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Coronavírus

Vitor Hugo: "Vejo excesso de críticas de Maia ao Executivo"

Líder do governo na Câmara diz que, na crise causada pela covid-19, todos os Poderes têm responsabilidade

14 abr 2020 - 05h10
(atualizado às 07h30)
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Homem de confiança do presidente Jair Bolsonaro, o líder do governo na Câmara, Vitor Hugo (PSL-GO), afirmou, em entrevista ao Estado, que o governo passou a investir na relação direta com líderes de partidos do Centrão. A estratégia, que contraria o que o presidente pregou durante seu primeiro ano de mandato, é uma tentativa de esvaziar os poderes dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), até agora os principais interlocutores do Palácio do Planalto no Legislativo.

Vitor Hugo, líder do governo na Câmara
Vitor Hugo, líder do governo na Câmara
Foto: Isac Nóbrega/PR

Para Vitor Hugo, a mudança de rota é reflexo da conduta dos chefes do Legislativo. "Vejo é um excesso de críticas em relação ao Executivo."

O governo mudou de postura em relação ao Congresso? Vai passar a negociar com líderes de partidos, como começou a fazer na semana passada?

Como um todo o Brasil vai sair diferente da crise. Uma das consequências é a necessidade de aproximação, ainda mantendo a independência, mas buscando uma relação mais direta com o Legislativo. Estou sentindo do presidente e ministros uma disposição maior para interagir de maneira direta sem que necessariamente tenha que passar pelos presidentes das duas Casas (Maia e Alcolumbre).

O governo quer ter uma base parlamentar agora?

Eu não sou a pessoa mais adequada para responder isso, mas pode dizer que com certeza o governo quer ter uma relação mais direta com os líderes e os partidos.

E o presidente da Câmara?

O caso do Rodrigo Maia é bem particular. Ele, embora tenha um poder de articulação muito grande dentro da Câmara, tem uma rejeição muito grande fora do Parlamento. Parte da população o vê de modo negativo. As lideranças esperavam que, como no passado, o líder do governo fosse o grande gestor de liberação de emendas para a base. E a decisão do governo de não se aproximar diretamente dos líderes também dificultava e fazia com que eles fossem articular e acessar o governo pelo presidente da Câmara.

Isso deu superpoderes ao Maia?

Isso certamente contribuiu para o protagonismo que ele teve no ano passado. Embora uma parte da população tem uma visão negativa do Rodrigo.

Aliados do presidente acusam Maia de aproveitar a crise do coronavírus para se promover politicamente. O sr. também pensa assim?

Todos os poderes têm responsabilidade sobre a crise. Ele é chefe de uma das casas e é natural que ele queira dar satisfação à população. O que eu vejo, muitas vezes, é um excesso de críticas em relação ao Executivo.

Apesar de reuniões com as lideranças nos últimos dias, o governo sofreu uma derrota nesta segunda, 13, com a aprovação do auxílio emergencial para Estados e Município. O que deu errado?

A minha avaliação é que a aproximação deu certo. Sentimos nos líderes que participaram das reuniões a vontade de acertar, mas existe um apelo para ajudar de governadores e prefeitos. O governo quer ajudar também, mas a forma que está sendo feita não ficou correta, justa e factível. Gera insegurança, porque o critério de distribuição de ISS e ICMS é complexo. É difícil até apurar a defasagem. Ao invés de escolhermos a divisão per capita, escolhemos um critério ruim e ainda legitima o governador e o prefeito, que, sem considerar os efeitos econômicos das medidas que estão adotando. Na verdade, essa forma de distribuição fragiliza a retomada econômica e o compromisso de governadores e prefeitos para essa retomada.

O governo seguirá tentando aproximação dos líderes?

Vamos seguir. Essa aproximação com os líderes não precisa ensejar o isolamento dos presidentes da Câmara e do Senado. O governo quer ter e precisa ter uma relação institucional. Sabemos que a depende da maneira que o Maia interprestasse essa aproximação, poderia dificultar a relação, mas não está gerando um ruído com ele.

Essa aproximação com os líderes não é uma contradição com o que o governo sempre disse: de que não negociaria com partidos, mas com bancadas temáticas?

Eu falava isso lá atrás e repito agora interesse de escantear os partidos.Conversar com bancadas temáticas e transversal não é excluir os partidos, é uma conversa transversal. Isso não precisa ofuscar a relação que o governo pode ter com os partidos. Acredito que isso ficará cada vez mais azeitado com o tempo.

Esta nova postura é reflexo das dificuldades que o Executivo encontrou no primeiro ano?

Foi um primeiro ano difícil, o presidente foi eleito por dois partidos (PSL e PRTB) pequenos e não loteou os ministérios. Acho que eram normais essas faíscas. Agora, com a crise, a necessidade se colocou mais alta. É a chance de aproximar. Isso não quer dizer que eles vão assumir que são governo, mas vão se sentir mais próximos. Quando o governo for apresentar uma medida provisória ou projeto de lei, vai poder discutir antecipadamente a forma e o conteúdo.

Após um ano no cargo, as pessoas o veem como um articulador político?

O discurso que trouxe o presidente ao poder, que colocava em xeque o próprio Parlamento, criava dificuldades. Cheguei lá (na Câmara) como deputado de primeiro mandato, como representante de um presidente que questionou o sistema. É natural que houvesse uma resistência inicial.

Isso aconteceu no caso do auxílio emergencial?

No caso do auxílio emergencial, o Paulo Guedes (ministro da Economia) anunciou e a Câmara começou a discutir. A definição dos critérios para poder o auxílio emergencial tem que ser muito bem feito, porque se não o governo não consegue individualizar quem é o beneficiário. Era coisa que poderiam ser construída juntos, ou aguardar para o governo apresentar uma proposta melhor.

Como o senhor avalia o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta?

Ele conduziu o início do enfrentamento à pandemia de forma coerente com o que ele acreditava. Como subordinado ao presidente, tem que haver um esforço maior para compatibilizar a forma como ele vê o problema com as diretrizes maiores, que são do presidente, que é quem foi eleito. A solução da crise não será só no âmbito do Ministério da Saúde.

E como o sr. vê a postura do presidente, que tem ignorado recomendações do Ministério da Saúde e ido ao encontro de pessoas em aglomerações, a exemplo do que ocorreu no sábado em Goiás?

Não foi o presidente que estimulou as pessoas estarem lá. Não vejo a atitude do presidente como uma afronta a quem defende o isolamento total. Ele vai ver um hospital, as pessoas querem vê-lo e ele vai agradecer o apoio. Tem que ver as atitudes dele como presidente.

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