Desempenho matemático dos estudantes brasileiros é um dos piores do mundo
Baixa pontuação atestada no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) revela que o país segue estagnado há nove anos. Falta de investimentos, formação deficitária dos professores e condições de trabalho inadequadas estão entre os fatores
A matemática é uma ciência que contribui para o desenvolvimento do pensamento crítico, da criatividade, da autodireção, da iniciativa e da persistência, do pensamento sistêmico, da comunicação e da reflexão. No dia a dia, a carência do uso desses conhecimentos proporcionados pela disciplina pode trazer problemas na interpretação de situações em contextos individuais, ocupacionais, sociais e científicos. Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), isso é o que vem acontecendo com parte dos estudantes brasileiros há anos.
O estudo mais recente do Programa, que forma uma rede mundial de avaliação de desempenho escolar coordenada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), aponta que o Brasil obteve uma das menores pontuações dos seus estudantes referentes à compreensão do conteúdo matemático e à capacidade de aplicar esse conhecimento na resolução de problemas contextualizados.
Segundo o Pisa, apenas 2% dos estudantes brasileiros do ensino fundamental alcançaram os níveis 5 ou 6 de proficiência, que são os mais altos da instituição. O país segue estagnado há nove anos entre os que apresentam os piores índices no desempenho matemático em meio a 79 países analisados.
No ranking de competitividade, medido pelo International Institute for Management Development (IMD), o Brasil ocupa o 59º lugar, dentre 63 nações, no quesito educação de crianças e adolescentes e formação profissional. A pesquisa aponta que, com exceção do Chile, todos os demais países da América Latina ocupam os últimos postos entre as economias examinadas.
O professor e pesquisador em matemática, Daniel Parasio Sobreira de Souza, conhece essa realidade. "Como professor, posso observar muitas lacunas na formação dos alunos que chegam à universidade. Parte desse problema vem da formação escolar muito deficiente na área da matemática, o que acaba estigmatizando essa disciplina e contribuindo para os índices muito baixos de desempenho acadêmico que o Brasil vem apresentando há muitas décadas", afirma.
Tecnologia na busca pela desmistificação da matemática
Para driblar as dificuldades educacionais, incluindo os desafios com a área matemática, conhecida como uma das disciplinas mais temidas nas salas de aula, o meio acadêmico vem fazendo uso de recursos tecnológicos para chamar a atenção dos estudantes.
"Sabendo das dificuldades arraigadas em torno da educação no nosso país, venho observando com bastante atenção os novos métodos de ensino online e as dezenas de plataformas de ensino à distância que, hoje, se consolidaram como ferramentas eficazes de aprendizado, democratizando o ensino e possibilitando a disseminação de conteúdo que antes só se podia aprender em sala de aula", explicou o professor Sobreira de Souza, que tem mais de 10 anos de experiência profissional em sala de aula e no ensino remoto.
Ele afirma ter convicção de que, sim, é possível quebrar o tabu de que a matemática é uma disciplina difícil e complicada, sem possibilidade de ser aprendida por meio do ensino à distância. Segundo o docente, entre as vantagens dessa forma de estudo estão a gama de aplicativos, sites, vídeos, fóruns de discussão e tutores online, que se adaptam a melhor forma de aprendizado de cada indivíduo.
Imposto pela pandemia para sanar a questão da obrigatoriedade de distanciamento social, o modelo de aulas remotas se tornou uma realidade praticamente consolidada no país. Dados do Censo Escolar 2021, promovido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostram que 92,3% das escolas adotaram estratégias junto aos professores, com a realização de reuniões virtuais para planejamento, coordenação e monitoramento das atividades durante a suspensão das aulas presenciais no Brasil. A reorganização ou a adaptação do plano de aula com priorização dos conteúdos específicos foi seguida por 83,7% das unidades escolares.
No ensino superior, pela primeira vez, o número de matrículas online superou o de matrículas presenciais, tanto na rede pública quanto na privada. A pesquisa do Inep aponta que o índice de novos alunos de EAD aumentou 428,2% nos últimos 10 anos. "Eu mesmo sou usuário assíduo destas plataformas, pois além de ser professor e ensinar online, também sigo aprimorando a minha formação realizando cursos online, acompanhando palestras e seminários à distância e trocando informações com a comunidade matemática ao redor do mundo", afirmou o professor, que atualmente faz doutorado em Matemática na Universidade de Sevilha, na Espanha.
Investimentos são primordiais para mudar realidade da educação brasileira
De acordo com a análise da OCDE, a diferença entre as nações que se destacam nas primeiras posições no Pisa está diretamente ligada ao investimento em educação, valorização dos profissionais do setor e ações para diminuir a desigualdade entre alunos e escolas.
Para mudar essa realidade, uma visão de Estado que priorize a educação no plano de governo é necessária, de acordo com especialistas da área. Segundo estudo do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), no ano passado, o gasto público com educação atingiu o menor patamar desde 2012.
Ao todo, o valor das despesas autorizadas para uso em educação chegou a R$ 129,8 bilhões, R$ 3 bilhões a mais que o ano anterior. Apesar disso, o gasto empenhado foi inferior, chegando a R$ 118,4 bilhões. Para este ano, o estudo aponta um montante autorizado de R$ 123,7 bilhões para a área, ou seja, R$ 6,2 bilhões a menos que em 2021.
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