Métodos de avaliação física e novas tendências no futebol
É inegável que a preparação física é um dos pontos mais importantes do futebol contemporâneo. A cada ano o futebol se torna cada vez mais exigente, e se não houver um bom trabalho físico, a equipe não será bem-sucedida. Preparador físico graduado em Educação Física, com Especialização em Futebol e grande experiência no mercado futebolista, Paulo Franco nesta entrevista fala sobre métodos de avaliação física, novas tendências do futebol, dentre vários assuntos que pode ser de interesse seu, apaixonado por futebol.
Entrevistador: É sabido que, atualmente, há testes específicos para demonstrar qual o nível de desgaste muscular dos jogadores. Quais são estes testes e qual a periodicidade com que eles devem ser realizados?
Paulo Franco: Esse tipo de avaliação deve ser feito sempre após os jogos e também durante a semana, quando a carga de treinamento é elevada. Através de coleta sanguínea, o aparelho analisa a enzima CK, que nos fornece um índice; quando elevado, isso representa que o atleta apresenta um nível de fadiga que exige controle da carga de trabalho naquela sessão de treino até que o índice seja normalizado.
Entrevistador: Fala-se muito sobre a necessidade de bom condicionamento físico do jogador para que ele jogue em alto nível. Qual o motivo que você acredita que muitos jogadores não chegam ao seu ápice físico nas temporadas?
Paulo Franco: Todo jogador necessita sempre de trabalhos específicos para que se mantenha em sua forma ideal. É necessário que sejam feitos todos os treinamentos desde a pré-temporada. Acontece que, quando um jogador entra em uma maratona grande de jogos e não tem tempo para fazer treinamentos específicos, sua performance pode oscilar.
Entrevistador: O índice de lesões e problemas de saúde diversos (tais como mal súbito, por exemplo) tem crescido gradativamente no futebol. Você acha que os jogadores estão preparados para o desgaste que o esporte exige atualmente? Não há um exagero na busca desenfreada pela melhor forma física?
Paulo Franco: Acredito que não. Hoje temos excelentes profissionais de preparação física e fisiologia atuando diretamente nos controles de cargas de trabalho. O futebol evoluiu, se tornou mais rápido, exigindo jogadores velozes e fortes. Os campeonatos também têm um calendário de muitos jogos, portanto o que deve ser cobrado pelos profissionais e clubes são avaliações medicas periódicas e, nesse ponto, acredito que muitos clubes deixam a desejar… Todos os atletas, incluindo categorias de base, devem se submeter a avaliações médicas periódicas para controle das atividades físicas, evitando assim qualquer problema de saúde.
Entrevistador: Alguns técnicos defendem a não-segregação do treinamento no futebol. Ou seja, a preparação física não deveria ser feita separadamente, mas sim, em conjunto com a preparação técnica, tática e psicossocial, visando a melhor interpretação do jogo por parte dos atletas. Você concorda com esta visão? Acha possível que isso seja aplicado ao Vasco em um curto espaço de tempo?
Paulo Franco: Acredito que sim. Na Europa profissionais utilizam essa metodologia. Essa é a metodologia que alguns clubes vêm adotando e obtendo um resultado excelente. Normalmente as equipes demoram para conseguir chegar a um condicionamento físico ideal no início do ano; com essa metodologia já foi comprovado o êxito das equipes.
Entrevistador: Fale-nos sobre a integração entre a preparação física e a fisiologia. Qual a sua importância?
Paulo Franco: Ter um departamento de fisiologia integrado à preparação física, é de extrema importância para o desenvolvimento do trabalho dentro dos clubes. Acredito que todas as áreas do clube devem ser integradas, senão o futebol não funciona. Você pode ter excelentes profissionais em um clube, mas se eles não trabalharem de forma conjunta, não dará certo.
Entrevistador: Fale-nos um pouco sobre como é feito o trabalho com jogadores que possuem necessidades específicas dentro de um time. Eles podem ser expostos à mesma carga de treinamentos e jogos dos outros atletas do elenco, ou precisam de programas específicos para que possam render o seu máximo? Em caso positivo, como isto é feito?
Paulo Franco: Esses atletas têm programas específicos de treinamento, o trabalho é individualizado. São atletas que necessitam de trabalhos de força e muitas vezes não participam dos trabalhos com o restante do grupo. Mas são esses trabalhos que prolongam a carreira dos atletas e evitam lesões musculares. Consegue-se atingir os objetivos, quando estes apresentam excelente performance e nenhum tipo de lesão muscular.
Entrevistador: Existe uma diferença muito grande do trabalho com equipes adultas para a base?
Paulo Franco: Na base a relação entre aprendizagem motora x performance. Com equipes adultas é mais fácil trabalhar, pois teoricamente o processo de aprendizagem dos fundamentos ou da coordenação motora já foi ultrapassado. Então é apenas necessário administrar as tarefas para que as capacidades físicas estejam no ponto mais alto da performance no momento do jogo.
Entrevistador: Como funciona a preparação física das equipes de base?
Paulo Franco: A relação entre aprendizagem motora e performance é constante. Temos que conhecer as características de crescimento e desenvolvimento da faixa etária para não pularmos fases e acelerarmos uma performance de forma precoce. Trabalhamos com o aumento do acervo motor através do trabalho coordenativo constante, bem como o fortalecimento muscular aplicado a modalidade, utilizando o peso corporal como carga e otimizando algumas capacidades para um melhor desenvolvimento do corpo durante a execução dos fundamentos técnicos do jogo.