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Deputado afirma que Luis Miranda gravou conversa com Bolsonaro

Há suspeitas de que presidente também cite Lira e Ciro Nogueira, líderes do Centrão, no áudio

10 jul 2021 - 00h37
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BRASÍLIA - O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) afirmou nesta sexta-feira, 9, que foi gravada a conversa entre o deputado Luis Miranda (DEM-DF), o servidor público Luis Ricardo Fernandes Miranda e o presidente Jair Bolsonaro, no dia 20 de março. Em uma publicação no Twitter o petista escreveu que "são 50 minutos de muita informação e baixaria". A pessoas próximas, Pimenta disse que Miranda exibiu um trecho da gravação a um grupo restrito de parlamentares, em Brasília.

Auxiliares de Bolsonaro têm certeza de que existe esse áudio e temem os desdobramentos da crise. Segundo o site O Antagonista, o presidente não teria mencionado apenas o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), como responsável pelo esquema de corrupção que envolveu o contrato de compra da vacina indiana Covaxin. O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), e o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas, também teriam sido citados. Os três formam o núcleo do Centrão, bloco que sustenta Bolsonaro no Congresso.

Os irmãos Miranda disseram à CPI da Covid que relataram a Bolsonaro, na reunião ocorrida no Palácio da Alvorada, em 20 de março, cobrança de propina e outras irregularidades na compra da Covaxin, vacina produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech.

No depoimento, o deputado afirmou que Bolsonaro atribuiu os problemas a "mais um rolo" de Ricardo Barros. No Congresso, a avaliação é a de que, se esta declaração for confirmada, a governabilidade estará comprometida e o grupo de Barros poderá se voltar contra o Palácio do Planalto. Suspeitas de falcatruas nas negociações para a aquisição de vacinas estão hoje no foco da CPI.

Duas semanas depois de Miranda ter afirmado que Bolsonaro fez o comentário desabonador sobre Barros, o silêncio impera no Planalto. Provocado por meio de uma carta enviada pela cúpula da CPI a rebater a versão do deputado, um ex-aliado, o presidente disse que vai ignorar a missiva. "Caguei para a CPI. Não vou responder nada", afirmou ele na quinta-feira, 8, em transmissão ao vivo pelas redes sociais.

Até o momento, Miranda tem negado, publicamente, que tenha gravado Bolsonaro. Mas sempre faz a ressalva de que não estava sozinho no encontro e que, na CPI da Covid, seu irmão Luis Ricardo não foi perguntado sobre isso

O Estadão apurou que o deputado já está sendo abastecido com pareceres jurídicos sobre consequências de eventual divulgação de conversa gravada sem anuência do interlocutor. As análises jurídicas recebidas por seu gabinete consideram possíveis implicações criminais e políticas. Procurado, Miranda disse apenas que a decisão de confirmar ou não a existência do áudio "deve ser técnica, jurídica e política, e não midiática".

Nos pareceres estão observações de que poderá haver crime, caso a gravação contenha algum segredo de Estado. Do contrário, à luz da lei 9.296/96, o deputado não estaria cometendo qualquer infração criminal ou administrativa. Mesmo assim, o uso da gravação em algum inquérito é passível de questionamento judicial.

Outro aspecto dos pareceres aponta para uma possível consequência política a Miranda. Ele foi alertado de que, caso tenha gravado o presidente, deverá ser alvo de representação no Conselho de Ética da Câmara. A punição extrema lhe custaria o mandato.

Em 2019, o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) foi processado no colegiado por ter gravado e divulgado uma reunião da bancada do partido na qual foram feitas críticas a Bolsonaro. O fato levou o conselho a suspender o mandato dele por dois meses.

Estadão
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