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Daniel Haidar

MPF vai à Justiça contra novo sequestro do 7 de setembro

Procuradoria exige pedido de desculpas das Forças Armadas por uso político do Bicentenário da Independência

27 fev 2023 - 17h13
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O ex-presidente Jair Bolsonaro e a primeira-dama, Michele, com o empresário Luciano Hang, no 7 de Setembro
O ex-presidente Jair Bolsonaro e a primeira-dama, Michele, com o empresário Luciano Hang, no 7 de Setembro
Foto: Wilton Júnior/Estadão / Estadão

O Ministério Público Federal (MPF) recorreu à Justiça para evitar que as Forças Armadas se prestem novamente a permitir o uso político do desfile militar de 7 de setembro. A medida é uma reação tardia a evento de campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro no Bicentenário da Independência.

No 7 de setembro do ano passado, mesmo cobrados pelo Ministério Público a não partidarizar a celebração da Independência, os comandantes das três Forças Armadas transferiram as comemorações oficiais para a Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio, de modo a fazer essa celebração a poucos metros de um evento de campanha de Jair Bolsonaro. Todo o aparato militar foi posto à serviço do interesse eleitoral do ex-presidente.

“Ao organizar evento alusivo ao bicentenário da independência do Brasil, os comandantes das forças tinham plenas condições e elementos para conferir-lhe o caráter patriótico sem indicar preferências partidárias. Não obstante, como a apuração demonstrou, houve atuação ineficaz e tomada de decisões que convergiram para a confusão entre os eventos, em claro desvio de finalidade aos propósitos de comemoração da data festiva”, argumentam na ação judicial os procuradores Jaime Mitropoulos, Julio José Araujo Junior e Aline Mancino da Luz Caixeta.

No Rio de Janeiro, comemorações de 7 de setembro sempre foram realizadas na Avenida Presidente Getúlio Vargas, em frente ao Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste. No entanto, a um mês do primeiro turno, Bolsonaro transferiu a celebração para Copacabana, de olho em benefícios eleitorais.

A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, do MPF, cobrou antes do evento que os comandantes das Forças Armadas informassem quais providências tinham sido tomadas para impedir a participação de militares no ato político-partidário de Bolsonaro em Copacabana e para garantir que as celebrações oficiais não fossem confundidas com manifestações político-partidárias. 

Como as celebrações oficiais acabaram sequestradas pelos interesses de Bolsonaro, o MPF cobra agora que a União e as Forças Armadas adotem medidas de reparação de modo a impedir que isso aconteça novamente.

O principal pedido é para que a Justiça determine a organização de uma cerimônia pública de pedido de desculpas, também no Rio, com participação dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

O MPF também cobra que a Justiça determine a elaboração de um relatório para esclarecer os fatos e identificar agentes públicos envolvidos em ilegalidades.

Também é cobrado que a Presidência da República regule a participação, daqui para frente, de militares em festividades oficiais.

Outra preocupação do MPF é com a aglomeração de acampamentos golpistas na frente do Comando Militar do Leste. Por isso, a Procuradoria cobrou que os militares inibam qualquer outra aglomeração como essa em caso de festividades com participação das Forças Armadas.

Para o futuro, o MPF cobra ainda que seja realizado um curso de formação para os militares de todo o Brasil, para “enfatizar o necessário respeito dos integrantes das Forças Armadas aos princípios inerentes ao Estado Democrático de Direito, aos direitos humanos e à neutralidade política das Forças Armadas”.

Todas essas exigências foram feitas pelo MPF em ação civil pública, protocolada na última sexta-feira, 24, na 2ª Vara Federal do Rio.

Fonte: Coluna do Daniel Haidar Daniel Haidar é jornalista. Foi editor da GloboNews, do JOTA e do Metrópoles. Trabalhou como repórter investigativo do El País Brasil, da revista ÉPOCA e da revista VEJA. Atuou também como repórter do jornal O Globo, do portal G1 e da rádio CBN. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra.
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