Por que Lula e Lira vivem momento crítico no Congresso
Presidente e chefe da Câmara dos Deputados estão em rota de colisão por apoio de mais parlamentares
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), vivem hoje momento crítico e tentam ampliar suas bases de apoio com ações que podem se chocar.
Dois meses depois de ser reeleito para um segundo mandato no comando da Casa com 464 votos dos 513 deputados, Lira sofreu um baque na semana passada com a criação do blocão formado por MDB, PSD, Republicanos, Podemos e PSC, que soma 142 deputados, a maior bancada da Câmara. Os cinco partidos tinham apoiado a reeleição de Lira, com o PT e outras 14 siglas. Só PSOL, Rede e Novo tinham ficado fora do bloco de Lira na reeleição.
“É um momento crítico para Lira também porque há tensão sobre a manutenção da maioria parlamentar que ele vinha organizando”, avalia a cientista política Magna Inácio, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Deputados citam o surgimento do blocão como uma reação de parte do Centrão à centralização excessiva de poder obtida por Lira no comando da Câmara. Essa centralização entrou especialmente em choque com interesses dos Republicanos, do PSD e do MDB em palanques estaduais e no Senado.
Nesse racha do Centrão, o PT sai imediatamente como beneficiado, por ter mais governistas afastados de Lira. Mas petistas também não querem confrontar o presidente da Câmara, pelos riscos de uma disputa aberta.
Até o surgimento do blocão, Lira já tinha empenhado seu apoio a Elmar Nascimento (União) para sua sucessão no comando da Câmara, enquanto tenta fechar uma aliança PP-União. Isso contribuiu para o racha do Centrão, porque o presidente dos Republicanos, Marcos Pereira, também quer se eleger ao comando da Casa.
Lira também comprou briga com o PSD do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, porque insiste em manter a Câmara mais influente na votação de medidas provisórias do que o Senado. Esse fortalecimento da Câmara tinha começado com a pandemia do coronavírus, quando a Constituição Federal passou a ser desrespeitada para que fossem desativadas comissões mistas formadas por deputados e senadores na análise das medidas provisórias.
Com a pandemia, medidas provisórias passaram a ser votadas separadamente na Câmara antes de seguir, normalmente no fim do prazo de análise, para o Senado. Mas Lira resiste a retomar o funcionamento anterior à emergência sanitária e passou a defender até que a Constituição fosse alterada por isso.
Os palanques estaduais também ajudaram na formação do novo blocão. Isso porque o presidente do PSD, Gilberto Kassab, articula a base do governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos), em busca de um alinhamento nas próximas eleições municipais com o MDB, do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Os três partidos são presididos nacionalmente por caciques de São Paulo (Kassab, Pereira e Baleia Rossi).
Em meio a esse racha no Centrão, Lula tenta se fortalecer, depois de ter começado o governo com a base menor até do que o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Mas petistas temem que Lira, enfraquecido, busque novo alinhamento com o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Lira pode ser um grande problema se resolver dificultar a vida do governo, mas ainda não houve votações importantes no Congresso. Um ponto favorável a Lula é justamente que ele não tem hoje uma oposição forte e unificada”, avalia o cientista político Carlos Ranulfo Felix de Melo, da UFMG.