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Coreia do Norte: como é a vida no país mais fechado do mundo

26 fev 2019 - 14h30
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Em dezembro de 2018, o paulistano Leonardo Lopes fez as malas e partiu rumo a uma viagem bem diferente das que está habituado a relatar em seu blog pessoal: ele foi para a Coreia do Norte. Formado em História, o empresário há anos apresenta aos leitores um olhar histórico e social de cada destino visitado, mas o roteiro da vez tinha algo de especial: era o país mais fechado do mundo, onde a vida ainda segue nos moldes do socialismo aplicado na Guerra Fria, indiferente a tudo o que é parte da rotina ocidental atual, como a internet, a economia de mercado e a liberdade de ir e vir.

Foto: Arquivo Pessoal / DINO

Antes de iniciar os trâmites dessa aventura, Leonardo pesquisou muito. "Me preparei para encontrar uma cultura completamente oposta à nossa, que pode ver atitudes que nos são corriqueiras como um desrespeito digno de prisão. Nesse caminho, além de mergulhar na história do país e no impacto que as guerras tiveram sobre a população, ouvi diversos depoimentos de quem já foi, experiências que me ajudaram a começar a derrubar alguns clichês, entre eles a ideia de que o país é perigoso para estrangeiros e de que os norte-coreanos são inexpressivos e não se divertem", conta.

Quando souberam dos planos de Leonardo, parte da família e dos amigos mostrou-se preocupada com o seu bem-estar físico. Ele adianta: o país é seguro, a população gosta de agradar e de mostrar suas belezas, sobretudo arquitetônicas.

No ano passado, conversas entre o líder do país, Kim Jong-un, e o presidente norte-americano Donald Trump se intensificaram, bem como o relacionamento diplomático com Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul, indicando o início de uma abertura política e econômica. Para Leonardo, era hora de partir. "Entendi que essa seria, talvez, a chance final de conhecer o último remanescente da estrutura socialista-stalinista antes dos efeitos da globalização", ressalta.

Leonardo lembra que, embora receba bem os turistas, a Coreia do Norte recusa o visto a determinados perfis, entre eles os profissionais do jornalismo. Assim, mesmo que não pertença a esse grupo, ao entrar no país, ele contou sobre seu blog, perguntou se poderia escrever sobre a experiência de viagem e deixou claro que não faz parte de nenhum grupo de mídia.

A preparação

O desejo de ir à Coreia do Norte surgiu há cerca de três anos. Na época, ele já sabia que esta não seria uma viagem comum. "Esqueça aquele modelo de turismo em que você pesquisa onde ficar, monta o seu roteiro, pega um voo e desbrava a cidade sozinho. Na RPDC (República Popular Democrática da Coreia, como preferem ser chamados), você só pode circular na companhia de guias e todas as opções de roteiro são definidas pela KITC (Korea International Travel Company), a agência de turismo estatal norte-coreana, e apresentadas aos potenciais turistas por agências chinesas. São elas as responsáveis por obter as autorizações e o visto norte-coreano. A parceria com a China se deve às semelhanças ideológicas", explica Leonardo.

Entre o primeiro contato com a agência chinesa e o embarque, foram cerca de 12 meses. Mas, ele afirma que não é preciso planejar a viagem por um ano. "Eu tinha tempo e, por isso, pude fazer tudo com calma", diz.

Um dos pontos que gera bastante dúvida é a documentação, e esse não é um processo complicado. Em duas semanas, é possível obter todos os vistos e autorizações necessárias. Por mais fechada que seja, a Coreia do Norte quer mostrar aos turistas seus grandiosos monumentos e todas as manifestações culturais que compõem a sua identidade.

Leonardo ressalta a importância de respeitar os costumes locais para ser bem-recebido. "Para entender o culto dos norte-coreanos aos seus líderes políticos, tratados como divindades e apresentados como tal, bem como sua repulsa ao capitalismo e à influência dos Estados Unidos, é preciso ter em mente que se trata de um povo que sofreu imensamente os efeitos das guerras mundiais e, após uma forte lavagem cerebral, viu nesses representantes o apoio para superar sofrimentos inimagináveis. A quem não conseguir compreender esses detalhes e aceitar determinadas práticas, como levar flores aos monumentos que homenageiam esses políticos, recomendo que repense a viagem", alerta.

