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Coronavírus

Vacinas não controlam epidemia isoladamente, diz Dimas Covas

O diretor do Instituto Butantan defendeu a adoção de outras medidas para conter a pandemia

9 abr 2021 - 10h10
(atualizado às 10h17)
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O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse, em entrevista ao "Papo com Editor", do Broadcast Político, que as vacinas, por mais eficientes que possam ser, não controlarão sozinhas epidemias de covid-19.

Ele é um dos mais ferrenhos defensores de um rígido isolamento social, por ao menos quatro semanas, para frear curvas epidemiológicas do coronavírus. Mas admite a dificuldade de se adotar uma medida radical como essa, diante das pressões política e social.

Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes
Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes
Foto: Divulgação/Governo do Estado de SP / Estadão

Na avaliação do médico, o Brasil continuará a ser "o campeão mundial" de mortes por covid-19 e o ano de 2021 será marcado pela vacinação e luta contra a pandemia sem um controle centralizado e federal para o combate à doença.

"Vacinas, isoladamente, não vão controlar a epidemia. A percepção é de que, antes de tudo, devemos combater a epidemia e usar os mecanismos básicos, com recursos que podem diminuir a mortalidade. Vacina não tem poder de acabar com vírus", disse ele ao programa, que completa um ano nesta edição.

Para Covas, o ritmo de geração de novas e sucessivas gerações de variantes do coronavírus é muito elevado neste momento. "E pode ser que a resposta vacinal às primeiras variantes não sejam mais efetivas", disse. "Muito provavelmente o coronavírus vai se comportar como vírus da gripe, ocorrendo de forma endêmica com picos sazonais. É possível que tenhamos necessidade de vacinações sazonais".

Críticas ao negacionismo

Dimas Covas disse ainda que o negacionismo é um grande aliado do vírus causador de mais de 340 mil mortes. Para ele, além do presidente Jair Bolsonaro, parte da sociedade brasileira também tem culpa, ao negar a gravidade da doença, a efetividade de medidas de isolamento e adotar tratamentos sem eficácia.

"Estamos perdendo para o negacionismo. O grande aliado do vírus hoje e a grande contribuição para o pico explosivo é o negacionismo. A sociedade também está escolhendo isso", disse. "O líder, governante, tem uma parte importante (de culpa), inclusive na educação sanitária e, talvez, o maior exemplo vem do maior mandatário da nação", completou na entrevista que marca um ano do programa.

O pesquisador atribuiu a declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, o motivo de o presidente Jair Bolsonaro, ter se transformado de negocionista a defensor da vacina. "Ponto que foi o marcador foi quando o ministro Guedes, o todo-poderoso da economia, disse que a economia só voltaria a crescer se houvesse vacinação em massa. Foi importantíssimo uma alta autoridade da República admitindo que a vacinação era necessária, não por motivos sanitários, mas por motivos econômicos".

Para Covas, o negacionismo do governo federal desde o início da pandemia também causou gargalos para a produção da Coronavac, principal imunizante aplicado hoje no País, desenvolvido pelo Butantan e a chinesa Sinovac para o tratamento da covid-19. A dificuldade de importação do insumo farmacêutico tem prejudicado a produção da vacina, mas ainda não houve paralisação no fornecimento.

"O Butantan, em julho do ano passado, ofereceu 100 milhões de doses ao Ministério da Saúde, repetiu a oferta em agosto, setembro, e outubro. Fomos contratados em janeiro. Não é possível decidir uma produção tão complexa como a da vacina em dois ou três meses", explicou.

Estadão
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