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CPTRGS: Cultos Satânicos não vem da África pois pertencem ao Cristianismo

"Nós, Povo de Terreiro, rejeitamos categoricamente a existência do diabo e de demônios", explica líder religioso.

11 nov 2024 - 15h04
(atualizado às 15h13)
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Reportagem exclusiva Lelê Pereira - @reporterlelepereira

Foto: Imagem Ilustrativa / Freepik / Porto Alegre 24 horas

"Nós, Povo de Terreiro, rejeitamos categoricamente a existência do diabo e de demônios", explica líder religioso.

Assim diz a nota oficial do Conselho do Povo de Terreiro do Rio Grande do Sul (CPTRGS), entidade oficial do Governo do Estado que delibera sobre as questões ligadas às casas de Religião de Matriz Africana e Afro-brasileiras.

A nota, divulgada em 17 de Agosto de 2024, e assinada pelo seu presidente, Baba Diba de Yemonjá, uma das maiores autoridades político/religiosas do RS, tem por finalidade esclarecer à comunidade sobre equivocadas associações das práticas religiosas das Religiões de Matriz Africana e Afro-brasileiras (Nação, Umbanda, Quimbanda e Candomblé) com rituais ligados à Satanás, Lúcifer e Belzebu. Segundo Baba Diba, "…é crucial frisar que entidades como Satanás, Lúcifer, Diabo, Belzebu, Asmodeus, Astaroth, entre outros, são parte do sistema de crenças judaico-cristās e satanistas, não integrando nosso panteão espiritual".

Este tema veio novamente ao debate esta semana, após o anúncio da Nova Ordem Luciferiana na Terra (NOLT) de que obtiveram licenças para a instalação de três templos em homenagem a Satanás, Lúcifer e Belzebu, na cidade de Gravataí. Em sua conta oficial de Instagram, um dos líderes da Ordem, Mestre Lukas, desafia a Prefeitura, a quem acredita que poderão cassar as licenças, como fizeram quando da tentativa de fundação de um Santuário Luciferiano, pela mesma Ordem, na área rural do município, que contaria com uma estátua de 5 metros em homenagem a Lúcifer. O fato aconteceu no mês de agosto e teve o local interditado pela Prefeitura, através de ordem judicial. Segundo as autoridades municipais, o local não tinha alvará para funcionamento. A NOLT passou, então, a providenciar a documentação exigida, e para isso, tentou se utilizar de uma Lei Municipal que rege os direitos das Casas de Matriz Africana e Afro-Umbandistas, tendo seu pedido indeferido.

Em entrevista ao Site Seguinte, em 01/11, o secretário em exercício da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Rodrigo Silva, explicou o indeferimento. Segundo ele, "houve uma análise de viabilidade, que antecede o processo de alvará, para verificar se as atividades estavam de acordo com o endereço apresentado… a organização religiosa não pode ser enquadrada na Lei nº 4.104/2019, que regra o funcionamento de terreiros de Matriz Africana e Afro Umbandistas, por usar de "práticas diferentes" e não possuir filiação ao Conselho Municipal do Povo de Terreiro de Gravataí (CMPTG), que é um dos documentos exigidos pela Prefeitura."

Além disso, para se filiarem ao CMPTG, a NOLT teria que obter a aprovação de uma maioria de conselheiros, atestando que suas atividades estariam de acordo com as atividades exercidas pelas religiões defendidas pelo Conselho, o que aconteceu em votação realizada em 09/10. Contudo, a Procuradoria-Geral do Município constatou que alguns dos conselheiros votantes não tinham legitimidade para se manifestarem em voto, por falta de comprovação documental.

Sobre a questão sagrada do culto religioso, as atividades relacionadas à Nação, Umbanda, Candomblé e Quimbanda se confundem com as de cultos a demônios, mas não se tratam da mesma coisa. E isso fica evidente pelo fato de muitas casas atuarem nos dois ou mais lados, tendo dias diferentes para cada uma das celebrações. E esta mistura faz com que as pessoas sem conhecimento acreditem se tratar todas da mesma religião.

