Crise no PSL aumenta e deputados abrem guerra para indicar novo líder
Em mais uma etapa da crise no PSL, parte da bancada de deputados do partido do presidente Jair Bolsonaro anunciou na noite de quarta-feira a derrubada do Delegado Waldir (GO) da liderança da legenda e a nomeação de Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente, em seu lugar.
No ápice até o momento da crise que o partido enfrenta, com troca de acusações e traições de ambos os lados, Eduardo também foi destituído da liderança pouco após ser nomeado, e logo depois foi recolocado novamente na posição.
A indicação dos líderes de bancada costuma ser feita uma vez ao ano por votação, mas pode haver troca através da apresentação de listas de assinatura à secretaria da Mesa da Câmara, desde que os deputados consigam maioria simples na bancada.
Na noite de quarta-feira, os parlamentares dissidentes do PSL apresentaram uma lista com 27 assinaturas indicando Eduardo como líder -- apenas um a mais que o mínimo necessário na bancada de 53 deputados. Em seguida, parlamentares ligados a Waldir apresentaram uma segunda lista, com 32 nomes.
"Depois que apresentamos a primeira lista com os 27 nomes, o Waldir protocolou uma lista com 32 nomes, que ele já tinha colhido assinatura antes, dos quais cinco assinaram a nossa. Protocolaram essa lista para tentar destituir a nossa, mas nós já tínhamos uma segunda lista e protocolamos promovendo de novo Eduardo para a liderança", disse à Reuters a deputada Carla Zambelli, uma das líderes do grupo dissidente.
As duas listas terão ainda que ser checadas pela administração da Casa e a autenticidade das assinaturas, conferida. Em princípio, a lista que vale é a última apresentada, se não houver erros. Mas a troca precisa ser chancelada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para entrar em vigor.
O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), disse em entrevista que a decisão dos parlamentares foi tomada pelas ações de Waldir, que passou a trabalhar contra o governo, citando a decisão do parlamentar de orientar obstrução na noite de terça-feira quando a Câmara tentava votar a medida provisória de reestruturação de ministérios, que caducava na quarta.
"Diante disso a maioria nesse momento decidiu destituir o líder atual e nomear o nosso novo líder", afirmou.
Zambelli explicou que a escolha de Eduardo foi por se tratar de um nome que ajudaria a atrair mais parlamentares para o lado dos dissidentes. Durante o dia, o próprio presidente Jair Bolsonaro teria entrado em campo para atrair votos para seu filho.
Mais cedo, Waldir acusou o presidente de chamar deputados no Planalto e de ligar para outros tentando convencê-los das vantagens de ter Eduardo como líder.
"O presidente da República está ligando para cada parlamentar e cobrando o voto no filho do presidente", disse Waldir a jornalistas. "Ele age pessoalmente ao chamar vários parlamentares e ligar pessoalmente para vários deputados com essa pressão psicológica dessa questão de cargos e outras situações."
No final da noite, o jornal O Globo publicou o áudio de uma dessas falas do presidente, em que ele aparece dizendo que faltaria apenas uma assinatura para "tirar o líder" e ressaltando que o líder do partido e o presidente tem o poder de "indicar pessoas, de arranjar cargos no partido, promessa para fundo eleitoral por ocasião das eleições."
O Planalto não comentou a gravação.
A disputa pelo poder no PSL vem crescendo há algumas semanas, mas ganhou publicidade na semana passada, quando Bolsonaro foi gravado ao dizer para um apoiador para "esquecer o PSL" e que o presidente nacional da sigla, Luciano Bivar, estava "queimado". Na terça-feira, Bivar foi alvo de mandados de busca e apreensão da Polícia Federal em investigação sobre suspeita de fraudes no uso de recursos do fundo partidário em candidaturas-laranjas do partido. Ele nega irregularidades.
Parlamentares insatisfeitos se reuniram com o presidente e se iniciou um movimento para tentar encontrar uma solução para uma debandada do partido mas que não colocassem em risco o mandato dos parlamentares que, ao trocar de sigla, podem ser atingidos pela lei da fidelidade partidária.
Nesta quarta, ao ser indagado sobre a crise, Bolsonaro disse que não estava falando nada sobre PSL e que não queria "tomar" o partido de ninguém.