Extinção do Instituto Agronômico do Paraná vai representar risco para o agronegócio regional, alerta pesquisador
Marcos Traad, pesquisador de carreira do instituto, publicou uma carta aberta sobre a polêmica
Ao concluir a carreira de pesquisador com a aposentadoria no Instituto Agronômico do Paraná, o pesquisador Marcos Traad divulgou uma carta aberta resumindo as suas preocupações com as mudanças planejadas no órgão pelo Governo do Paraná. No documento ele lembra a importância que este instituto já teve no desenvolvimento econômico e social do Paraná. E a incerteza que tomou conta dos pesquisadores, que não puderam participar dos debates sobre o futuro de seu próprio trabalho.
Marcos Traad é formado em Zootecnia e fez carreira no instituto, e como professor universitário. E também ocupou vários cargos públicos, como a direção do Zoológico da Cidade de Curitiba, e a direção do Detran, Departamento de Trânsito do Estado do Paraná em duas gestões. A carta, que está publicada integralmente a seguir, relata as preocupações do especialista.
"Carta aberta sobre o futuro do Iapar
O Iapar, Instituto Agronômico do Paraná, foi criado por lei estadual em 1972. E ao longo do tempo tornou-se um marco referencial no estado e no Brasil. A revolução do Agronegócio, nos últimos 40 anos, veio após a criação da Embrapa, das empresas estaduais de pesquisa agropecuária, das universidades e, em algumas regiões, também das Cooperativas, que dão suporte aos processos de transformação, industrialização e comercialização dos produtos do Agronegócio.
Transformado em autarquia por lei estadual em 1991, mas sem o aval da comunidade que se beneficia dos seus serviços, o Iapar passou a sofrer com as amarras burocráticas da administração pública, sendo também submetido a restrições de recursos.
Muitos avanços no campo vieram com a difusão das tecnologias geradas pela pesquisa. No Paraná, esta responsabilidade do poder público é da Emater. Com 63 anos de história, a Emater também passou por mudanças impostas por governos em sucessivas administrações. Hoje, depois da sua transformação em autarquia, lhe foi dada a denominação de Instituto Emater.
A modernização é necessária para melhorar a gestão. Mas, as mudanças impostas sem um nível adequado de debate, podem resultar em insegurança, desconfiança e falta de perspectivas de futuro. E o que se pretende de fato é um salto qualitativo, e não o retrocesso. Mas, a cada vez que surge a necessidade de reformular as instituições, faltam bons projetos que possam garantir as conquistas e promover mais avanços.
Atualmente está em curso uma proposta de Lei (PL 594/2019) do executivo, encaminhada à Assembleia Legislativa, que promoverá a fusão de quatro instituições: Iapar, Emater, Centro Paranaense de Referência em Agroecologia (CPRA) e Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Codapar). Estas quatro instituições vão dar origem ao "Instituto Paranaense de Desenvolvimento Rural".
Não haveria motivo para dúvidas sobre as boas intenções com esta ousada proposta, se houvesse uma análise mais criteriosa do verdadeiro resultado prático da fusão. Além, é claro, a falta de um debate mais amplo com o ambiente interno, o corpo funcional das instituições, e com o setor produtivo do agronegócio do Paraná.
Deixadas de lado as opiniões sobre o ato em si, é necessário que algumas perguntas sejam respondidas, sem o que a tentativa de impulsionar o sistema poderá ser um empecilho. E as atividades das instituições envolvidas podem sim sofrer solução de continuidade por um longo tempo. Este tempo, aliado à carência de recursos financeiros e orçamentários, é um dos principais "concorrentes" da eficácia no setor público.
De que forma as mudanças podem ampliar as possibilidades de continuar a haver a promoção do Agronegócio, com a geração e a adaptação de tecnologias adequadas a realidade do Paraná? A fusão das quatro instituições é uma solução inteligente para melhorar? Ou é apenas uma tentativa de enxugamento da máquina pública, para justificar as atitudes administrativas de governo?
As instituições mudam em função de diferentes fatores. Entretanto, reorganizar órgãos públicos requer estratégia política de resultados. Assim, deveria haver uma avaliação de riscos sobre as reações e dos resultados pretendidos. Em uma avaliação mais criteriosa, junto com a inteligência institucional, poderiam ser encontradas alternativas mais efetivas para o governo, e com o devido respaldo da sociedade.
É melhor que haja uma distribuição da responsabilidade das mudanças, do que ter o peso das consequências sobre os "ombros" de quem está no poder. Ainda há tempo para mais reflexões. É preciso apenas ter vontade política de abrir o espaço para mais diálogo.
Marcos Elias Traad da Silva - Pesquisador do Iapar aposentado