar e distribuir as vacinas lançam um desafio inédito. Para ter uma ideia, a UPS construiu dois gigantescos silos de baixa temperatura em Louisville e em Roterdã, seus grandes centros de distribuição global. Com isso, terá capacidade para armazenar cerca de 60 milhões de doses da vacina. Por seu turno, a FedEx já havia implantado sua infraestrutura de silos refrigerados há quase uma década, em resposta ao surto de H1N1. Hoje, possui 90 instalações de estocagem a frio em todo o mundo, além do monitoramento da localização das remessas por bluetooth, em tempo real. A Pfizer, por sua vez, montou uma gigantesca infraestrutura de armazenamento refrigerado em Kalamazoo, com capacidade de armazenamento de milhões de doses. Para manter as vacinas seguras durante o transporte, a Pfizer desenvolveu um contêiner de pequeno porte reutilizável, capaz de manter entre mil e 5 mil doses em temperaturas ultrafrias por até dez dias, com rastreamento em tempo real. A vacina chinesa Sinovac, por seu turno, também induziu mudanças importantes nos seus processos de estocagem e distribuição das vacinas, para além do território chinês.

Por outro lado, a americana Covaxx fechou um acordo com a dinamarquesa Maersk (navegação e logística terrestre) para distribuição mundial da sua vacina, assim que obtiver a aprovação das autoridades reguladoras. A Maersk supervisionará todas as atividades de logística, garantindo transporte eficiente para os países em desenvolvimento. Ela fará o gerenciamento de ponta a ponta da cadeia de abastecimento, embalagem e envio - via aérea ou marítima -, transporte terrestre, armazenamento e distribuição para instalações de apoio, numa cadeia logística com temperatura integralmente controlada em grau farmacêutico.

Em suma, governos e empresas farmacêuticas e de logística estão correndo para garantir que a infraestrutura de apoio esteja pronta quando as vacinas estiverem disponíveis. Garantir a distribuição e a aplicação da vacina exigirá esforços inéditos, com impactos no transporte aéreo e nos sistemas de distribuição terrestres. Diante da mobilização mundial e considerando a respeitável experiência do Brasil em campanhas de vacinação, é desolador e frustrante assistir ao isolamento catatônico do governo brasileiro, que insiste em menosprezar a gravidade, o alcance, os efeitos da pandemia e, ipso facto, as vacinas. No entanto, merecem o respeito e a gratidão de todos os brasileiros os profissionais da saúde, cientistas e pesquisadores que bravamente mantiveram seu compromisso com a Ciência, o humanismo e a compaixão pelo sofrimento.

* Economista, consultor de entidades públicas e privadas, é coordenador do Núcleo de Estudos Urbanos da Associação Comercial de São Paulo

Estadão
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