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Especialistas apontam melhora na economia brasileira para 2021

A expectativa é de crescimento de 3,5% no PIB para o próximo ano e a volta gradual da oferta de vagas no mercado de trabalho, mas não o suficiente para atender o aumento na procura por colocação profissional.

15 dez 2020 - 12h31
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O ano de 2020 começou cheio de otimismo no cenário econômico, mas diante da pandemia teve que mudar os rumos e todas as projeções, gerando um ambiente de grandes incertezas e muitas perdas. Porém, com o programa de Auxílio Emergencial por parte do Governo Federal, inovação nos negócios e a elevada demanda por alimentos foi possível reduzir os impactos na economia brasileira, que aos poucos volta a retomar a geração de empregos e a produtividade, projetando crescimento de 3,5% no PIB para 2021. Essa foi a análise apresentada pelos economistas que participaram do evento Discutindo Economia: Perspectivas da Economia para 2021, promovido na quinta-feira, dia 10 de dezembro, pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (CoreconPR), em evento on-line.

Foto: DINO / DINO

Agronegócio

A boa notícia vem do Agronegócio paranaense, beneficiado pelo aumento na demanda por alimentos e também valorização do dólar, que deve fechar o ano com produção bruta de R$ 100 bilhões de reais, superando ao ano anterior quando movimentou 98,1 bilhões. "O agronegócio deve manter a tendência de crescimento para 2021, com o aumento da produtividade e da demanda mundial por alimentos", observa o economista da Federação da Agricultura do Paraná (FAEP), Jefrey Kleine Albers. Ele, ainda destacou que nos últimos 10 anos, o agronegócio teve crescimento de 43%.

Na agricultura, a próxima safra deve ter uma pequena redução na produção do milho, com migração para a soja, produto que deve registrar aumento ainda maior, segundo o economista. Ele ainda observa que os preços devem se manter bons, com boa margem de lucro para os produtores. A redução dos estoques no mercado internacional e a valorização do dólar, devem colaborar na formação de preços.

O economista da FAEP destaca que na pecuária, o Paraná deve ser reconhecido em maio como livre de febre aftosa sem vacinação. "Isso repercute na abertura de novos mercados, não apenas na carne bovina, mas para todas as outras proteínas animais que embarcam na credibilidade de que temos condições sanitárias boas e respeitáveis. Com isso, o frango e a suinocultura também ganham mercado, beneficiando a todos ainda em 2021".

Indústria

De acordo com o economista da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), Marcelo Alves, a indústria paranaense vinha de uma projeção de crescimento. Em dezembro de 2019 tinha registrado aumento de 5,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Porém, com a pandemia chegou a registrar em abril de 2020, uma queda de 30,7% na produtividade em relação ao mesmo período do ano anterior. O apoio do governo às empresas e o auxílio emergencial refletiram numa retomada gradual do emprego e também na produtividade da indústria a partir de maio e junho. O mês de outubro, por exemplo, registrou aumento de 4,8%, se comparado ao mesmo mês de 2019. "Observamos uma retomada no nível de atividade econômica no segundo semestre deste ano, o que nos dá uma perspectiva do ano 2021 bastante interessante".

Alves destaca que, no acumulado do ano, de janeiro a outubro, a indústria paranaense teve resultado negativo de 6%, com perdas maiores sentidas na fabricação de veículos automotores, de menos 38,4% no período, mas com sinais de leve recuperação. O destaque no setor industrial é o de alimentos, beneficiado por conta da demanda do comércio internacional, que no acumulado do ano registrou 9,4% de crescimento. Outros setores que apresentam performances interessantes, segundo ele, é o de bebidas, máquinas e equipamentos, produtos de borracha e plástico e o de produtos de madeiras.

Na indústria, só o mês de abril registrou a perda de 15 mil postos de trabalho no Estado e acima de 7 mil em abril, mas no decorrer dos meses a geração de vagas foi retomada e estabilizou o saldo positivo acumulado de janeiro a setembro de 6.626 novos postos de trabalho, de acordo com dados do CAGED, observa o economista.

Marcelo Alves, da FIEP, destaca ainda que a pesquisa do Índice de Confiança do Empresário Industrial - ICEI, aponta otimismo de 62,7% dos empresários.

Comércio, Bens e Serviços

Vamberto Santana, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná - Fecomércio PR destacou os setores que mais cresceram no acumulado do ano, de janeiro a setembro de 2020. No topo da lista, está o setor supermercadista, com 6,25%, seguido pelo setor de móveis, decorações e utilidades domésticas, índice positivo de 5,87%, depois farmácias com 1,35% e autopeças com 1,13%. Os piores desempenhos no acumulado do ano foram registrados pelos setores do vestuário e tecidos (-39,25%), Calçados (-28,35%), Livraria e Papelaria (-29,89%) e Óticas, Cine-Foto-Som (-20,43%). Ele destacou ainda que o setor de Turismo precisa de uma atenção especial do Governo para poder retomar o seu crescimento, pois sofreu uma queda acentuada nos meses de março, abril e maio, apresentando dificuldades para voltar a crescer.

Para 2021, o comércio no Paraná está com expectativas muito positivas, de acordo com o economista da Fecomércio, já que há sinais de valorização do Real perante o dólar, o que reduz o preço dos importados, que repercute no  aumento nas vendas.

