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Suicídio em ambiente de trabalho ainda é subestimado

29 set 2016 - 14h57
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Às vezes o tema chega às manchetes por conta de casos extremos, como os recorrentes suicídios na chinesa Foxconn ou na francesa Orange. Ou ainda por conta de medidas extremas de algumas empresas sul-coreanas, que recorreram à realização de funerais com seus funcionários para sensibilizá-los sobre o assunto. Mas de maneira geral, o suicídio em ambiente de trabalho ainda é um assunto pouco abordado. Apesar disso - ou talvez justamente por causa disso - suas taxas estão crescendo em todo o mundo.

Estudo publicado no British Journal of Psychiatry concluiu que 10.000 pessoas se mataram entre 2008 e 2010 nos Estados Unidos e na Europa por conta da crise econômica. Segundo os últimos dados disponíveis para o mercado norte-americano, 270 pessoas cometeram suicídio no trabalho em 2013, um aumento de 12% em relação ao ano anterior.

E quem é mais propenso a cometer esse ato extremo?

De acordo com pesquisa baseada nos dados de 2003 a 2010 do Bureau of Census Labor Statistics dos Estados Unidos e publicada no American Journal of Preventive Health, os homens são 15 vezes mais propensos a se matar no trabalho do que as mulheres. E embora as estatísticas da OMS indiquem que há maior concentração de suicídios na juventude, este estudo mostrou que, em ambiente de trabalho, homens e mulheres entre as idades de 65 e 74 têm quase três vezes mais probabilidades de se matar do que pessoas de outras idades.

No Brasil, o último dado do Ministério da Saúde é de 2014 e mostra que naquele ano foram mais de 10.600 casos de suicídio no país. Em 2012, o Pais ocupava o oitavo lugar no ranking global de suicídios da Organização Mundial de Saúde. Não é possível saber quantos foram em ambiente de trabalho, já que o governo divulga os óbitos no trabalho sem discriminar a causa.

"Questões econômicas e relacionadas ao emprego muitas vezes atuam como gatilho para quem tem tendências suicidas. Por isso, embora o tema seja mais complexo, é possível notar que historicamente as taxas de suicídio se elevam em períodos de recessão econômica. Daí a importância da abordagem preventiva, especialmente nos dias de hoje. Afinal, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos suicídios poderiam ser evitados", alerta Januário Micelli, presidente da AGSSO-Associação de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional.

O Setembro Amarelo é uma ótima oportunidade para conscientizar os funcionários na opinião de Paulo Zaia, diretor da AGSSO. "Mas é preciso ir além, criando mecanismos para ouvir os funcionários em busca de pistas que permitam identificar quem pode ter mais propensão a cometer um ato extremo", recomenda. Ouvidorias internas independentes em permanente contato com os médicos do trabalho são uma boa opção tanto para mapear como para acolher trabalhadores em busca de ajuda para si ou para algum colega. "O medo de perder o emprego ou as chances de promoção são grandes inibidores, portanto a independência no trato das informações é fundamental", destaca.

Outra medida importante é a adoção de políticas de identificação e apoio a dependentes químicos e pessoas com depressão. "É importante deixar claro que não existe uma relação direta entre drogas, depressão e suicídio, mas estes podem ser sinais de um comportamento autodestrutivo que eventualmente pode desembocar em atos mais radicais", ressalta Paulo Zaia.

Em todo o mundo, o suicídio responde por 800 mil mortes por ano, ou uma a cada 40 segundos, segundo a OMS. É a principal causa de morte entre garotas na faixa dos 15 aos 29 anos em todo o mundo. A cada 4 suicídios, 3 acontecem em países de renda baixa ou média.

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