Além de Fuvest e Enem: como entrar na universidade pública sem fazer vestibular
Só pela Unicamp são 129 vagas para 966 candidatos; seleção feita pela rede pública estadual oferece 15.390 vagas, 1,5 mil na USP
Nem vestibular nem Enem. Universidades públicas de ponta como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) têm criado outros mecanismos de seleção, como as vagas destinadas para estudantes premiados em competições acadêmicas nacionais e internacionais de diferentes áreas do conhecimento, como matemática, robótica, física, química, biologia e astronomia.
Para selecionar os inscritos, as universidades definem uma pontuação para cada medalha. As conquistadas em olimpíadas internacionais valem mais. Ao final, cria-se um ranking entre os candidatos para que sejam distribuídas as vagas. Não é preciso fazer uma prova adicional.
Na edição de estreia das "vagas olímpicas" da Unicamp, em 2019, foram oferecidas 90 vagas, disputadas por 285 inscritos. Neste ano, a concorrência aumentou: são 129 vagas para 966 candidatos. Segundo a Unicamp, os estudantes que disputam as vagas têm um perfil de alto rendimento e a ideia, ao facilitar o ingresso na instituição, é retê-los no Brasil, pois a maioria considera seguir carreira no exterior.
Neste ano, a USP destinou 200 vagas em mais de 100 cursos de graduação para o ingresso de estudantes participantes dessas competições. O edital para a próxima seleção, cujo ingresso ocorre em 2025, ainda não foi divulgado, porém a USP confirmou que manterá a modalidade.
Provão Paulista
Os estudantes do ensino médio matriculados em escolas públicas de todo o Brasil também podem recorrer ao Provão Paulista Seriado, criado no ano passado pelo governo do Estado de São Paulo. As provas são aplicadas a partir do 1.º ano, e até chegar ao 3.º ano o aluno acumula pontos anualmente para ter direito a uma vaga na universidade.
São 15.390 vagas, sendo 1,5 mil na USP; 934 para a Unesp; 325 para a Unicamp; 10 mil para as Faculdades de Tecnologia do Estado de São Paulo (Fatecs); e 2.631 para a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp).
Neste ano, 1.730 estudantes dos três anos do ensino médio farão o Provão em polos localizados na capital e nas cidades de Araçatuba, Campinas, Itapetininga, Ribeirão Preto e São Paulo.
Todos os 378 mil alunos do 3.º ano que fizeram o Provão no ano passado, quando estavam no 2.º ano, estão automaticamente inscritos e farão os exames previstos para os dias 30 e 31 de outubro nas próprias escolas. A escolha de cursos está disponível desde segunda-feira.
Só podem se inscrever pela primeira vez os que estão matriculados no 1.º ano público atualmente. Cada estudante pode escolher até oito programas diferentes em até quatro faculdades.
Os coordenadores destacam, porém, que é sempre importante colocar como primeira escolha o curso que se pretende realmente cursar.
Uma boa chance para estudar em Portugal
Desde 2014, é possível utilizar o Enem também para estudar na Universidade de Coimbra, em Portugal, uma das mais tradicionais da Europa. De lá para cá, outras instituições portuguesas seguiram a mesma trajetória e firmaram parcerias com o governo brasileiro. Atualmente, 35 instituições de ensino superior de Portugal aceitam o Enem para receber alunos brasileiros.
Por meio do acordo com o Inep, essas instituições conseguem consultar diretamente o desempenho dos alunos no exame. A Universidade de Coimbra, por exemplo, informou em nota oficial que já selecionou 2 mil candidatos brasileiros para cursos de bacharelado e licenciatura desde o início do convênio com o governo brasileiro.
Segundo a reitoria, a parceria permite uma "troca intercultural de grande relevância e uma outra forma de construir cidadania, respeito e dignidade pela troca de experiências, de saberes e de olhares sobre o mundo". "A presença de brasileiros na UC é motivo de grande orgulho e tem ajudado a transformar a nossa universidade para melhor", diz a reitoria.
Governo quer bolsa permanência para o ensino superior já em 2025
O ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou neste mês que o governo federal pretende criar já em 2025 uma versão para o ensino superior do programa Pé-de-Meia, que dá bolsas a alunos do ensino médio para combater a evasão escolar. Segundo ele, a iniciativa vai focar em universitários de baixa renda.
A medida tem aval de especialistas e faculdades. "A maioria dos jovens não ingressa no ensino superior por falta de informação e por questões econômicas", diz Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp. "Praticamente não existem políticas de acesso e de permanência no ensino superior. Atualmente, apenas 20% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados em uma graduação. As pesquisas já demonstraram a evolução que o ensino superior pode trazer em termos de empregabilidade e renda, além de aumentar a produtividade do País e reduzir as desigualdades sociais. É preciso incentivar o aumento do ingresso no ensino superior."
Recentemente, o Instituto Semesp lançou uma pesquisa mostrando como um diploma de nível superior amplia ganhos. O valor médio da renda bruta é de R$ 4.640 para quem possui ensino superior completo. Além da alta empregabilidade, a renda de quem já trabalhava antes aumentou 95,2% para quem fez curso presencial e 51,1% para quem fez curso EAD. "E quanto maior o nível de escolaridade superior, maiores são os impactos positivos. Quem tem pós-graduação possui uma renda média 44% superior em relação a quem tem graduação completa", diz Capelato.
Formato e limites
Em entrevista ao jornal O Globo, Santana afirmou que a proposta seguirá os mesmos moldes do que é feito no Pé-de-Meia. O programa prevê que o estudante que se matricular a cada ano no ensino médio receberá aporte inicial de R$ 200. Depois, quem frequentar a escola receberá nove parcelas de R$ 200, totalizando R$ 1,8 mil por ano. Na conclusão de cada ano, o jovem recebe valor adicional de R$ 1 mil, que poderá ser sacado integralmente só quando ele terminar o curso.
"Tem aluno que abandona (a faculdade) porque às vezes não tem onde morar", diz Santana. Mas a ampliação esbarra no Orçamento. O programa do médio atendeu inicialmente 2,4 milhões, ao custo de R$ 7,1 bilhões anuais.