Emprego

Fabiano Camargo da Silva, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), destacou a mudança de postura do Governo Federal, que inicialmente era contra a concessão do auxílio emergencial. Este benefício contribuiu para que houvesse um menor impacto da pandemia na economia e também na renda, mas que será encerrado em dezembro.

Silva destaca que a situação da geração de emprego deve se agravar ainda mais no final do ano e principalmente em 2021, por conta da deterioração do mercado do trabalho. Ele reforça que a taxa de desemprego, hoje em 14,6% no Brasil e em 10,2% no Paraná, tem se elevado nos últimos meses, e deve continuar em alta por conta do aumento de pessoas que saíram do mercado de trabalho em função da pandemia e que devem procurar uma ocupação no início do ano, motivada pela redução do isolamento social e o fim do auxílio emergencial, fatores que irão pressionar o mercado de trabalho.

Ele destacou ainda que, segundo dados da PNAD, até o 3º trimestre foram eliminadas 469 mil ocupações (formais e informais) no Paraná em 2020, principalmente entre os empregados do setor privado com carteira assinada (-224 mil). Já os dados do Novo CAGED, que estão sendo questionados por especialistas devido aos indícios de subnotificações de demissões devido à falta de envio de informações por parte das empresas que fecharam durante a pandemia, indicam um saldo positivo no acumulado do ano (janeiro a outubro) de 33,6 mil postos de trabalho no Paraná. Segundo ele, isso ainda não representa recuperação, já que estão somados os postos de trabalho criados nos meses de janeiro, fevereiro e março, antes da pandemia. Para recuperar as perdas de empregos por conta do início da Covid-19, ainda faltariam 13 mil empregos.

Mercado nacional e mundial

O economista Lucas Dezordi, que é professor da pós-graduação da Universidade Positivo (UP) projetou que o Brasil irá fechar o ano com retração de 4,4% no PIB, por conta dos reflexos da pandemia, mas que 2021 a economia nacional deve registrar crescimento de 3,5% no PIB. Na economia mundial, a projeção também é de queda no PIB é de 4,4%. Para 2021, Dezordi espera que a taxa de câmbio reduza para R$ 5,10.

Ele alerta que os efeitos da pandemia ainda estão longe de serem superados, que a economia mundial terá que ofertar estímulos fiscais para poder crescer. "Um dos principais desafios é aumentar a demanda doméstica, fortalecer o mercado de trabalho que segue enfraquecido, pois o nível de emprego  vem se deteriorando e o poder de consumo está menor. Se nada for feito na economia mundial, em especial as desenvolvidas, teremos uma recessão em 2021,  o que pode impactar também o Brasil".

Ainda, em expectativas para o Brasil, ele resumiu que se espera o fechamento do IPCA em 4,25% neste ano e 3,35% em 2021. Que haja uma recomposição nos preços administrados (como preços de energia, saneamento e tarifas de ônibus), passando de 2,33% em 2020 para e 4,27% no próximo ano. Também, uma queda acentuada no IGP-M, que se move muito na taxa de câmbio, que deve fechar em 24,09% neste ano e passa para 4,73 em 2021. "Eu acho que o custo de vida permanece alto no ano seguinte, mas a taxa de aumento de preços não vai subir tanto, o mercado de trabalho vai permanecer fraco, mas com recuperação moderada e o fato dos Estados Unidos estimularem o consumo e gerar inflação, teremos um ciclo de alta de commodities em dólar, como grãos, carnes, minério e celulose", finaliza.

Inovação no mercado

O economista Claudio Shimoyama, CEO do grupo Datacenso destacou a importância de as empresas inovarem para se manterem competitivas no mercado, para se desenvolverem economicamente. Segundo ele, neste momento de pandemia, muitas empresas se viram obrigadas a inovarem os seus processos para atender as novas demandas do mercado, investindo em novas ferramentas para que o seu produto pudesse chegar ao cliente.

Ele destacou que o investimento em inovação deve ser constante para que a marca permaneça competitiva no mercado, possibilitando aumento de faturamento, acesso a novos mercados e crescimento econômico.

Para exemplificar, ele mostrou um gráfico onde estão listadas as marcas mais valorizadas do mercado. Na ponta, aparecem as que tem no seu DNA a inovação, sendo a Apple, Google e Amazon.

Shimoyama ainda destaca que há necessidade de o comércio investir mais nas plataformas on-line. Ele alerta que o investimento ainda é baixo por parte dos comerciantes. "Em Curitiba, segundo dados da Datacenso, somente 30% do comércio investiu em tecnologia para atender o cliente de forma digital. Isso atrapalha o desenvolvimento econômico, podendo fechar lojas e provocar o desemprego", observa.

Sobre o Debate

De acordo com o presidente do CoreconPR, economista Carlos Magno Bittencourt, que mediou a discussão, a economia começa a dar sinais de recuperação. "Do conjunto das exposições, podemos extrair que teremos um cenário mais otimista no ano que vem, tendo o governo a responsabilidade de estimular a economia, mantendo e ampliando programas de alcance social para o cidadão. Na estrutura de geração de riqueza é necessário que o governo busque a sustentação de um ambiente favorável para o empreendedor, promova junto ao parlamento as reformas necessárias e se preocupe com o equilíbrio dos seus gastos. Somado a tudo isso, se ratifica a visão otimista, uma vez que estamos próximos de uma vacina viável contra a da Covid-19-19, que deve gerar imunidade para população e colocar um fim na pandemia e seus efeitos deletério  para a economia até meados do ano que vem."

Website: https://www.coreconpr.gov.br/

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