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Coronavírus

Vítima de covid-19, grávida do Recife teria terceiro filho

Viviane Albuquerque, de 33 anos, estava na 31ª semana de gravidez; bebê foi encaminhado para UTI

6 abr 2020 - 17h01
(atualizado às 17h23)
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Viviane Albuquerque estava na 31ª semana de gestação
Viviane Albuquerque estava na 31ª semana de gestação
Foto: Reprodução/Instagram

RECIFE - Não fosse o novo coronavírus, Juninho deveria ter vindo ao mundo entre os meses de maio e junho. Internada em um hospital particular do Recife com covid-19, a mãe Viviane Albuquerque, de 33 anos, precisou ser submetida à cirurgia cesariana de emergência, ainda na 31ª semana de gravidez, após sofrer agravamento do quadro clínico. Em estado grave, o bebê foi encaminhado à UTI depois do parto. Já Vivi, como era chamada, até então uma mulher saudável e ativa, não resistiu às complicações da doença e se tornou na noite de domingo, 5, a primeira gestante vítima da epidemia em Pernambuco.

Vivi já era mãe de duas garotinhas, gêmeas de apenas 6 anos, e morava com as filhas, a mãe e um papagaio, chamado Menininho José, em um apartamento na Boa Vista, bairro no centro do Recife. Fisioterapeuta e professora de ensino superior, dividia a rotina abarrotada entre a família, o trabalho e os estudos. Neste ano, ela concluiria sua segunda graduação, em Direito.

A nova gravidez - desta vez, de um garoto - não foi planejada: mas ela recebera a notícia com alegria, segundo relatam amigos. "Esse bebê era o sonho da vida dela. O enxovalzinho já estava todo pronto, ela mandava foto do quartinho, que já estava ficando pronto, pedia dica de que cor para a parede…", conta a vizinha e amiga próxima Beth Costa, de 35 anos. "Estava muito feliz, mas também muito preocupada com o coronavírus."

Fruto da relação com o atual namorado, o menino receberia o nome de Erick, assim como o pai. A única dúvida era se ganharia nome composto de David, o "rei amado", como Vivi escreveu em uma rede social. Na família, no entanto, todos passaram a chamar o bebê de Juninho.

Religiosa, a fisiterapeuta era devota de Nossa Senhora da Conceição, santa para quem o Recife dedica feriado, embora não seja a padroeira da cidade. Ela também tinha o hábito de mobilizar campanhas de solidariedade, segundo amigos. "Pedia para recolher brinquedos, por exemplo, para fazer doação. Era uma pessoa nota mil, estava sempre à disposição para ajudar", afirma Beth. "Outro dia, comentou comigo que estava muito feliz porque tinha levado uma criança de rua pela primeira vez a um restaurante."

Recentemente, a própria vizinha precisou da ajuda de Vivi depois que a filha de 10 anos sofreu um acidente doméstico e lesionou o joelho. "Ela se prontificou a fazer as sessões de fisioterapia na minha casa. Só interrompemos o tratamento por causa do isolamento social", conta.

Alegria

Outra característica dela era a alegria, dizem os amigos. Divertida, a fisiterapeuta ensinou Menininho José, o papagaio, a cantar o grito de guerra do Sport, seu time do coração. Também gostava de festa e de carnaval, mas quase desistiu do último Galo da Madrugada, o bloco mais tradicional de Pernambuco, por causa do novo coronavírus.

Em homenagem no Facebook, uma ex-aluna postou um vídeo com uma festinha de aniversário que Vivi ganhou na faculdade onde dava aula. "Para mim, esse bolinho simboliza o carinho de cada um de vocês. Isso, para mim, é louvável. Sucesso não é só dinheiro, em si", ela diz na gravação.

No Instagram, Vivi costumava publicar fotos se exercitando na academia e divulgava informações sobre cuidados com a gestação. Era fisicamente ativa e não tinha histórico de doenças, segundo os amigos. Ninguém sabe dizer como ela pode ter contraído o covid-19.

Preocupada com a gravidez, a fisioterapeuta foi ao hospital na última segunda, 30, sentindo falta de ar e um pouco de febre. Após testar positivo para coronavírus, o quadro se agravou rapidamente e Vivi ficou internada na UTI até passar, às pressas, pela cesárea no fim de semana. Até o momento, Pernambuco confirma 201 casos e 21 mortes - estatísticas que ainda não incluem o caso da gestante.

"As pessoas precisam entender que não é uma gripezinha. Fiquem em casa. Protejam as pessoas que você ama", diz Beth. "A gente perdeu uma pessoa muito amada e cheia de planos. Ninguém pode brincar com isso."

Estadão
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