Escritor diz que a conduta ética dos brasileiros é aparente
Para o escritor Frederico Rochaferreira a indignação dos brasileiros com a falta de ética e corrupção, não é um sentimento verdadeiro
A questão ética há muito vem ocupando a mídia e é tema recorrente de discussões populares no Brasil. O motivo principal são os escândalos políticos, vindos à tona na última década e que ganham dimensão e popularidade através das mídias.
Quando assistimos os telejornais, lemos os jornais e sites e mesmo as redes sociais, a primeira impressão, é que estamos diante de uma população que é unânime em condenar as atitudes; antiética e corruptas disseminadas pelo país.
Mas para o escritor Frederico Rochaferreira, o que imaginamos ser; uma conduta proba e verdadeira da sociedade em relação às diferentes ações ilícitas, pode também não ser. Explica o filósofo que em sociedades pouco desenvolvidas é comum as palavras se distanciarem das intenções e das ações, por força do hábito e da adaptação ao meio em que se vive.
O autor que em suas obras, ao lado das investigações históricas, reflete a questão ética, cita como exemplo; que certa vez falando para um grupo de estudantes sobre o lado sombrio do futebol, começou perguntando se todos eram torcedores e diante da resposta positiva, lhes fez ver que em sendo torcedores, consumiam o produto futebol e sustentavam aquele negócio.
Perguntou ainda, se tinham conhecimento das ações corruptas e antiéticas que fazem parte do universo-futebol e percebeu que todos tinham consciência. Então perguntou se se indignavam com tais ações e a resposta foi unânime.
"__O que de fato podemos concluir das respostas dos estudantes, é que há uma ética aparente povoando o imaginário de cada um, na medida em que se indignam e condenam um determinado produto, negócio ou serviço, mas o consomem".
Segundo Rochaferreira, os torcedores, representados por aqueles estudantes, são cúmplices de toda a cadeia de ações marginais que condenam e que se faz presente na figura de dirigentes esportivos, árbitros, técnicos, agentes esportivos, jogadores e empresas que militam nesse meio.
"__Em outras palavras é como se eu condenasse uma determinada droga, mas a consumisse, portando a minha indignação e postura ética não é verdadeira, é aparente e isso é grave. Se olharmos mais atentamente; podemos enxergar essa falha de caráter, para além dos torcedores, mas vê-la fixada na sociedade como um todo, como por exemplo, em ações do Congresso, do Executivo, do Judiciário, do comércio e da indústria e no dia a dia".
Lembra que quando da realização da Copa das Confederações aqui no Brasil, Cesare Prandelli técnico da Itália, em entrevista ao jornal "La Gazzetta dello Sport", disse que ficou estarrecido com a disparidade entre riqueza e pobreza encontrada no Brasil, principalmente quando via as milionárias e luxuosas arenas muito próximas aos bolsões de miséria.
Segundo ele, era impossível jogar bem depois de perceber tamanho desequilíbrio social e em determinado momento diz: "Como se pode jogar assim"?
Segundo o filósofo, essa não era uma pergunta dirigida ao repórter que o entrevistava, era, sim;
"__uma reflexão em voz alta, dirigida silenciosamente à sociedade brasileira, no sentido de que; como era possível conviver, viver e sobreviver em meio a tamanha desigualdade social, sem promover qualquer reação? O que o Prandelli viu, nós vimos, nós vemos e continuaremos a ver e nossos filhos verão e nossos netos também, o que ele disse, muitos de nós dizemos, com a mesma linha de pensamento, mas o que ele sentiu, nós não sentimos; enquanto suas palavras significa um sentimento verdadeiro, perplexidade e desejo de mudança; as nossas palavras, as mesmas palavras, só significam palavras. "