Acusação de plágio contra ministra preocupa acadêmicos alemães
Nada menos que a ministra da Educação e Pesquisa da Alemanha teve seu título de doutora retirado por causa de acusações de plágio em sua tese. A comunidade científica alemã agora teme danos à reputação do país.
A decisão da universidade é um dA Universidade Heinrich Heine, de Düsseldorf, retirou o título de doutora da ministra Annette Schavan porque ela não teria, em sua tese de doutorado, identificado corretamente citações, como mandam as diretrizes científicas. Ela chegou a admitir ter cometido erros por descuido, mas negou as acusações de plágio.
uro golpe numa das ministras mais próximas da chanceler federal alemã, Angela Merkel, e é também um duro golpe para a credibilidade da comunidade acadêmica alemã.
As acusações contra Schavan não são recentes. Em maio de 2012, um internauta anônimo publicou as primeiras denúncias na internet. Segundo as acusações, a ministra teria violado os padrões acadêmicos, copiando outros pesquisadores.
"Estou preocupado que este processo dê a impressão de que mentiras e engodos sejam comuns na ciência", reclama Bernhard Kempen, presidente da Associação Alemã de Professores Universitários, em entrevista à DW. O professor de direito internacional não só é, ele próprio, autor de uma tese de doutorado, escrita na década de 1980, como também é responsável pela reputação de todos aqueles que trabalham no sistema acadêmico alemão, pois representa os interesses deles na associação.
A maior preocupação dele é de que o escândalo envolvendo Schavan possa abalar a credibilidade da comunidade científica alemã. "Credibilidade é a moeda que usamos com outros países", diz Kempen. "Só podemos ter sucesso internacional se houver confiança na validade dos nossos títulos acadêmicos. Se isso não acontece, todo o sistema é prejudicado."
Reputação do doutorado
A ministra da Educação e Pesquisa pode se gabar de ser internacionalmente bem-sucedida no comando da pasta: mais de meio milhão de pessoas ganham a vida com pesquisa e desenvolvimento na Alemanha. E o país é um dos líderes na exportação de produtos de alto valor tecnológico e de patentes relevantes no mercado mundial.
Pesquisadores estrangeiros também prezam a Alemanha como um local em que é feita pesquisa de ponta. Somente no ano de 2010, 3,7 mil doutorandos estrangeiros concluíram suas teses na Alemanha. A grande maioria - 47% - nas áreas de matemática e ciências naturais. Outros 15% dos jovens cientistas estrangeiros escolheram a Alemanha para fazer doutorado em engenharia.
Os jovens engenheiros Manushanka Balasubramanian, da Índia, Anna Fontana, da Itália, e Valeria Gracheva, da Rússia, escolheram a Alemanha para suas pesquisas e escrevem aqui suas teses. O Ministério da Educação e Pesquisa da Alemanha busca ativamente atrair jovens pesquisadores estrangeiros como eles. "Há muitas razões para fazer um doutorado na Alemanha", anuncia o site do ministério. "Primeiro: a excelente reputação do doutorado alemão."
"É claro que tais escândalos podem minar a credibilidade do trabalho científico no país", diz a jovem napolitana Anna Fontana, acrescentando achar uma contradição que justamente a ministra da Educação e Pesquisa, representante da pesquisa científica de alta qualidade, esteja envolvida num escândalo de plágio.
Anna demonstra coragem ao se manifestar abertamente sobre o tema. Doutorandos de outras instituições de pesquisa negaram categoricamente uma entrevista à DW sobre o assunto, apontando que Schavan e seu ministério são quem, afinal de contas, aprovam a liberação de fundos para instituições de pesquisa.
Pesquisa de ponta
Anna, Manushanka e Valeria escrevem suas teses de doutorado na Alemanha porque acreditam que o país proporciona a eles as condições ideais para tal. E, de fato, o Instituto Fraunhofer de Física de Alta Frequência e Técnicas de Radar (FHR), situado na pequena cidade de Wachtberg, é um lugar especial.
Desde o filme Jurassic Park, crianças alemãs acreditam firmemente que dinossauros são criados dentro daquela esfera branca que pode ser vista de longe. Na verdade aquele prédio redondo é a maior cúpula de radar do mundo. Em seu interior está o radar de observação espacial Tira. As entradas e saídas do centro de pesquisa são vigiadas por um severo esquema de segurança.
Valeria, por exemplo, pesquisa na área de processamento de sinal no mar, Manushanka se concentra no desenvolvimento de campos eletromagnéticos, Anna está comprometida com o desenvolvimento de radares com imagens. "Em cada um de nossos trabalhos, procuramos desenvolver algo completamente novo, como um novo algoritmo ou uma nova forma de mensuração", explica a jovem pesquisadora russa.
Os três jovens cientistas são incentivados a apresentar regularmente seus resultados em conferências internacionais. "Assim, recebemos a confirmação de que estamos fazendo algo realmente inovador. Por isso, não temos aqui esse problema com citações", observa Valeria.
Apesar das discussões sobre a ministra, os três doutorandos não temem uma desvalorização de seus próprios trabalhos. Eles confiam em suas capacidades como pesquisadores e no apoio de seu orientador, Joachim Ender, diretor do FHR. "Ele toma bastante cuidado para que não anotemos nenhuma integral errada", dizem. Afinal, eles esperam que a reputação deles na comunidade científica internacional tenha, no final, um efeito positivo também na valorização e na credibilidade do trabalho que fazem.