Áreas verdes valorizam 847% no Estado de São Paulo
Antigas e novas ferramentas de negócios ambientais movimentam a economia e permitem, de forma inédita, que proprietários preservacionistas sejam financeiramente recompensados. O mercado de áreas verdes (áreas preservadas) para compensação ambiental tem gerado boas oportunidades de negócio e desempenhado importante papel para a sustentabilidade.
Segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) , da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, a variação do preço das áreas de "campo" - aquelas não utilizadas para plantação ou pastagem, dentre as quais se inserem as áreas preservadas - foi de 847% nos últimos 20 anos. Isso representa um aumento médio nos preços de 42,35% ao ano.
Com o aumento da procura por essa espécie de ativo imobiliário, setores do mercado vêm adquirindo e estocando áreas preservadas.
De pedra no sapato a oportunidade de investimento
Até pouco tempo atrás, preservar áreas verdes era considerado um ônus atribuído aos proprietários ou posseiros de imóveis rurais no Brasil. Apesar disso, milhares deles mantiveram em suas áreas vegetação preservadas além de sua obrigação legal.
O advogado André de Castro dos Santos, consultor na ECCON Soluções Ambientais , aponta que a oportunidade de recompensar os proprietários é uma forma de fazer justiça ao "serviço" prestado ao meio ambiente brasileiro e manter o interesse na manutenção das florestas de pé.
Atualmente, o instrumento de compensação ambiental baseia-se no metro quadrado preservado. Desse modo, se um proprietário tem déficit de Reserva Legal em seu imóvel, pode adquirir ou arrendar outra área de floresta no mesmo bioma cuja preservação seja superior ao mínimo exigido pela lei.
Santos explica que "no Brasil, muitas áreas de floresta estão com a documentação irregular, dados os altos custos e a burocracia envolvida na regularização". Desse modo, além da localização e do bioma, a situação da documentação é fator determinante para se estabelecer o valor de mercado de uma área de vegetação preservada.
Além da preservação, o negócio
Considerando a pressão que os biomas têm sofrido devido ao processo de desenvolvimento econômico e de urbanização, bem como à precária fiscalização por parte do Estado, as áreas preservadas se tornaram cada vez mais escassas no território nacional.
Atentos a essa tendência, setores do mercado têm procurado adquirir essas áreas ainda a preços reduzidos.
Yuri Rugai Marinho, diretor da ECCON Soluções Ambientais , destaca que a aquisição desses imóveis nesse momento é uma grande oportunidade. Segundo ele, "nada indica que haverá redução no preço dessas áreas; ao contrário, áreas preservadas tendem a ser cada mais raras e, por isso, cada vez mais valiosas".
O empresário ainda destaca que, atualmente, apenas o metro quadrado da floresta está sendo precificado, o que significa que a biodiversidade, o controle climático e a disponibilidade hídrica, dentre outros serviços ecossistêmicos, estão precificados a zero. Ou seja, o preço está muito baixo.
A percepção da valorização de áreas verdes é um caminho sem volta. Em São Paulo, de acordo com o IEA, o hectare de área preservada tem valor médio de R$ 11.071,57 para 2017.
Além de São Paulo, têm se destacado na demanda por áreas preservadas os Estados do Paraná e de Minas Gerais.
Oportunidades que florescem
Além da compensação de déficit de Reserva Legal, que tem como critério apenas o metro quadrado da área preservada, outros importantes e valiosos serviços ambientais podem ser comercializados. Dentre eles, destacam-se o sequestro de carbono, o equilíbrio climático, a preservação da biodiversidade e a proteção dos recursos hídricos.
O comércio de crédito de carbono, que esteve em alta na década de 2000, passou por um processo de queda, mas volta a dar sinais de recuperação. É nítida a influência do Acordo de Paris nesse processo. Assinado em 2015, mas em vigor desde novembro de 2016, o tratado internacional trouxe as mudanças climáticas de volta às pautas política e econômica.
De acordo com a plataforma Investing.com , no mês em que o Acordo de Paris entrou em vigor, os créditos de carbono eram comercializados a 4,61 euros por tonelada de carbono equivalente. Em agosto de 2018, o preço saltou para 20,18 euros. Isso representa uma valorização de 460%.
Além da assinatura do Acordo de Paris, o apelo da opinião pública sobre a importância da adoção de medidas que enfrentem as mudanças climáticas tem levado empresas em todo o mundo a se movimentar a procura de reduzir sua pegada de carbono.
Segundo a FGV , em 2017, 140 empresas, de diferentes setores da economia, apresentaram inventários de emissão de gases de efeito estufa, demonstrando o interesse do setor privado no assunto e o potencial do mercado de carbono no Brasil.
Os biomas brasileiros, reconhecidos pela densidade de sua vegetação, são imensos estoques de carbono. Alterar o uso do solo para atividades como monocultura e pecuária ou mesmo para urbanização podem contribuir para alterações no regime de chuvas e nas médias de temperatura.
Dessa forma, além do importante papel desempenhado no controle climático, a preservação das florestas pode gerar créditos de carbono.
A manutenção da biodiversidade também desempenha seu papel na valorização econômica de áreas preservadas. Diversos setores da economia, dentre os quais se destacam as indústrias farmacêutica, química e de cosméticos, desenvolvem pesquisas em áreas bom rica biodiversidade para desenvolver novos produtos.
Por fim, a proteção dos recursos hídricos é outro fator que valoriza áreas preservadas. Áreas com cobertura vegetal contribuem para a infiltração de água no solo, alimentando os lençóis freáticos e, por consequência, as nascentes; além disso, controlam o processo de assoreamento, responsável pela diminuição da profundidade das calhas dos rios.