Eduardo Bolsonaro vai participar de evento que sustenta a falsa tese que Trump venceu eleições
Filho do presidente, deputado, que se encontrou com ex-presidente dos EUA, deve falar em simpósio sobre 'fraude' eleitoral no Brasil
WASHINGTON - Enquanto a Casa Branca de Joe Biden expressa a confiança no sistema eleitoral brasileiro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, participa de uma turnê pelos Estados Unidos com simpatizantes da tese falsa de que Donald Trump foi o vencedor da eleição de 2020. Eduardo se encontrou com Trump nesta segunda-feira, 9, em Nova York, e, na terça-feira, será uma das estrelas do simpósio que o trumpista Mike Lindell promove para sustentar que houve fraude na eleição americana do ano passado.
O anúncio da presença de Eduardo no evento que acontecerá no Estado de Dakota do Sul foi anunciado por Lindell, em programa de rádio do ex-assessor trumpista e agitador do populismo de direita pelo mundo, Steve Bannon. A expectativa do americano é que Eduardo fale sobre fraude eleitoral no Brasil, a exemplo do que o presidente Bolsonaro tem feito. "Eles (Brasil) têm a mesma coisa no país deles e estão preocupados com a eleição em 2022. E ele é um amigo meu e ele virá e falará sobre os problemas", disse Lindell a Bannon. "Eles têm dois problemas em comum (com os EUA): a mídia e as máquinas (urna eletrônica)", disse Lindell.
A presença de Eduardo em eventos que sustentam que Trump é o verdadeiro vencedor da disputa eleitoral e a propagação da tese de fraude no Brasil cria um embaraço para a diplomacia brasileira. O presidente Jair Bolsonaro declarou publicamente sua torcida por Trump no ano passado e foi o último líder do G-20 a reconhecer a vitória de Biden. O governo do democrata, no entanto, adotou uma postura pragmática na relação com Brasília após Bolsonaro reconhecer, em cartas à Casa Branca, a vitória de Biden e sinalizar disposição para uma aproximação com o americano.
Na semana passada, no entanto, o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse a Bolsonaro que a Casa Branca confia no sistema eleitoral do País e que não há indício de fraude nas eleições brasileiras. O americano também passou o recado de que os EUA acreditam que é importante não minar a confiança dos eleitores no processo eleitoral.
Nesta segunda-feira, o senador e filho do presidente divulgou nas redes sociais que se encontrou com Trump em Nova York. Na publicação, Eduardo homenageia Trump e diz estar ao lado "dos homens de reputação ilibada e autoridade moral para andar de cabeça erguida nas ruas". Fora da Casa Branca há mais de seis meses, Trump continua a sustentar que ganhou a eleição. Eduardo estava acompanhado da esposa, Heloísa Bolsonaro, e da filha, Geórgia.
As alegações de Trump sobre fraude no processo eleitoral foram barradas pelo Judiciário americano e até por aliados próximos ao ex-presidente. No ano passado, ainda no cargo, o então Secretário de Justiça e fiel aliado de Trump, Bill Barr, afirmou que não havia indícios de que o resultado da eleição americano fosse diferente do que o apurado.
Meses antes de Joe Biden ser eleito presidente dos EUA, Trump começou a propagar falsas alegações de fraude eleitoral. Extremistas apoiadores de Trump que atacaram o Capitólio em 6 de janeiro tentaram, com o ato, barrar a confirmação de Biden como presidente.
O empresário Mike Lindell, presidente da fabricante de travesseiros My Pillow, é um dos principais responsáveis pela divulgação de teorias conspiratórias sobre a disputa americana de 2020. Na semana passada, a emissora de TV CNN divulgou uma reportagem na qual desmonta com fatos os argumentos de Lindell. "(A reportagem) Apontou que os lugares onde ele disse que as eleições foram hackeadas pela China não tinham nenhuma parte de sua infraestrutura eleitoral conectada à Internet, e que os pacotes de dados de alta tecnologia que os 'especialistas cibernéticos' de Lindell disseram que provam fraude eram, na verdade, apenas dados aleatórios", reportou o jornal Washington Post sobre a apuração da CNN.
Lindell está sendo processado pela empresa Dominion Voting Systems que o acusou de difamação pelas alegações infundadas de fraude eleitoral envolvendo urnas eletrônicas. A Dominion pede US$ 1,3 bilhão de indenização. Mesmo assim, ele organiza o evento de três dias na Dakota do Sul que chama de "simpósio de cibersegurança", no qual planeja divulgar novamente informações falsas sobre a disputa de 2020.