Mercado exige medidas sustentáveis de empresas e paga por isso
Empresas, consumidores e investidores demonstram guinada definitiva no sentido da adoção de práticas sustentáveis. Comportamento alinha-se ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para 2030 (ODS 2030) elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Divulgados em 2015, os ODS 2030 buscam conscientizar a população mundial e incentivar práticas que reduzam a pobreza e os impactos negativos das atividades humanas no meio ambiente. Metas como redução do desmatamento, aumento da utilização de fontes renováveis de energia, garantia de disponibilidade hídrica, incremento da resiliência dos assentamentos humanos e redução das desigualdades sociais e de gênero são prioridades no documento da ONU.
O movimento no sentido do aumento da preocupação com questões ambientais intensificou-se nos últimos anos. O conceito de desenvolvimento sustentável fortalecido durante a Conferência sobre Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro em 1992, conhecida como Rio-92, alterou significativamente as formas de agir e de produzir em todo o mundo. Desde então, a adoção de práticas sustentáveis deixou o campo da voluntariedade e passou para uma exigência do mercado.
Consumidores exigem serviços e produtos sustentáveis
Tendência mundial demonstra que consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos ou serviços sustentáveis. Pesquisa realizada pela Nielsen em 2015 apontou que 66% dos entrevistados mostraram-se dispostos a pagar mais por produtos e serviços de empresas comprometidas com impacto socioambiental de sua atividade. O resultado da pesquisa representou um aumento de 16% em relação à pesquisa realizada em 2013.
Na mesma linha, pesquisa recente realizada pela ECCON Soluções Ambientais apontou que 90% dos entrevistados levam em conta o comprometimento das empresas com o meio ambiente ao escolher um prestador de serviços. Além disso, 95% demonstraram disposição em pagar mais caro por serviço que, comprovadamente, agregue impactos positivos ao meio ambiente. A pesquisa demonstrou, por fim, que 65% dos entrevistados estaria disposto a pagar até 10% a mais por um serviço sustentável ou de impacto ambiental positivo.
Sustentabilidade é relevante também para investidores.
A exigência por práticas sustentáveis vem também dos investidores, que preferem alocar seus recursos em empresas que adotem boas práticas ambientais. A experiência tem demonstrado interessante retorno financeiro. Algumas ferramentas têm auxiliados os investidores a direcionar seu capital para essas empresas.
Dentre elas, destaca-se o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) , ferramenta criada em 2005 e gerida pela Bolsa de Valores de São Paulo (B3). O ISE mede a sustentabilidade corporativa de empresas que negociam suas ações na bolsa de valores. Em linhas gerais, o índice mede o retorno médio de uma carteira teórica de ações de empresas de capital aberto e listadas na B3 com as melhores práticas em sustentabilidade.
Compõem este índice fatores como eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa. Busca-se, desse modo, a valorização de empresas e grupos comprometidos com sustentabilidade, estabelecendo um parâmetro de diferenciação destas em relação aos concorrentes.
O aumento da relevância desses critérios para investidores traz diversos impactos positivos à sociedade. Além do incentivo de adoção de boas práticas ambientais pelas empresas, torna-se possível mensurar a influência positiva dessas práticas no desempenho financeiro das empresas. Segundo a B3, empresas da carteira ISE apresentam valor de mercado de 10% a 19% maior do que o grupo de controle correspondente.
A carteira anunciada pelo ISE para 2019 reúne 35 ações de 30 companhias. Nela, estão representados 13 setores e soma de R$ 1,73 trilhão em valor de mercado.
A experiência com consumidores e investidores delimita o novo caminho a ser trilhado pelas empresas. Mais que mero diferencial positivo, adotar boas práticas ambientais tornou-se mandatório. Ignora-las demonstra inadequação à nova realidade.
Green bonds
Em 2017, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) informou ter concluído captação de 1 bilhão de dólares em títulos "verdes", conhecidos como "green bonds", no mercado internacional. De acordo com o banco, a demanda atingiu 5 bilhões de dólares em ordens, com a participação de mais de 370 investidores no processo de formação de preço dos títulos - que vencem em 2024.
Os green boonds também estão crescendo nos Estados Unidos. A demanda de investidores por projetos ecologicamente corretos ganha destaque, envolvendo projetos de infraestrutura verde, desenvolvimento imobiliário e iniciativas de eficiência energética. De acordo com a Climate Bonds Initiative , foram emitidos US$ 160,8 bilhões em títulos verdes no ano de 2017 e valor superior em 2018.
Iniciativas de impacto
As demandas de mercado, pouco a pouco, passam a ser atendidas pelas empresas. É o caso, por exemplo, da 99, que mitigou a emissão de gases de efeito estufa no município brasileiro de Manaus referente ao mês de dezembro de 2018 por meio de investimento em preservação da Amazônia.
Veículos de pequenas entregas, por exemplo, deixaram de ser motos e passaram a ser bicicleta, conforme iniciativas das empresas Rappi e Courrieros. E quem mora em São Paulo já se acostumou a ver nas ciclovias as bicicletas e patinetes da Yellow, Grin e Itaú.
A ECCON Soluções Ambientais , empresa de consultoria ambiental, também trouxe disrupção ao criar uma plataforma online de venda de florestas privadas que tem o potencial de viabilizar negócios ambientais em cifras bilionárias.