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Desentendimentos marcam a relação entre Maia e Guedes

Presidente da Câmara anunciou rompimento com o ministro da Economia após proibição de encontro com secretários do ministério

4 set 2020 - 10h42
(atualizado às 11h01)
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A relação entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, viveu altos e baixos desde o início do governo. Pressionados para apresentar planos de reforma tributária, administrativa e tributária, Maia e Guedes alternaram momentos de apoio mútuo com crises e rompimentos públicos.

Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes
REUTERS/Amanda Perobelli
Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes REUTERS/Amanda Perobelli
Foto: Reuters

No episódio mais recente - nesta quinta-feira, 3 - o presidente da Câmara rompeu relações com o ministro, afirmando que passará a tratar sobre a articulação política, inclusive a reforma administrativa, com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. A declaração foi feita após, segundo relatou Maia, Guedes proibir integrantes da equipe econômica de dialogar diretamente com ele.

Entre os embates públicos, crises institucionais, cobranças pelo andamento de reformas e projetos específicos como o auxílio emergencial e uma nova CPMF criaram tensão entre a cúpula da Economia e do Legislativo.

Relembre desentendimentos entre Rodrigo Maia e Paulo Guedes:

Rompimento de relações

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou nessa quinta-feira, 2, que decidiu romper relações com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Maia anunciou que passará a tratar com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, sobre votações importantes, como a reforma administrativa, porque Guedes proibiu o diálogo dele com os secretários da área econômica.

"Eu não tenho conversado com o ministro Paulo Guedes. Ele tem proibido a equipe econômica de conversar comigo. Ontem (quarta-feira), a gente tinha um almoço com o Esteves (Colnago, chefe da Assessoria Especial de Relações Institucionais) e com o secretário do Tesouro (Bruno Funchal) para tratar do Plano Mansueto, e os secretários foram proibidos de ir à reunião", disse Maia em entrevista à GloboNews.

Maia deu a declaração logo após ter recebido a proposta de reforma administrativa do governo das mãos do ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, que representou o presidente Jair Bolsonaro - em viagem pelo interior de São Paulo. Ali mesmo, o presidente da Câmara tornou público o novo confronto com Guedes.

Socorro aos Estados e municípios

Em abril, Maia e Guedes tiveram outro rompimento, relacionado à votação do projeto de socorro emergencial do governo federal a Estados e municípios, no início da pandemia do novo coronavírus. Em entrevista após a demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro revelou que Maia e Guedes não tinham mais contato.

No auge da tensão, Maia partiu para a ofensiva contra Guedes, e chegou a declarar que o ministro passava informações falsas para a sociedade. Em entrevista à revista Veja, Maia fez críticas incisivas a Guedes: "Ele não é sério. Se fosse sério, não tentaria misturar a cabeça das pessoas".

Como mostrou reportagem do Estadão, o ministro da Economia estava convencido de que Maia trabalhava para "explodir" as finanças do governo Bolsonaro e inviabilizar a recuperação econômica, em articulação com os governadores de São Paulo e do Rio, João Doria e Wilson Witzel (hoje afastado do cargo). Também à época, Guedes repetia a auxiliares e amigos que o governo não iria financiar uma "farra eleitoral" com disfarce de combate à covid-19.

Já Maia considerava os R$ 40 bilhões oferecidos aos governadores e prefeitos pelo governo federal um valor muito pequeno diante da pandemia, acusando o Palácio do Planalto de agir para prejudicar a ação dos seus dois principais adversários à época.

Auxílio emergencial

Também no começo da pandemia, o presidente da Câmara e o ministro entraram em discordância sobre o valor do auxílio emergencial. Inicialmente, Guedes propôs o pagamento de R$ 200 a trabalhadores informais durante três meses. O plano do governo foi criticado no Congresso, por parlamentares de diversas bancadas, que consideraram o valor proposto muito baixo.

Após o diálogo entre o governo e o Congresso, Maia levou a votação um projeto que previa o pagamento de R$ 500. Durante a sessão, contudo, o presidente Jair Bolsonaro concordou em aumentar o valor para R$ 600, uma diferença ainda maior em relação à proposta original de Guedes.

No final de agosto, contudo, Guedes e Maia chegaram a um meio termo quanto aos valores da renovação do auxílio, reduzindo o valor para R$ 300, apesar das críticas da oposição, que segue considerando a quantia insuficiente.

Cobrança por reformas

No começo do ano, Rodrigo Maia se irritou com o ministro Paulo Guedes durante um evento em São Paulo, promovido pelo Centro de Lideranças Públicas (CLP). Após Guedes declarar que o Congresso deveria dar o ritmo de andamento dos projetos de reforma, Maia afirmou que o trabalho não poderia ser jogado "nas costas do Parlamento".

Guedes fez sua apresentação logo antes de Maia, e afirmou que cabe ao Executivo encaminhar a estrutura dos projetos. "É o Congresso que dá o ritmo. A classe política sentou no comando da economia. Não tem mais essa de superministro", disse em referência ao próprio cargo.

Chamado ao palco logo após, Maia afirmou que a participação do governo no Parlamento é decisiva para aprovar as reformas. "Boa parte do atraso na tramitação da Previdência é responsabilidade do governo", disse o deputado. "Independência de Poderes não é cada um trabalhar no seu canto. Não é 'eu fiz a minha parte e agora você faz a sua'. É importante o ministro estar próximo, para mostrar à sociedade e aos parlamentares sobre a importância das reformas", disse aos jornalistas, após participar de evento em São Paulo.

Nova CPMF

Uma discordância pública que se arrastou por meses no ano de 2019 foi quanto ao novo imposto sobre transações financeiras, comparado à antiga CPMF. A taxação, defendida pela equipe econômica, seria uma forma de compensar a redução nos impostos cobrados das empresas sobre a folha de pagamentos, medida que faz parte da proposta de reforma tributária.

A medida foi duramente criticada pelo Congresso, sendo refutada pessoalmente por Maia. Pelas redes sociais e em entrevistas, o presidente da Câmara reiterou seu posicionamento, dizendo que não há espaço para debater a criação do novo imposto. Em dezembro do ano passado, Maia falou em nome da Casa Legislativa, afirmando que "A Câmara não vai criar um novo CPMF".

Reforma da Previdência

Até mesmo após a aprovação de uma matéria que precisou de trabalho conjunto como a reforma da Previdência, a relação entre Maia e Guedes foi alvo de especulação. No discurso pós-aprovação, o presidente da Câmara mandou "recados" para diferentes grupos e agentes políticos, inclusive o ministro.

Em sua fala, Maia demonstrou que defenderia uma agenda própria do Congresso em relação à pauta econômica, como mostrou o "Estadão". O deputado citou o projeto de reforma tributária e disse que "quem fala em reduzir impostos hoje não está falando a verdade". À época, Paulo Guedes havia falado em baixar Imposto de Renda para empresas de 34% para 15%.

"Quem fala em redução de carga tributária no Brasil de hoje não está falando a verdade, porque quase 100% das despesas públicas federais são despesas obrigatórias", disse Maia. "Quem é que vai cortar arrecadação? E como é que vai cobrir salários e aposentadoria e dar assistência?"

Estadão
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