A escalada da violência contra professores no Brasil, segundo pesquisas
Atentado que matou professora em escola paulistana ilustra com contornos violentos uma realidade indicada há anos por pesquisadores
O caso dos quatro alunos e da professora esfaqueados em uma escola da Vila Sônia, capital de São Paulo, nesta segunda-feira (27), ilustra com contornos violentos o que os números indicam há anos: as escolas brasileiras são as mais violentas do mundo.
Em 2019, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) já lançava um alerta sobre o assunto. O Brasil encabeçava um ranking mundial de violência no ambiente escolar elaborado a partir de mais de 100 mil entrevistas com professores e diretores do Ensino Fundamental 2, que corresponde do 6º ao 9º ano. Ao menos 12,5% dos professores brasileiros ouvidos pela organização em 2013 afirmavam terem sido vítimas de agressão verbal por parte de alunos - a média global, para se ter uma ideia, era de 3,4%. Anos depois, o quadro não arrefeceu.
Pesquisas mais recentes mostram estatisticamente que a violência escolar, em especial contra professores, continua sendo motivo de preocupação. Um levantamento realizado em julho de 2022 pela associação Nova Escola ouviu mais de 5 mil professores e 51,23% deles relataram terem sido agredidos verbalmente nas escolas em que trabalhavam. Outros 7,53% relataram violência física. Na maioria das vezes (50,5%), os agressores eram os alunos.
No estado de São Paulo em específico, onde ocorreu o atentado nesta segunda-feira (27), os números indicam que as agressões só escalam. Em 2014, 44% dos professores afirmavam ter sofrido alguma violência, de acordo com o Apeoesp (Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo). Três anos depois, o índice subiu para 51% e, em 2019, já era de 54%.
O que motiva a violência nas escolas
Casos mais recentes de violência nas escolas também estão exigindo novas interpretações e, por consequência, novas maneiras de lidar com o problema. Até então, os episódios de agressão praticados especialmente por alunos eram quase sempre associados ao bullying, seja no contexto brasileiro ou norte-americano. Este fator sozinho, no entanto, não dá mais conta de explicar o fenômeno.
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Em entrevista à Nova Escola, a professora Telma Vinha, da Faculdade de Educação da Unicamp e coordenadora do Grupo Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública, destaca o aumento dos discursos de ódio e a influência deles sobre os alunos. Muitos jovens participam de fóruns e grupos nas redes sociais associados à xenofobia, racismo e até neonazismo, e levam esses discursos para a prática dentro do ambiente escolar.
A motivação do ataque na escola paulistana é prova disso: o agressor, um aluno de 13 anos, havia discutido com outro colega na semana anterior e proferido ofensas racistas. A professora que interviu na briga e o repreendeu foi a vítima fatal do ataque.
É preciso pontuar, no entanto, que o aumento da violência escolar é um fenômeno complexo e de múltiplas raízes. Uma delas, a pandemia. Dados preliminares de uma pesquisa que está sendo desenvolvida por Telma Vinha e seus colegas na Unicamp já indica os impactos do isolamento social sobre este tipo de violência: dos 22 ataques cometidos em escolas brasileiras ao longo dos últimos 21 anos, nove ocorrem do segundo semestre de 2022 para cá.
Estudantes expostos a ambientes domésticos violentos, eles próprios vítimas de maus-tratos, também podem se tornar mais agressivos, indica Betina Barros, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em entrevista ao Portal G1.