Ecologista americano explica o que são e como os 'Ventos de Santa Ana' alimentaram os incêndios mortais em Los Angeles

Os poderosos ventos de Santa Ana, às vezes com força de furacão, varreram as montanhas nos arredores de Los Angeles, na Califórnia, e provocaram incêndios florestais em vários bairros desde o último dia 7 de janeiro. Mais de 1.000 casas e várias escolas haviam sido queimadas em 8 de janeiro e pelo menos cinco pessoas haviam morrido. As autoridades pediram que mais de 100.000 residentes fossem evacuados no auge dos incêndios, mas com ventos tão fortes havia pouco que os bombeiros pudessem fazer para controlar as chamas.

Jon Keeley, ecologista pesquisador do U.S. Geological Survey e professor adjunto da UCLA, explica o que causa ventos extremos como esse no sul da Califórnia e por que eles criam um risco de incêndio tão perigoso.

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O que causa os ventos de Santa Ana?

Os ventos de Santa Ana são ventos secos e fortes que descem das montanhas em direção à costa do sul da Califórnia.

A região registra, em média, cerca de 10 eventos de ventos Santa Ana por ano, geralmente ocorrendo entre os meses de outubro e janeiro. Quando as condições estão secas, como agora, esses ventos podem se tornar um grave risco de incêndio.

Esses ventos ocorrem quando há alta pressão a leste, na Grande Bacia, e um sistema de baixa pressão na costa. As massas de ar se deslocam da alta pressão para a baixa pressão e, quanto mais extrema for a diferença de pressão, mais rápido os ventos sopram.

A topografia também desempenha um papel importante.

À medida que os ventos descem do topo das montanhas de San Gabriel, eles se tornam mais secos e mais quentes. Essa é uma função da física das massas de ar. Quando os ventos chegam ao ponto em que o incêndio Eaton começou em Altadena, em 7 de janeiro, não é incomum que eles tenham menos de 5% de umidade relativa, o que significa que não há umidade alguma.

Os cânions também canalizam os ventos. Eu morava na região de Altadena e, durante os eventos de vento Santa Ana, havia dias em que o vento não estava presente no local onde morávamos, mas, a algumas quadras de distância, o vento era extremamente forte.

Esses ventos fortes e secos costumam ser de cerca de 30 a 40 mph (milhas por hora). Mas eles podem ser mais fortes. Foi relatado que os ventos no início de janeiro de 2025 atingiram 60 a 70 mph.

Por que o risco de incêndio foi tão alto dessa vez?

Normalmente, no sul da Califórnia, já choveu o suficiente para que a vegetação ficasse úmida e não queimasse facilmente. Um estudo realizado há alguns anos mostrou que a umidade do outono reduz o risco de incêndios provocados pelo vento de Santa Ana.

No entanto, este ano, o sul da Califórnia apresenta condições muito secas, com pouquíssima umidade nos últimos meses. Com esses ventos extremos, temos a tempestade perfeita para incêndios graves.

É muito difícil apagar um incêndio nessas condições. Os bombeiros da área lhe dirão que, se houver um incêndio provocado pelo vento Santa Ana, eles evacuarão as pessoas antes da frente de fogo e controlarão as bordas - mas quando o vento está soprando assim, há muito pouca chance de pará-lo até que o vento diminua.

Em outros estados, incêndios semelhantes foram provocados por fortes ventos descendentes. Durante o incêndio Chimney Tops 2 Fire in Tennessee em novembro de 2016, fortes ventos descendentes espalharam as chamas para as casas em Gatlinburg, matando 14 pessoas e queimando mais de 2.500 casas. O condado de Boulder, no Colorado, perdeu cerca de 1.000 casas quando ventos fortes que desciam as montanhas espalharam o Marshall Fire em dezembro de 2021.

Os ventos de Santa Ana mudaram com o tempo?

Os eventos de vento Santa Ana não são novos, mas estamos vendo-os com mais frequência nesta época do ano.

Meus colegas e eu publicamos recentemente um artigo comparando 71 anos de eventos de vento Santa Ana, começando em 1948. Encontramos aproximadamente a mesma quantidade de atividade geral do vento Santa Ana, mas o momento está mudando, com menos eventos em setembro e mais em dezembro e janeiro. Devido às tendências bem documentadas da mudança climática, é tentador atribuir esse fato ao aquecimento global, mas até o momento não há evidências substanciais disso.

A Califórnia está sofrendo incêndios mais destrutivos do que no passado. Isso se deve não apenas às mudanças no clima e nos ventos, mas também ao crescimento populacional.

Mais pessoas agora vivem dentro e nas bordas das áreas selvagens, e a rede elétrica se expandiu com elas. Isso cria mais oportunidades para o início de incêndios. Em condições climáticas extremas, as linhas elétricas correm um risco maior de cair ou serem atingidas por galhos de árvores e provocar um incêndio. A área queimada por causa de incêndios relacionados às linhas de energia se expandiu muito; hoje é a principal fonte de ignição para incêndios destrutivos no sul da Califórnia.

O Eaton Fire, que queimou muitas casas, fica no perímetro superior da Bacia de San Gabriel, na base das Montanhas de San Gabriel. Há 50 anos, menos pessoas viviam lá. Naquela época, algumas partes da bacia eram cercadas por pomares de frutas cítricas, e os incêndios nas montanhas queimavam nos pomares antes de chegar às casas.

Hoje em dia, não há nenhum amortecedor entre as casas e a área selvagem. O ponto de ignição do Eaton Fire parece ter sido próximo ou dentro de um desses bairros.

As casas são feitas de materiais secos e, quando a atmosfera está seca, eles entram em combustão prontamente, permitindo que os incêndios se espalhem rapidamente pelos bairros e criando um grande risco de incêndios destruidores.

Jon Keeley não presta consultoria, trabalha, possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de seu cargo acadêmico.