O dia a dia

Leonardo entrou na Coreia do Norte a partir da China, em um trem que percorreu o interior do país e colaborou para a primeira impressão do que vem a ser a rotina de seu povo. Ele indica: entre cruzar a fronteira da China e da Coreia do Norte de trem ou avião, vá sobre trilhos.  

"Não vou mentir: embarcar em um trem decorado com os símbolos do comunismo e fiscalizado por militares, onde uma atitude brusca poderia ser interpretada como falta de respeito, me deixou com a adrenalina a mil. Se a chegada a um local desconhecido, de costumes semelhantes aos nossos, já causa euforia e receio, imagine cruzar as fronteiras de uma nação da qual pouco se sabe, onde o uso de um acessório considerado inadequado ou a apropriação de um item político pode render prisão ou pena de morte. Como segui as regras, deu tudo certo", conta.

Pyongyang, a capital do país, é a cidade vitrine. Para morar lá, no entanto, é preciso ter um bom número de pontos no Songbun, o sistema de castas norte-coreano, que privilegia os cidadãos que, de alguma forma, colaboraram política e economicamente para o país. Lá, as possibilidades de lazer são muitas, a gastronomia é diversa e a vida é o que de mais próximo existe na Coreia do Norte em termos de "ocidentalização". Quanto mais para o interior se vai, mais as diferenças sociais vêm à tona.

"Muita gente me perguntou se havia gente passando fome no país. Vale dizer que a Coreia do Norte, de fato, passou por um período de fome na década de 90, quando muitas pessoas morreram. De lá pra cá, algumas áreas ainda sofrem com a desnutrição, sobretudo as mais isoladas (recentemente, o país pediu ajuda humanitária, inclusive), mas isso também está muito relacionado ao sistema de castas adotado por eles, o Songbun", explica o viajante.

O paulistano percorreu diversas cidades. Por ir na baixa temporada e no inverno, se deparou com bares e restaurantes vazios, locais onde ele e a mulher, Sandra, eram os únicos visitantes. Sobre turistas, cruzou com um russo e um grupo de chineses. Esses últimos, aliás, são os que mais visitam a Coreia do Norte, sobretudo na alta temporada, quando os muitos feriados levam desfiles e cores às ruas das cidades.

Por se enquadrar no sistema do socialismo, o país não permite que seus cidadãos (à exceção de poucos privilegiados) tenham posses. Moradia, saúde e educação são concedidos pelo Partido. Do próprio bolso, o cidadão paga luz e água. Leonardo conta que os salários na Coreia do Norte permanecem um mistério, ninguém fala sobre valores e cada órgão internacional emite uma estimativa.

Profissionalmente, as pessoas devem escolher entre a carreira militar, a rotina de um trabalhador, muitas vezes no campo (o país ainda usa ferramentas do início do século 20, com quase nenhuma mecanização), e a graduação. No país, os professores têm status elevado, muito graças à sua atuação na manutenção do regime.

Diário de viagem

Quando voltou ao Brasil, Leonardo reuniu as muitas experiências da viagem em uma série de dez posts publicada no seu blog, repleta de fotos e vídeos. O conteúdo traz detalhes de fatos que marcaram a história do país e ajudaram a construir a cultura nacional. Há, ainda, curiosidades do cotidiano norte-coreano, como os casamentos, a cerimônia de entrega de moradias e a dança diária das donas de casa, além de exemplos que mostram a manipulação das informações que chegam à população.

"Visitar a Coreia do Norte foi uma experiência inesquecível, que me levou ao passado de maneira única. Até aqui, é o que tive de mais próximo em termos de viagem no tempo", finaliza.

Fonte:

Leonardo Lopes

Mais informações:

https://www.leonardolopes.com.br/

Instagram:

@viajandonahistorialeo

Website: https://www.leonardolopes.com.br

DINO Este é um conteúdo comercial divulgado pela empresa Dino e não é de responsabilidade do Terra
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