Sonho de brilhar no MMA estimula emigração de atletas para os Estados Unidos
Sem condições adequadas no país, lutadores de artes marciais buscam oportunidades profissionais fora do Brasil.
Para chegar no topo do MMA (prefixo em inglês para "artes marciais mistas"), uma das modalidades de luta que mais cresce no interesse do público brasileiro e mundial, atletas precisam vencer não apenas adversários no ringue, mas superar os desafios da carreira esportiva no Brasil. Em busca de aperfeiçoamento, jovens esportistas têm deixado o país atraídos por melhores oportunidades de crescimento nos Estados Unidos.
De acordo com o Departamento de Cidadania e Imigração dos EUA (USCIS), 2018 registrou um recorde na taxa de recusa de benefícios de imigração para vistos de emprego. Por outro lado, a taxa de aprovação para o visto P-1, dedicado a atletas de calibre internacional e outros tipos de entretenimento (música, teatro, dança), segue em alta para pessoas qualificadas que desejam desenvolver carreira no país.
Um exemplo é o jovem Guilherme Faria, de 27 anos, que em 2018 teve o seu pedido de emigração aprovado e se mudou de Limeira para Sacramento, na Califórnia, visando alcançar mais títulos em duas modalidades, muay thai e MMA. "Nos Estados Unidos, patrocínios e bolsas dão reais condições para um atleta se preparar para campeonatos mundiais importantes como o UFC", diz o bi-campeão mundial de muay thai na Tailândia (2014 e 2017) e campeão do XFC MMA, em 2015. Guilherme conta com visto de trabalho no país pelo período inicial de cinco anos. Para obter o visto, ele precisou fornecer evidências do seu reconhecimento internacional, com presença em rankings e carta-convite de uma autoridade de liga esportiva confirmando interesse em trabalhar com ele, que faz parte da Team Alpha Male.
Inspirados em trajetórias de sucesso como da família Gracie, pioneira na propagação do jiu-jitsu nos Estados Unidos, e campeões de MMA como Anderson Silva, Vitor Belfort e Fabrício Werdum, todos residentes americanos, lutadores brasileiros buscam morada no exterior visando se associar com os melhores do mundo. "Atletas com ambição de fazer carreira internacional estão competindo com um olho no pódio e outro nos documentos de imigração", comenta a Dra. Flávia Santos Lloyd, advogada brasileira baseada na Califórnia e especializada em processos de imigração entre os dois países.
Em 25 anos de história do UFC, maior mundial de MMA, fundado pelo brasileiro Rorion Gracie, o Brasil ocupa uma posição de destaque: 28% das lutas realizadas pela franquia até hoje tiveram a presença de pelo menos um brasileiro, que enfrentaram lutadores de 61 nacionalidades diferentes. Os americanos foram nossos rivais na maioria das vezes, e em seguida vêm as lutas entre brasileiros.
Em 2018, 40% dos eventos do UFC realizados em todo o mundo tiveram pelo menos um brasileiro em sua luta principal, segundo a organização do evento. Além disso, dos 90 lutadores com contrato pela empresa, 16% nasceram no país.
Embora o Brasil conte com alguns dos maiores talentos do esporte, a remuneração desses profissionais no país é advinda de patrocínios e bolsas "simbólicas", deixando custos de viagem, exames médicos e equipamentos muitas vezes a cargo do esportista, que se vê obrigado a exercer uma profissão em paralelo para sustentar a carreira.
Há sete meses, o paulistano Vinícius Matheus, de 23 anos, faixa roxa em jiu-jitsu e com medalhas na categoria Peso Pesado, teve o seu visto P-1 aprovado e desembarcou em Agoura Hills, na Califórnia, para treinar na Overall Cobrinha BJJ. "Pelo período de três anos, tenho autorização para morar no país e treinar com os melhores do mundo, o que certamente me traz vantagens competitivas no MMA", diz o jovem que não precisa mais do apoio financeiro dos pais para entrar no ringue.
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