Para o Professor Márcio de Jagun, uma autoridade nacional em assuntos de Teologia Iorubá, Advogado e Babalorixá, tendo sido cotado para ser Ministro dos Direitos Humanos, recentemente, "As religiões de matrizes africanas não cultuam, em seu Panteão deídico, essas entidades. Nem mesmo o culto a Èṣù pode ser comparado, ou sincretizado nesse contexto" disse ele a nossa reportagem. "Nas tradições de Umbanda e de Candomblé, não existe nenhuma liturgia a seres malignos. Trata-se de uma deturpação resultante dos efeitos da colonialidade.", completou.

Por outro lado, precisamos desmistificar pré conceitos da sociedade que, por desconhecimento, disseminam falsas informações. Neste contexto, também conversamos com Danilo Coppini, um importante líder da Quimbanda Luciferiana. Perguntamos a ele sobre um medo popular de que o culto satânico se utilize de sacrifícios humanos. Ele respondeu: " Isso é mito!" E ele se preocupa em desmistificar isso. Recentemente ele moveu um processo contra alguém que culpou a Quimbanda Luciferiana pelos desastres naturais no Sul do Brasil. Segundo ele, seu filho sofreu bullying na escola, por conta disso. Outra preocupação de Coppini é quanto aos exageros praticados por alguns praticantes da religião, classificados como "marmotagem". E, por fim, diz que "a reportagem vai atingir pessoas que apenas pensam diferente." E deseja que "ela traga bons frutos".

É importante ressaltar que o Brasil é um país laico, que protege o direito ao culto religioso. A Constituição Federal do Brasil, no artigo 5º, VI, garante a liberdade de consciência e de crença, e o livre exercício dos cultos religiosos. A lei também assegura a proteção aos locais de culto e às suas liturgias. Além disso, a Lei nº 20.451, de 22 de abril de 2019, prevê o combate à intolerância religiosa e a garantia da liberdade religiosa.

Isso é destacado na nota do CMPTG: "O artigo 5º, inciso VI, da Constituição Federal brasileira, garante a liberdade de crença, e este Conselho defende de maneira intransigente esse direito", destaca.

Confira a íntegra da nota:

NOTA DE ESCLARECIMENTO

"Em decorrência de fatos relacionados a construção de um templo em homenagem à

Lúcifer na cidade de Gravataí, o Conselho do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul, vem a público esclarecer alguns pontos fundamentais. É importante ressaltar que a crença em figuras como Lúcifer pertence ao contexto do Cristianismo e do Satanismo, não fazendo parte das Tradições de Matriz Africana, Umbanda e Quimbanda. Nós, Povo de Terreiro, rejeitamos categoricamente a existência do diabo e de demônios. Qualquer menção a esses seres, especialmente nos pontos cantados da Quimbanda, reflete o histórico sincretismo imposto pela Igreja Católica, que visou deslegitimar nossas práticas ancestrais, sendo usadas exclusivamente como estratégia de sobrevivência.

O artigo 5º, inciso VI, da Constituição Federal brasileira, garante a liberdade de crença, e este Conselho defende de maneira intransigente esse direito. Entretanto, é crucial frisar que entidades como Satanás, Lúcifer, Diabo, Belzebu, Asmodeus, Astaroth, entre outros, são parte do sistema de crenças judaico-cristās e satanistas, não integrando nosso panteão espiritual.

Reforçamos nosso compromisso com a preservação e o respeito às tradições de matriz africana, Umbanda e Quimbanda, rejeitando quaisquer tentativas de desinformação que busquem associar nossas práticas sagradas a conceitos alheios às nossas crenças ancestrais.

Porto Alegre, 17 de agosto de 2024, ano de Èşü.

Baba Diba de lymonjá - Presidente do CPTRGS"

Reportagem exclusiva Lelê Pereira - @reporterlelepereira

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