No Rio Grande do Sul, "migués" de funcionários custam cerca de R$ 676 milhões por ano para as empresas
Somando todos os cafezinhos prolongados, ônibus fictícios atrasados e dores de barriga estratégicas, a conta do "migué" no estado do Rio Grande do Sul é de R$ 676.173.113 por ano para as empresas. A constatação é do estudo Migué: desengajamento e comunicação no trabalho, elaborado de forma inédita no país, por meio de uma parceria entre as empresas Santo Caos - pioneira em consultoria de engajamento -, e Pimientos - parceira estratégica de comunicação e negócios.
Gíria que, no ambiente profissional, define o ato de burlar as obrigações por um motivo não tradicionalmente justificável, mas geralmente mascarado por um problema "socialmente aceito", o migué causa impactos não apenas no âmbito financeiro, mas também no clima organizacional.
Jean Soldatelli, especialista em engajamento e sócio fundador da Santo Caos, explica que o estudo, feito em dezembro de 2017, com mais de 900 entrevistados, em todo o Brasil, buscou compreender os motivos pelos quais os trabalhadores dão as mais diferentes desculpas para se esquivar do trabalho. Seja faltando em uma emenda de feriado para viajar ou para ir a um compromisso pessoal; seja chegando atrasado e dando como pretexto o trânsito; seja demorando no almoço ou no cafezinho, ou mesmo "enrolando" ao entregar uma tarefa.
Por que dar o migué?
Para aprofundar o entendimento dos porquês dessas desculpas no trabalho, o estudo analisou o engajamento dos funcionários participantes. O resultado é que, em média, um funcionário que dá migué é cerca de 10% menos engajado que aquele que não dá migué. Ou seja, existe uma relação direta entre a falta de engajamento de um funcionário e sua motivação para dar migué. Quanto à comunicação com a empresa, o estudo identificou que uma relação transparente, com canal aberto, é mais descrita por quem não dá migué (66%) do que por quem dá o migué (45%).
Para Gabriel Galvão, diretor de Planejamento da Pimientos, o migué impacta diretamente a economia das empresas e do país, mas, por outro lado, é o resultado da falta de engajamento que uma cultura pouco humanizada das empresas pode gerar. "Ao identificar essas situações é possível desenvolver ações que motivem os funcionários e minimizem esse tipo de comportamento dentro das organizações", complementa o empresário.
Perfil dos "miguezeiros gaúchos"
O estudo também identificou quatro diferentes perfis de quem dá migué. O primeiro colocado no estado do Rio Grande do Sul é o chamado "Way of Life" (38,1%), que dá migué por praticidade e enxerga isso como uma ferramenta de relacionamento. Empatados estão os o "Fugidinha" e o "Injustiçado", cada um com 23,8%. O primeiro, reconhecido por ser àquele que dá migué como forma de evitar conflitos com o chefe ou com a empresa, e o segundo que usa o migué como ferramenta de justiça, pois entende que trabalhou muito ou não recebe valor justo e acaba usando a 'desculpa' como forma de compensação. E por último o "Burocrático" (14,3%). Funcionário que dá migué por não concordar com políticas burocráticas da empresa, como bater ponto ou emendar feriado mesmo sem trabalho.
Justificativas mais comuns
De um modo geral, problema de saúde física vem em primeiro lugar (54,4%), seguido da impossibilidade de deslocamento (38,1%), problema de saúde na família ou com o animal de estimação (14,6%), compromisso pessoal (17,3%) e problema de saúde mental pessoal (5,2%). A justificativa principal para o primeiro colocado é a melhor aceitação da empresa, afinal, geralmente esse é o único motivo que faz com que as empresas acabem liberando um funcionário. Dificilmente o funcionário tem liberdade para falar abertamente sobre outros casos como complicações familiares, urgências pessoais ou até mesmo cansaço.
"O estudo leva a um entendimento de que há uma falta de confiança muito grande na relação entre empresa e funcionário e que a base de todos os gatilhos para os migués está na construção de novas relações. O migué não é necessariamente uma questão de índole. Muita gente dá migué por falta de transparência, por problemas de comunicação com o gestor, medo de repreensão, e até como forma de justiça. Tudo isso é muito mais grave do que uma simples escapada do trabalho pode parecer e merece a atenção dos empregadores", analisa o especialista da Santo Caos.
Metodologia
O estudo Migué: desengajamento e comunicação no trabalho foi realizado pela Santo Caos e pela Pimientos, em dezembro de 2017. Ao todo foram abordadas 911 pessoas, em 20 estados brasileiros, mais o Distrito Federal, por meio de entrevistas presencial e on-line.
Para chegar ao "custo-migué", o estudo levou em consideração o número de brasileiros ocupados segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, o salário médio por estado, conforme o Cadastro Centra de Empresas - IBGE - CEMPRE, e o custo de um trabalhador para a empresa, de acordo com a FGV/CNI. Foi mensurado na pesquisa o número médio de faltas por ano e o tempo médio de atrasos por semana, ambos propositais, ou seja, aquela falta por doença verdadeira ou o atraso não planejado não foram contabilizados. O "custo-migué" representa o custo direto, associado a faltas e atrasos.
Perfil dos respondentes
Foram 39% de homens e 61% de mulheres, entre 18 e 65 anos, majoritariamente dos setores privado (79%) e público (16%), de empresas pequenas (com menos de 50 funcionários) até empresas grandes (com mais de mil funcionários), em 20 estados do Brasil mais o Distrito Federal, de diferentes níveis hierárquicos e grau de escolaridade.
Mais informações
O estudo completo Migué: desengajamento e comunicação no trabalho está disponível pelo site www.migue.com.br, no qual também poderão ser acessados vídeos, e-books, entrevistas, dentre outros materiais.
Website: http://www.migue.com.br