Análise: Justiça joga famílias e escolas em limbo de incertezas ao suspender volta às aulas em SP
Decisões sobre retorno têm sido confusas desde o começo; autoridades precisam caminhar juntas para não prejudicar mais ainda a educação. Parar a escola é parar o desenvolvimento do Estado
O WhatAapp de mães e pais de São Paulo passou a tocar descontroladamente ontem no fim da tarde com a notícia de que a Justiça havia impedido a volta às aulas, marcada para segunda-feira nas escolas particulares e, nas semanas seguintes, nas públicas. E, mais uma vez, famílias já inseguras diante de meses e meses de pandemia e educação prejudicada foram jogadas em um limbo de incertezas e desinformação.
A famigerada volta às aulas tem sido confusa desde que foi pela primeira vez aventada no segundo semestre de 2020. O Estado decidiu que as escolas estariam liberadas em setembro, a Prefeitura falou em outubro. Depois não seriam mais aulas e, sim, as tais atividades extracurriculares que muita gente não entendeu até hoje. Aí, o ensino médio foi autorizado em novembro a ter aulas de verdade, mas os menores, não.
Virou o ano e finalmente Estado e Prefeitura pareciam começar a caminhar juntos. Ambos autorizaram que as escolas particulares começassem dia 1º de fevereiro com aulas e todos os requisitos de segurança. Governos providenciaram reformas, kits com máscaras e álcool gel, escolas passaram a organizar o rodízio de alunos para manter o distanciamento. Confundiu um pouco novamente o fato de o Estado adiar o retorno das escolas estaduais para dia 8 e a Prefeitura para o dia 15, mas a impressão geral era que estava tudo acertado.
E aí surge uma juíza, respondendo a pedido de sindicatos de professores, querendo marcar um gol aos 45 minutos do segundo tempo. O problema é que não se trata da final do campeonato. Instituições e autoridades não deveriam estar em disputa quando se fala da vida de milhões de estudantes paulistas. Assim como escreveu a promotoria em parecer do Ministério Público para a mesma juíza neste caso, o judiciário precisaria promover a conciliação e o diálogo.
Mães, pais e professores (claro que há muitos que querem voltar) estão paralisados. Crianças esperam com as mochilas prontas nas costas. Até os que pretendiam continuar em casa são prejudicados porque todo o planejamento tem que ser reformulado. Escolas já tinham organizado a parte que seria presencial e o que seria remoto - agora, de repente, todo mundo vai estar online.
Sim, estamos diante de uma pandemia sem precedentes, mas muito já se experimentou e se estudou desde que o vírus apareceu na China. O mundo aprendeu - com pesquisas e na prática diária - que a transmissão da covid nas escolas é baixa e que, entre crianças, ela se dá muito mais em outros ambientes não controlados. E não se vê a Justiça impedindo shoppings, bares, restaurantes, parques de diversão e academias de funcionarem.
As escolas em São Paulo, inclusive as públicas, é bom deixar claro, aprenderam como se proteger e executar a educação com segurança durante a pandemia. As que abriram no ano passado, públicas e particulares, não registraram praticamente nenhuma transmissão da doença. Quando apareceu, veio de fora e não contaminou outros alunos ou profissionais.
E quantas vezes é preciso repetir que os prejuízos para as crianças e adolescentes são gigantescos em uma vida sem escola: cognitivos, emocionais, nutricionais, de sociabilidade. São 11 meses sem ensino presencial. Ainda mais em um país cuja educação está a anos luz de ser satisfatória para a maioria da população, mesmo quando é oferecida diariamente, presencialmente.
O risco maior é outro. Tirar a escola não vai acabar com a covid no País ou em São Paulo. Todos sabem que ela se prolifera em encontros sociais ou de negócios, nos bares, restaurantes, no comércio, que continuam a toda para manter a economia funcionando. Isso poucos se levantam para gritar contra. Mas educação também é um dos pilares mais importantes do desenvolvimento. Paralisar a escola é paralisar a evolução do nosso Estado, do nosso País.