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Doria e Witzel articulam aliança no Rio

Governadores negociam palanque único com pré-candidatura de Gustavo Bebianno; ideia é se contrapor a nome apoiado por Bolsonaro

6 mar 2020 - 05h10
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Potenciais candidatos à Presidência da República em 2022, os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio, Wilson Witzel (PSC), podem subir no mesmo palanque na disputa pela capital fluminense. A ideia da aliança, em fase de negociação, é criar uma alternativa a um candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro na cidade. Os dois governadores foram eleitos em 2018 se apoiando no bolsonarismo.

A aproximação entre Doria e Witzel foi costurada por dois ex-aliados de Bolsonaro: o empresário Paulo Marinho, presidente do PSDB no Rio, e o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno, lançado ontem pelo partido como pré-candidato à prefeitura do Rio. O grupo se encontrou durante o carnaval para discutir o assunto. Interessa aos dois governadores que a família Bolsonaro fique isolada na disputa pela capital fluminense.

O presidente tem dito que não pretende interferir nas eleições municipais. O partido que pretende criar, o Aliança pelo Brasil, não deverá obter registro da Justiça Eleitoral a tempo de participar da eleição. Embora não tenha declarado apoio explícito a ninguém, Bolsonaro participou, desde dezembro, de quatro agendas públicas ao lado do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que tentará a reeleição, o que foi visto como um sinal de aproximação.

O núcleo mais próximo a Bolsonaro cogita lançar o deputado federal Hélio Lopes (PSL) e o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL), conhecido por quebrar, durante a campanha de 2018, uma placa com o nome da vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018.

Doria e Witzel estão entre os 20 governadores que assinaram, em fevereiro, uma carta criticando Bolsonaro por, segundo eles, não contribuir para a "evolução da democracia". Há duas semanas, Witzel chegou a falar que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade, passível de punição com impeachment, por ter enviado, por WhatsApp, vídeos que estão sendo usados para convocar protestos contra o Congresso Nacional, como revelou o site BR Político, do Grupo Estado.

Doria comentou a aproximação com Witzel ontem, durante entrevista coletiva para anunciar a pré-candidatura de Bebianno. "Falei hoje (ontem) pela manhã com o governador Witzel. Temos um bom entendimento de manter um campo democrático liberal. Esse entendimento vai nos colocar em boas conversas. O governador está definindo uma candidatura do seu partido, mas estamos próximos. Os entendimentos podem avançar", afirmou o tucano.

Procurado, Witzel não se posicionou. O presidente do PSC, Pastor Everaldo, afirmou que o partido deve ter candidatura própria. "Até 6 de agosto, data limite para as convenções partidárias, muita água passará por debaixo das pontes", disse em nota.

Substituição

O PSDB havia anunciado que a ex-secretária de Cultura da capital fluminense, Mariana Ribas, seria candidata à prefeitura do Rio, mas recuou por pressão de Marinho e Bebianno. "Houve uma mudança de posições no gramado", disse Bebianno. Mariana Ribas deve assumir um cargo no Sebrae de São Paulo.

No evento desta quinta-feira, Bebianno adotou um discurso duro contra Bolsonaro e esse deve ser o tom de sua pré-campanha. "Bolsonaro ignora o Rio de Janeiro, tanto o Estado quanto a cidade. Ele enxerga no Rio uma fonte de problemas e prefere se manter a distância", disse o ex-ministro da Secretaria-Geral.

Ao falar sobre o cenário das eleições municipais, Bebianno, que foi presidente nacional do PSL, disse que Bolsonaro "destruiu" o partido. "Como disse o (senador) Major Olímpio, ele morava sozinho e fugiu de casa. Destruiu o PSL e ficou sem partido. Está na calçada. Acho muito difícil o Aliança sair do papel até a eleição", afirmou.

Ainda segundo o pré-candidato, o presidente adota atitudes inexplicáveis. "Ele ouve pessoas beligerantes que acirram a beligerância dele. Bolsonaro arruinou sua base na Câmara."

Bebianno relatou que, em 2017, trabalhou "intensamente" para filiar o vice-presidente Hamilton Mourão ao partido para que o general disputasse o governo do Rio em 2018, mas Bolsonaro vetou o movimento.

Crivella também foi alvo do advogado. "A cidade do Rio está abandonada. Temos um prefeito que parece não gostar da cidade. Não é um carioca legítimo."

Na mesma linha, Paulo Marinho disse que Crivella "não tem vocação" para ser prefeito do Rio. "Ele viveu na África e em Brasília. Nem conhece o Rio de Janeiro", afirmou o empresário, numa referência ao trabalho de Crivella como missionário em países africanos.

Dupla teve apoio de presidente

João Doria e Wilson Witzel se beneficiaram da "onda" conservadora nas eleições de 2018 que levou Jair Bolsonaro à Presidência e usaram discurso duro na segurança pública para se eleger governadores dos dois principais Estados do País.

Doria chegou a vestir camisa onde se lia a expressão "Bolsodoria", formada pela fusão do seu nome com o do então presidenciável do PSL. Já Witzel, neófito na política, cresceu nas pesquisas após declaração de apoio da família Bolsonaro à sua candidatura. Após a eleição, ambos demonstraram interesse em se candidatar à Presidência em 2022 e passaram a se afastar de Bolsonaro./ COLABOROU PAULA REVERBEL

Estadão
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