É falso que interventor no DF disse que havia 'infiltrados' em atos golpistas de 8 de janeiro
Posts com o contexto enganoso circulam principalmente no Instagram, plataforma em que acumulam ao menos 5.000 curtidas
Não é verdade que o interventor federal na segurança do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, afirmou que havia "infiltrados" nos atos golpistas que destruíram as sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro. Publicações que fazem essa alegação enganosa compartilham um trecho da edição de 16 de janeiro do programa Prós e Contras, da Jovem Pan News, em que a repórter Luciana Verdolin distorce uma declaração dada pelo secretário, que afirmou em entrevista à imprensa que havia "profissionais em meio aos manifestantes". Em nenhum momento, no entanto, o interventor faz menção a "infiltrados" — termo usado por bolsonaristas para insinuar, sem evidências, uma suposta participação da esquerda.
Posts com o contexto enganoso circulam principalmente no Instagram, plataforma em que acumulam ao menos 5.000 curtidas. Os vídeos também foram compartilhados centenas de vezes no Facebook e circulam no WhatsApp (fale com a Fátima), plataforma em que não é possível estimar o alcance.
Interventor do DF afirma que tinha infiltrados nos atos em Brasília
O interventor federal na segurança pública do Distrito Federal e secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, não afirmou que havia infiltrados de esquerda nos atos terroristas que destruíram as sedes dos Três Poderes em Brasília no último dia 8. Publicações que fazem essa insinuação compartilham um trecho da edição de 16 de janeiro do programa Prós e Contras (a partir de 1h07min50s), da Jovem Pan News, em que a jornalista Luciana Verdolin afirma que o secretário, durante coletiva à imprensa, "até admitiu" que "havia, sim, pessoas infiltradas entre os manifestantes", o que nunca foi dito por ele.
Durante a entrevista, concedida após uma visita a um quartel em Brasília, Cappelli afirma que ouviu de militares que trabalharam para conter os manifestantes que "profissionais" teriam participado dos atos, pelo conhecimento demonstrado em táticas de combate. Em nenhum momento, no entanto, o secretário associa esses supostos profissionais a pessoas "infiltradas" nos atos — termo usado por bolsonaristas para insinuar, sem evidências, a participação da esquerda nos ataques, como Aos Fatos mostrou em reportagem. Procurada, a assessoria de Cappelli também classificou como enganosa a relação.
Confira abaixo o trecho completo da fala do secretário na entrevista da última segunda (16):
Com relação à presença de profissionais, esse foi um depoimento que eu ouvi de um sargento e de um outro oficial que estava no campo, o sargento inclusive ferido com vários pontos na cabeça. Ele declarou, ele falou: "secretário, nós não estávamos enfrentando apenas manifestantes". Ele falou: "existiam homens no campo de batalha com conhecimento do terreno, com conhecimento de táticas de combate, com características profissionais, eram homens profissionais que estavam no meio dos manifestantes". Esse é um depoimento para nós muito valioso e que a gente tá apurando esse depoimento, tá? Faz parte da investigação, vai auxiliar na identificação das pessoas que cometeram os crimes inaceitáveis que nós, o Brasil inteiro viu no dia 8.
Essa não foi a primeira ocasião em que Cappelli mencionou a existência de "profissionais" entre os golpistas. No Twitter no último domingo (15), o secretário disse que os policiais militares feridos em combate afirmaram a ele que "enfrentaram profissionais". Ele repetiu a alegação também em entrevista ao UOL no dia seguinte. "Existiam homens no campo de batalha com conhecimento do terreno, com conhecimento de táticas de combate, com características profissionais. Eram profissionais que estavam no meio de manifestantes", disse.
Infiltrados. Desde o dia 8 de janeiro, o Aos Fatos checou uma série de publicações desinformativas que apontavam para a existência de infiltrados de esquerda entre os golpistas que destruíram os prédios dos Três Poderes. Posts já sugeriram que os culpados seriam membros do MST, um funcionário do Banco do Brasil e até mesmo a responsável por diversos grupos hiperpartidários no Telegram. Usuários das redes também tiraram de contexto vídeos antigos e criaram teorias mirabolantes a partir de uma reportagem do Fantástico.
Outro lado. Aos Fatos entrou em contato com a Jovem Pan News para questionar sobre a alegação feita pela repórter Luciana Verdolin de que haveria infiltrados entre os manifestantes, mas não recebeu retorno até a publicação desta checagem.
Referências:
1. YouTube (Jovem Pan News)
2. Poder360
3. Aos Fatos (1, 2, 3, 4, 5 e 6)
4. Twitter (@RicardoCappelli)
5. UOL