São Paulo e história: cinco fatos curiosos sobre o Cemitério da Consolação
Fundada em 1858, a necrópole paulistana reúne túmulos como o de Monteiro Lobato, importantes obras de arte e um cenário digno de filme
Quem visita cidades como Buenos Aires e Paris percebe que, invariavelmente, os principais cemitérios dessas capitais vão surgir no roteiro. Tanto os portenhos como os parisienses, bem como outros povos pelo mundo, têm o hábito de percorrer as ruas de suas necrópoles seja para apreciar as obras de arte que ali se espalham, conhecer o túmulo de alguma personalidade famosa ou, simplesmente, curtir momentos de silêncio e introspecção.
No Brasil, a prática não é tão naturalizada e as visitas se concentram em datas como o Dia de Finados, com o propósito de homenagear familiares e entes queridos. Ainda assim, um olhar mais atento revela: nossos cemitérios revelam importantes detalhes históricos da sociedade e merecem reconhecimento.
Entre os mais importantes está o Cemitério da Consolação, construído em 1858. Primeira necrópole pública da capital paulista, seu cotidiano atual é bem diferente: velórios e sepultamentos são raros, daí ser um dos que menos recebem coroas de flores em São Paulo, e sua função social prioritária é a de museu a céu aberto. Saiba mais sobre esse icônico lugar:
Saúde pública e status social
Quando foi inaugurado, no meio do século 19, o Cemitério da Consolação representou uma mudança de hábitos. Até então, o comum era que as igrejas servissem de túmulo aos mortos, mas isso tornou-se uma questão de saúde pública. No início, pessoas de todas as classes sociais eram sepultadas na nova necrópole paulistana, inclusive escravos. Já no século 20, a área foi elitizada. Famílias ricas, representantes da alta sociedade paulistana, começaram a encomendar mausoléus grandiosos e a enviar seus familiares para lá. Esse movimento explica tantas obras de arte e metais valiosos que decoram túmulos do cemitério até hoje.
Reduto de famosos
Quase 100 personalidades históricas estão sepultadas no Cemitério da Consolação, entre elas: o poeta e escritor Mário de Andrade, a quem podemos atribuir o termo "Pauliceia Desvairada" ao fazer referência a São Paulo; a cortesã Marquesa de Santos; o escritor Monteiro Lobato, autor de diversas obras, como "O Sítio do Pica-pau Amarelo"; o ator Paulo Goulart; e a artista plástica Tarsila do Amaral, atualmente com exposição no MASP (Museu de Arte de São Paulo). Muitas das personalidades que nomeiam ruas da capital paulista também foram sepultadas lá, como Washington Luís, Libero Badaró e Anália Franco.
Arte que resiste ao tempo
Caminhar pelas ruas estreitas do Cemitério da Consolação é se deparar com obras de arte resistentes - ao tempo, aos fatores climáticos e aos furtos. Artistas importantes deixaram sua marca lá, como Vitor Brecheret, Rodolfo Bernardelli e Luigi Brizzolara, cujas criações decoram jazigos e mausoléus.
A história contada: visita guiada
Há mais de dez anos, o Cemitério da Consolação conta com visitas guiadas que permitem aos visitantes mergulhar na história da maior capital brasileira por meio dos muitos personagens que habitam seus mais de 76 mil m2. Quem comanda o passeio (gratuito!) é Francivaldo Almeida Gomes, o Popó, que já trabalhou como coveiro e é uma enciclopédia humana. "O tour é muito interessante e o Popó transborda carisma. Ele costuma pedir aos turistas que digam o nome de uma rua famosa da sua cidade de origem - que, geralmente, é o nome de uma personalidade - e, na sequência, conta a história dessa pessoa, com informações e datas precisas. O Popó costuma saber até onde a pessoa está enterrada, mesmo que seja em outro cemitério", conta o empresário paulista Leonardo Lopes, que já fez o tour.
Para quem preferir se aventurar por conta própria, o aplicativo Guia do Cemitério Consolação é bastante útil. Com ele, é possível escolher o roteiro por temas, como Arte Tumular, Políticos do Império e Modernistas, entre outros.
Cenário de filme
Assim como outros pontos importantes da cidade, entre eles o Parque do Ibirapuera, o Minhocão, a Avenida Paulista e o bairro da Liberdade, o Cemitério da Consolação é, com frequência, requisitado para a gravação de séries, filmes e videoclipes. Entre as produções que tiveram o local como cenário estão o longa-metragem "Sinfonia da Necrópole" (2016), da diretora Juliana Rojas, e o vídeo de "Lying in State", música do Megadeth, uma das atrações do Rock in Rio 2019.
Fontes:
Cemitério da Consolação, site oficial.
Leonardo Lopes, diretor executivo da Best Homenagens.
Website: https://www.coroasaopaulo.com.br